Wednesday 4 August 2010

Aprender a voar nos Estados Unidos -Prós e contras.


Por : Mike Silva Textos e fotos


Os anúncios de escolas americanas a proporem cursos de piloto particular ( PPL), com preços francamente mais baixos, seduzem de imediato: Pelo preço de um Renault Clio em segunda mão podemos tirar o PPL, com alojamento incluido, numa escola inundada pelo bom tempo e céu limpo da Flórida. Perfeito.
Aprender a voar em certos países como Inglaterra, é um exercício que coloca os nervos à prova, em que muitas das vezes nos deslocamos ao aeródromo a algumas dezenas de km de distância para no local recebermos a notícia de que o tecto de nuvens está muito baixo ou o vento lateral está muito forte, e a única instrução que iremos ter será na sala de aulas. Bolas para isto! Vou para os Estados Unidos que lá é mais barato e está sempre Sol. E depois ainda faço umas feriazinhas com a família, é um dois em um perfeito. Sendo assim porque será que não existem enchentes e enchentes de interessados a rumar aos EUA? Será mesmo assim?


Aprender a voar nos EUA tem um apelo emocional e semântico a que não conseguimos ficar indiferentes. Mas há que ponderar...



Há sem dúvida vantagens de tirar a licença PPL nos Estados Unidos, mas há também um sem-número de desvantagens. O preço é sem dúvida um factor importante, que inclui alojamento , mas a opção de "curso intensivo de algumas semanas" que vem associado a ele tem de ser ponderada, porque batalhar para passar um curso complexo em apenas umas semanas não é para qualquer mente. Principalmente se a última vez que vimos uma escola foi há cerca de 20 anos. Tinha de tudo correr bem, sem contratempos e sem falhas, e sim, com bom tempo também. Os EUA são pródigos em nos fornecer tempestades e furacões fora de época, principalmente na Flórida. E quanto às "férias de Família", é para esquecer: De modo nenhum se consegue " encaixar" uma visita à Disneyworld ou a Daytona, num programa de ensino tão apertado, onde toda a concentração é necessária.

Um exemplo típico de mais um dia de instrução em Inglaterra...


A questão do Clima, é também importante. De facto, a Flórida proporciona céu limpo e dias seguidos de bom tempo para voar. O problema é que uma vez voltando à Europa ( Inglaterra) as condições que iremos encontrar serão muito diferentes daqueleas em que aprendemos, e muitas das vezes iremos encontrar dificuldades em lidar com o péssimo clima inglês. Muitas companhias de seguros aumentarão os prémios se a instrução tiver sido efectuada nos EUA, e muitos clubes e grupos de proprietários exigirão que tenhamos mais treino.

Outra das lacunas do ensino americano, tem a ver com a paisagem americana da Flórida. Tudo basicamente plano, sem grandes relevos ou marcas que ajudem a navegação. Grande parte da aprendizagem e desenrolar do vôo decorre em ambiente visual VFR , em que é imprescindível a identificação de marcos ou pontos de orientação para navegar . Aprender a voar num ambiente sem relevo e sem marcos identificativos, não é grande ajuda para os testes onde é preciso compreender a navegação tradicional, essencial para passar o teste PPL.

Como nota final, convém certificarmo-nos de que a escola que escolhemos é de facto JAR approved, pois pode não ser. Nestes cursos intensivos é normalmente pedido que se pague o curso adiantado, algo bastante perigoso em caso de falência da escola, ou de não gostarmos do ambiente. Devido às preocupações acerca do terrorismo nos EUA, sempre que escrevemos na aplicação para o visto " tirar licença de PPL", as autoridades entram logo em alerta e apenas nos deixam tirar o curso na escola escolhida. Estaremos presos a essa escolha, quer queiramos quer não.



Um nevoeiro à maneira, num dos meus vôos que apareceu do nada!... Inglaterra é o único país da Europa que possibilita os interessados tirarem um IMC rating ( Instrument and Meteorological Conditions ), um curso resumido que nos ajuda a lidar com a deterioração súbita das condições climatéricas utilizando instrumentos. No resto da Europa é necessário frequentar o dispendioso IR ( Instrument Rating)

Eu ponderei isto muito bem antes de ter iniciado o meu treino no Reino Unido. Não me arrependi da escolha que fiz. O ensino no Reino Unido é ligeiramente mais caro do que nos EUA, mas em contrapartida é um ensino bastante aturado e técnico, em que praticamente cada vôo tem uma componente de "emergência" e se desenrola com ventos laterais, chuva intensa súbita, mudanças meteorológicas abruptas como Sol e céu limpo e passados dez minutos trovoada e chuva torrencial, aterragens em relva e alcatrão, e um sem número de aeródromos circundantes à distância de uma hora de vôo para treino ou para aterragens "forçadas". Uma recruta dura implica um " combate" fácil mais tarde.
( O preço intensivo de um JAR -PPL na Flórida nos Estados Unidos com a duração de um mês, INCLUINDO ALOJAMENTO e válido na Europa anda por volta dos 5000 Dólares... )