" Bati com os cornos na parede"...Uma frase de certeza dita após manobras apertadas...
Para uns um modo de vida, para outros uma heresia. O que leva alguém a "produzir" um veículo com estas características? Quais as motivações que estão por detrás destas criações, e quais os critérios envolvidos? Para tentar saber um pouco mais sobre isto, conversei com alguns proprietários de modelos "Rat", disciplina automóvel ainda pouco difundida, quase como Tabu, a medo, por entre os encontros que tenho frequentado.
Será por falta de dinheiro para recuperar decentemente o veículo? Não necessariamente. Porque parte-nos a cabecinha toda, ver uma carrinha raríssima como uma Samba, completamente ferrugenta e mesmo parcialmente incendiada, mas com umas brutas dumas jantes especiais e um motor recente modificado. Num sentido lato, o conceito " Rat", começou a aparecer na cena Mundial nos anos setenta, muito com a "culpa" da trilogia Mad Max de Mel Gibson, e com a literatura pós-holocausto nuclear tão em voga no início da década de oitenta. A idéia de um veículo sobrevivente utilizando peças de outros, e apetrechado com utensílios e ferramentas necessárias para uma luta diária em território hostil e inóspito,com a estética relegada para segundo plano, alimentou o imaginário dos entusiastas deste tipo de transformação por muito tempo, chegando até aos dias de hoje.
Catálogo Robbialac Ref. 2231 : Cigano look
No sentido restrito do termo, e de acordo com as opiniões que recolhi, produzir um veículo "Rat", tem uma origem social: Com o crescimento da cena clássica por todo o lado, cresceram igualmente as "Organizações","Federações", " Confrarias", "Clubes" e " Associações" nacionais e internacionais, que de repente resolveram decidir como e quando devemos usufruir dos nossos veículos. Algures, alguém com uma barba e um cachimbo, vestindo um fato, decide se o nosso carro é um classico ou não, de acordo com o tipo de parafusos que temos a segurar a matrícula. Algures, há sempre um grupo de pessoas que quer sempre dizer aos outros como deve e não deve fazer. Como não conseguem mandar em casa...De repente, o simples entusiasta que considerava os encontros de veículos como um sítio "livre" onde pudesse trazer aquilo que de melhor pôde arranjar, ou seja, a sua modesta e ferrugenta montada, ficou refém da opinião dos "técnicos".
Aviso válido também para os "técnicos" dos encontros...
Os encontros, passaram então a ser uma espécie de "tribunal" onde qualquer escorrido de tinta ou espelho lascado seria punido com um franzir de olhos. Em vez de um encontro de idéias, passou a ser um aglomerado de pessoas com lupas a coçar o nariz.Assim, o fenómeno "Rat" é sobretudo uma contestação visual. Um Grito mudo de insubordinação, de alguém que apenas quer gozar em Paz o seu veículo. Um "manguito" ás normas e à sociedade que se intromete no espírito do indivíduo. Um movimento "Punk" sobre rodas.Produzir um veículo "Rat", envolve estudo e planeamento, ao contrário de que muita gente pensa. Longe de serem veículos desmazelados ou pouco fiáveis, muitos dos "Rat" percorrem milhares de quilómetros mesmo em deslocações ao estrangeiro, o que muito atesta a sua fiabilidade.
Encomende já o catálogo VW 2010...
O propósito do "Rat" é chocar. É atraír as atenções. É obrigar as pessoas a parar e a pensar. É como um acidente na estrada: Temos de parar e olhar. E tirar as nossas conclusões. Os "Rat" são de longe os veículos mais fotografados dos encontros, e uma mais valia visual para cena. Produzir um "Rat" diz também muito do seu proprietário. Só uma personalidade forte decide ir contra a maré da opinião e da maioria, e fazer o seu próprio "statement". Respeito-os por isso. O resto, já sabemos. Haverá quem goste, e quem não goste. Indesmentível, é o facto que a contestação social atinge sempre diversas e estranhas formas,e não se deixar pisar por causa de franzir de sobrolhos . Em última análise, é até disso mesmo que se alimenta. No dia que o conceito "Rat" fôr mainstream ou consensual, morrerá. Até lá,o "Rat" veio para ficar. Habituemo-nos...
Os participantes dos encontros VW portugueses, estavam cada vez mais a sentir na pele o preço cobrado nas inscrições...
(A propósito: Estas fotos são da Vanfest, deste último Fim-de-semana. A maior manifestação de Pães-de-forma do Mundo. Um post já a seguir...)
No comments:
Post a Comment