Wednesday 30 April 2008

Mike Silva -Entrevista à BBC 1


Vim para Inglaterra decidido a fazer algo de novo, e a trabalhar árduamente numa área que seria impossível de trabalhar em Portugal. A abertura de mentalidade, o espírito inovador e a vontade de vencer, estão permanentemente á minha volta, e acabaram por me "arrastar" num turbilhão de mudanças.


O trabalho que tenho vindo a desenvolver no universo da escrita relacionada com o automóvel e com outros assuntos de âmbito social, criou algum interesse dos media nacionais ingleses, nomeadamente da BBC1 que enviou a jornalista Liz Copper para fazer uma reportagem com o mentor do " Sala das máquinas".


Não sei que portas se me abrirão no futuro, mas estou disponível para colaborar ou desenvolver projectos de media relacionados com o automóvel. Existem hipóteses, mas estão actualmente em cima da mesa. Tenho projectos para apresentar em canais portugueses, mas como sempre encontro muita resistência.


Tenho uma vontade enorme de fazer algo para o meu País, mas se não puder ser, se continuar a esbarrar em portas que se me fecham sistemáticamente, não tenho outro remédio senão trabalhar para um público inglês.


Obrigado a todos aqueles que ao longo deste tempo sempre me souberam dar uma palmadinha nas costas, e me dar alento. Nunca vos esquecerei.


Saturday 26 April 2008

Bentley Continental Spur

Um Bentley , pertencente à fábrica, em Crewe! Melhor do que isto...

Podem dizer que é um Volkswagen, podem dizer que a única coisa inglesa no carro é o ar dos pneus, que nada disso me interessa. Estar aos comandos deste palácio sobre rodas, é uma experiência religiosa, diria mesmo fundamentalista. Um Bentley não se questiona: venera-se.

A fábrica da Bentley em Crewe, foi onde comecei a minha aventura automóvel em Inglaterra. Hoje, voltei a Crewe por outros motivos sociais, e reencontrei um velho amigo de sempre. O tal, que em 2005 ainda era um modelo pouco difundido, e se encontrava resguardado do alcance do público.


Gostaria de pensar, que o sussurar do potente W16, fôsse como quando o gato da vizinha me vê chegar todos os dias, e desce do muro para se vir roçar nas minhas pernas , enquanto abro a porta. O Continental Spur, não sei porquê, mas parece-me bastante familiar e despretensioso. Não tem aquela postura do primo afastado Phantom , de que " Não se dá com a populaça". O RR é como um Poodle escovado e com pedigree, e o Spur um Exclusivo Golden Retriever de um milionário que lambe a mão ao carteiro.


Apenas conduzi um Spur em 2006, num breve percurso próximo da fábrica de Crewe. Tal como o Veyron, a sensação de que podemos estar a estragar os estofos com o nosso vestuário, persegue-nos violentamente. As cores e os cromados subtis estratégicamente colocados em redor dos ocupantes, avivam-nos os sentidos, e é como se estivessem ali para nos lembrar permanentemente da experiência rara, que é por momentos estarmos de posse de semelhante jóia do mundo automóvel.
Mesmo o simples acto de seleccionar o "D" da caixa automática, reveste-se de um significado sobrenatural, como se não estivéssemos a engrenar uma mudança, mas sim a chamar à terra os deuses da potência e do binário. Com efeito, o gargarejar abafado do único motor W16 do mundo, ele próprio um capricho luxuriante de uns magos eremitas fechados numa sala em profunda veneração pela tecnologia,transporta-nos em Warp 5 para um mundo em que mesmo as leis do Homem e da circulação rodóviária são brutal e selváticamente relegadas para segundo plano.
Por momentos, não somos utilizadores da estrada, mas sim meros servos engajados pelo Além para manejar este instrumento avassalador enviado pelos céus .
O pedal do acelerador movimenta-se debaixo do pé , como se de uma reluzente maçã envenenada se tratasse. Um pouco mais, e seria tolhido pelo pecado. Um pouco menos, e não me sinto saciado. A cada segundo , o bom senso e os neurónios lutam entre si para evitar que o descalabro, o êxtase, surjam em forma de uma aceleração brutal.
Guiar este carro, é o equivalente terreno a acordar numa Penthouse no cimo de um prédio na 5. Avenida em New York.




Há algo de familiar naquele carro. Algo que não consigo explicar. Serão as suas linhas consensuais e tradicionais, como que um esforço titânico para passar despercebido, mas com uma eficácia semelhante à de ter a Gemma Atkinson a passar em frente a um prédio em construção na hora do almoço. Ou será o capricho de importarem material da Alemanha para continuarem a fazer um topo de gama no meio de uma região rural da Inglaterra central? Não sei.

O que sei, é que reencontro um Spur, é como se encontrasse um amigo que não via há muito. Não me assustam as suas jantes de cinco mil contos o conjunto. Foi dos primeiros carros topo de gama que contactei e conduzi em Inglaterra, e isso se calhar deixou-me um sorriso de nostalgia. Como se fosse um irmão mais velho que me tivesse levado pela mão, e dissesse: " Olha, este é o fabuloso mundo dos carros exclusivos, sê bem-vindo."




Sei que jamais poderei possuir um Spur, e mesmo que tivesse essa oportunidade, provavelmente não o faria. Continua a ser um desperdício de dinheiro, comprar um carro já feito. Com esse dinheiro, podem estar certos que construiría o meu próprio carro. Com um V12, e com o tejadilho à altura do meu cinto. Com quatro escapes em que se podia enfiar uma garrafa dentro de cada um deles. Aquecimento global? Isso até dava jeito para estes lados... Que tal Transmig V12?
Boa viagem, Spur. A gente vê-se por aí...

Wednesday 23 April 2008

Driving in the "wrong" side of the road

Biggest I ever drove? Not a chance. I also had a go on a Olympian 11000 cc.


This topic comes with an extra amount of inspiration...I just did roundabout anti-clockwise before I got home!
I Drove for more than twenty years whitout a major accident. The odd smashed indicator, I must admit, but generally I thought I was a great deal of a Driver.What an illusion. Suddenly , when we start attacking the roads of England, we become worst than a daft braindead Sunday driver.Terrible!

The most laughable part, is that I keep reaching the nearside door of the car, as I was used to.Then I miss the steering wheel ! This of course generates giggles from everyone, and I have no other option but to go around the car , my head down covered in shame, and get the hell out of there as fast as I can.

When we first arrive in England, it is only natural that we dont have a car, unless we brought one from our country. Daft thing one should try to do I must say, given the appetite for destruction of the poor anti-social souls that improvise all sorts of wrongdoings just because they are bored. A foreigner car left unattended in an isollated area would provide them a white canvas upon they could express their frustration. And then there is the driving itself, where we would have to overtake stopped buses and lorries completely blind, and alight passengers directly to the middle of the road. No. For some reason, it doesn´t appeal to much.It wont do.

So, there is only one vehicle left , which is the most popular mean of transportation to a newcomer in Brittain: The pushbike. This is an excellent introdutory vehicle to whoever wants to start driving on the "wrong" side of the road. In case of starting our journey on the opposite side of the road, as we would do in our country, or entering a one way system by the wrong end, we have the opportunity to jump immediatly to the sidewalk whitout being runned down by a doubledecker or whitout destroying the corner shop in the process.

This is how I came up with a simple way of remembering which is the correct side to drive in each country: Cars, lorries and buses are designed to allow passengers to alight directly to the sidewalk. So, I created a simple sentence, which I keep in my mind all the time when i'm driving: " Give him the kerb" . So, if I keep the car on the side of the road that would allow my side passenger to enter or alight from the kerb, I would be allright. Of course, this is only valid if I'm driving a right hand driving car in Brittain.Or a Left hand drive one in the continent.

As the time went by, my legs and body were starting to take the toll of early morning freezing and raining journeys to work. So I decided that I certainly wanted to get my hands on any old banger that would be able to haul me from A to B. I managed to find a free Vauxhall Cavalier which was doomed for scrap, after had caught fire on the wiring loom and had the windows put trough so the yobs could nick the wireless. As an automotive engineer, I was able to troughouly repair it on my back street, and it provide me thousands and thousands of reliable motoring for my first couple of years.

There I went, reaching everytime for the nearside door, and if not, start performing all sorts of nonsense once at the wheel. I would relentelessly scratch my right fist on the door looking for the gear selector, opening the passenger power window, and indicating with the wipers. More than often, a very angry bald driver would make unkind gestures towards me and summoning me back to my homeland, just because I happened to be traveling dangerously on his direction. How inconsiderate of him!

Then, in one of the thousand different roundabouts you are bound to find, I struggled to interpretate all the different arrows in the pavement and make up my mind. How easy it is in the continent! Just go around , the closest possible to the kerb, and go out in the exit you want.How difficult can that be? Here, no way. You must go inside, and then, in the last minute pull to the outside of the roundabout to exit. So, I have all sorts of drivers honking at me furiously, and overtaking me. Good. Now I can follow them!

The spooky and menacing grinding noise that came from the gearbox, kept telling me that my left arm was still trying to come to terms of being used so often. Normally, I would only use it to open the door. Damn. Not even when I was twelve, and had a go with an old Renault 12 with my mates I remember driving so badly. What a complete useless thick driver!
The traffic lights, strangely change from red to yellow, before the so much waited green. Not as I was used to back in my end of the woods, where the green would appear like a lightining bolt, originatting a fierce fight to see which driver was the fastest. And loads of horning. So, when I first saw the yellow, there I was stopping, only to find that was actually changing to green, and everybody was storm passing me.

I would strongly encorage everybody that would want to drive in Brittain, to buy a copy of the Highway code. Its amaizing what you could still learn.
Just to end: I read somewhere that driving on the left side of the road was originally because of the carriage drivers using the whip with the right hand that would caught the pedestrians. Nowadays, there are dozens of countries that still drive like England, and practically every major car manufacturer provides Right Hand Drive models on their ranges.Nevertheless, in the continent we still drive in the "right" side...

Tuesday 15 April 2008

Motorizadas portuguesas-O património sempre desprezado!

Estes motores propulsionaram um País!...





Basta falarmos de Zundapp ,Casal ou Sachs, para nos vir logo à ideia uma tasca e uma motorizada parada à porta, com um capacete Motassis pendurado num espelho retrovisor ferrugento.

Ou então, para recordarmos aquele ritual estranho nas bombas de combustível, onde o funcionário de mala á cintura dava "à manivela" num bidon estranho, que vomitava gasolina encarnada para dentro de um tubo transparente, enquanto uma motorizada esperava pacientemente com um condutor de mangas cavas e capacete empoleirado na cabeça, enquanto fumava um SG cravado ao pendura. ( Sim, fumar nas bombas,era "facultativo")


Em seguida, tanto na tasca como na bomba, um barulho ensurdecedor EEEEEEEEEE irrompia pelas imediações, acompanhado de um fumo azul, é perdurava até muito depois do veículo ter desaparecido no horizonte. Já tinham passado dez minutos, e ainda podíamos ouvir a Sachs a evoluir alegremente pelo monte acima, lá ao fundo...

Isto tem um senão.. Estes veículos sempre foram conotados com proprietários de baixos recursos, que uma vez ,eventuamente libertos do estigma de ter de andar com a família toda na motorizada, debaixo de chuva e de um oleado, jamais quiseram ouvir falar de tal engenho. O uso de motorizada como meio de locomoção básico, é um episódio para esquecer, agora que se encontram ao volante de um "digno" AX ou Corsa...

Por outro lado, o entusiasta de veículos clássicos, como qualquer ser humano, tem tendência a idolatrar o que vem de fora. Nada mais natural. Muitos ingleses acham certos modelos de BSA e de Triumph " rubbish", e preferem modelos de outros países.Japonesas principalmente.Porque não querem voltar a ser conotados como protagonistas de tempos difíceis e de escassez.

Basicamente, o problema das motorizadas portuguesas, é que não conferem prestígio. A maioria prefere dirigir as suas atenções para motos estrangeiras dispendiosas, pois estas são consideradas símbolos de posição social . Ter uma BSA de mil contos, não chega se calhar para aparecer na "Caras", mas já dá para chamar uns "Dr." e "Eng." para a conversa. Ou mesmo ser confundido com um.Uma Casal não.

Em Inglaterra,porém, acontece o inverso. Mergulhado que está o mercado em motos inglesas, é com satisfação que os entusiástas se amontoam em redor de algo "novo", e algo nunca visto. E mostram-nos que nós somos por vezes os maiores inimigos de nós próprios, não nos apervcebendo do valor que temos em mãos.

Para restaurar uma scooter que trouxe para Inglaterra, tenho comigo um motor Zundapp, que diz orgulhosamente numa chapinha " Fabricado em Portugal". Não queiram saber o burburinho! Coleccionadores a maçarem-me com perguntas acerca do fabrico de Zundapp em Portugal, acerca de modelos, e se ainda se pode adquirir algum. Tiram fotos com o telemóvel. Mostro-lhes fotos de motorizadas do "Zé das Couves", e eles deitam as mãos à cabeça. Querem uma daquelas!


Temos de melhorar a nossa auto-estima, e perceber que também nós tivemos uma indústria competente e que motorizou massas, e que serviu na medida das possibilidades de um País de fracos recursos, uma vasta fatia da população.Isto em tempos em que não havia cá subsídios da CEE, nem computadores.

Estas motos de fabrico nacional, deram de comer a muita gente, e em localidades com um autocarro de dia e outro à noite eram a diferença entre poder ir para o trabalho com uma marmita cheia de batatas cozidas, ou não ir.

Estes veículos eram extremamente bem construíds, robustos, e á prova de bomba, sobrevivendo a todo o tipo de mau tratos, chuva, intempéries, gordos de 120 quilos em cima,mudanças directas,má lubrificação , acidentes e despistes ( pois as motas não carregam vinho) e desprezo generalizado. O que muitas destas motos sofreram, envergonharia um tanque T34 em plena campanha de 1944.




Sem luzinhas ou apitos! Apenas o olhar focado num futuro melhor...

Temos de respeitar a nossa herança metalúrgica e industrial, fazendo o possível e o impossível para tentar salvar o máximo de modelos e unidades destas máquinas recheadas de História, de suor, de lágrimas e de luta. Não podemos entregar estes exemplos da nossa História recente, aos putos para partirem a fazer piões. Já parti algumas, infelizmente. Mea culpa. Quem me dera que alguém me tivesse posto palavras sábias na altura... E se calhar não tinha "malhado" tanto...

Eu e a "quatro latas"...


Como sempre, não podia vir para aqui falar de cilindradas e potências, e o Renault 4 assim e o Reanult 4 assado. Foram fabricados X, na fabrica Y, com os motores A e B, etc. Venho aqui falar sobre o modo como encaro a Renault 4 como veículo, e como fenómeno.

Cresci a ouvir gabar a Renault 4. Que era um pau para toda a obra, que levava desde tijolos a sacas de batatas, e que só acabava a sua "comissão", quando estivesse com o motor a cair no chão, ou sem fundo. Passei toda a minha vida, a ver "Quatro latas"nos Bombeiros, na Câmara Municipal, a carregar fiscais barrigudos para cima e para baixo, a ver a companhia dos telefones e da electricidade a arranjerem postes, e gajos das obras cobertos de lama a estacionarem-nas ao pé das JCB junto aos contentores que serviam de escritório nas obras.

Uma "Quatro Latas", não era carro que uma pessoa comprasse para a família. Isso era como hoje comprar uma Berlingo de dois lugares para o mesmo fim. Quer dizer, há quem o faça, mas não é logo a primeira coisa que nos vem à cabeça quando pensamos numa Renault 4.

Nos anos setenta e oitenta, o grosso das empresas tinha R4 nas suas frotas. Por isso, coube ao meu Pai uma. Novínha em folha. A matrícula era DU. O cheiro a napa, que só os carros novos tinham, fazia daquele objecto de luxo, algo com que o Simca 1301 não podia competir. Por isso, eis que o meu primeiro carro novo " a estrear", foi um Renault 4. "L", claro. Chamam "Quatro L" a todas a R4, mas isso é uma enormidade, porque havia muitos "4", que não eram "L". Assim como haviam muitos Minis que não eram "Cooper S", e ninguém anda por aí a dizer que teve um "Mini Cooper S", por dá cá a quela palha. Mas pronto.

Havia mais R4 na empresa. Principalmente 4 FV, as "Furgunetas", estas sim, as "Renault 4 para trabalhar". As "Berlingo" do tempo dos enchumaços dos ombros e dos "Wham!" As empresas comunicavam por CB, e por isso, era "baril" ( Ou buéda fixe) um gajo ir a guiar e a empunhar o microfone em pose policial. Ninguem vinha cá multar por causa dos telemóveis. Era vir a guiar desde a Costa da Caparica até ao Centro Sul, só com uma mão, e ninguém morria por causa disso.E claro, com uma antena do tamanho do Cristo-Rei no tejadilho...
Os anos passaram-se. Muitos mesmo. As sedutoras R4 empresariais de cheiro a napa nova, eram agora meros carros abandonados debaixo de arcadas de prédios, e estufas onde as velhotas punham comer para os gatos. As Câmaras municipais, por intermédio desses parasitas frustrados, conhecidos por GDC ( Gajos da Câmara), entretinham-se a comercializar sucata pela porta do cavalo, vendendo carros rebocados compulsivamente da porta das pessoas. Subitamente, os sucateiros estavam pejados de "quatro latas".

O modelo destas fotos, veio parar ás minhas mãos, porque eu precisava de um ATRELADO!
" Epá, eu tenho uma Renault 4, há malta que as corta para fazer uns atrelados, podes ficar com ela..."Quando a fui buscar, vi que não podia cortar um modelo dos ultimos de 845 cc e de tablier dos antigos. Nem pensar. Além disso, o cheiro a napa, ainda parecia estar presente...Havia que salvar aquele exemplar.

Assim, não olhei a meios para recuperar de cima a baixo este exemplar, e instalar-lhe uns extras . Como ignição electrónica, volante Alpine, Jantes Rinaud ( Especialmente de França), e uma grade no tejadilho. Apesar de ter recuperado e testado o motor de arranque, este "empacotou" pasados uns meses, e deixei estar. Só quem tem um R4 com 845 cc, sabe o trabalhão para tirar um motor de arranque. Até o escape e o apoio do motor tem de sair! E a montagem completa do travão de mão!

Andei com este carro, por todo o País, e fui tolo o suficiente por me juntar a "clubes" que começaram muito bem, mas depois sucumbiram aos "doutoures", e só quem tinha uma Renault quatro com muito dinheiro gasto , e tinha um "dr" no Multibanco,é que era bom. A malta que ia alí com um betumezito no guarda lamas, era para "queimar" . A subida das quotas para valores mais altos do que um sócio do Rolls Royce club of Midlands paga por ano, desmotivou muita gente.

Por isso, esmoreci um bocado com o Renault 4.Está aí para baixo, dentro de um barracão. E há-de ficar.Prefiro largar-lhe fogo, do que colocá-la nas mãos de um burgesso endinheirado qualquer. Aquela, não vão cromar os parafusos da matrícula...

Um carro do povo, para a malta ir fazer uns picnics ao Alentejo, raspar a pintura nuns arbustos, e assar umas febras, tornou-se num brinquedo para ricos, para doutoures e endinheirados poderem gastar ali o dinheiro como se fosse um Jaguar E.

" Ai, estes parafusos da suspensão estão todos cromados!!

Pois estão! ...Mas onde estão os meus amigos daquelas tardes de Verão dos encontros gratuitos e das amizades que perduraram até hoje? Felizmente, ali para os lados dos Moínhos da Funcheira, alguém se lembrou de repôr a ordem...tirar a quatro latas das mãos dos "engenheiros" para devolvê-las ao povo.

Saturday 12 April 2008

Banger Racing-Os gladiadores do Asfalto



Veja Video da autoria da "Sala das Máquinas" no Youtube




Este é um tema controverso, que muitos não gostam de discutir. Acham " desperdício" estragar carros assim para fazer corridas até partir. Até acabar. Acham mal descascar um carro que possívelmente daria para recuperar, e utilizá-lo para andarem a bater uns contra os outros.


...E têm muita razão!


Mas estes carros não encontram interessados para os recuperar, e estão ás centenas senão milhares espalhados pelos ferros-velho e oficinas anos e anos a fio, sem ninguem lhes tocar.
Mesmo aqui a METROS de onde eu vos escrevo, jazem dois Jaguares, um seis cilindros e um XJS V12, completamente à chuva com os vidros partidos. E um Carocha. E um Minor. E um Land Rover...Não tarda muito, vai tudo para o lixo, se é que já não foram...

Por isso, já sabem: Se estas imagens vos incomodam, e se sentem um aperto no estômago por verem este espectáculo de destruição, têm um bom remédio: Comprem uma passagenzinha de avião, e tragam meia dúzia de tostões para salvar um destes carros.

É que estas são imagens de apenas UMA prova, de entre as centenas que se realizam todos os anos, por todo o Reino Unido.


Imaginem o desperdício...


Wednesday 9 April 2008

Os tractores carregados de tomate do Ribatejo




As autoridades e os especialistas bem falantes que vão amiúde à televisão, além de se referirem a nós pelo termo fatela de "senhores automobilistas", não percebem nada do assunto no que toca a identificar a causa dos acidentes em Portugal.

Muitos apontam o álcool, o excesso de velocidade ou o a idade do parque automóvel como culpados da alta sinistralidade das estradas portuguesas. Nada disso. Querem saber quem são os culpados? São os tractores carregados de tomate no Ribatejo!


Eu explico: Para quem tem a sorte de não ter de conduzir pelas estradas do Ribatejo, é muito fácil simular a sensação de conduzir atrás de um tractor carregado de tomate no Ribatejo: Comece por tapar completamente o pára-brisas com um pano laranja, e em seguida encha o Tablier de tomates. Depois, ligue o aspirador ao isqueiro de modo a fazer um barulho irritante monocórdico. Para finalizar, circule a 21 Km/ h numa estrada de dois sentidos.
Assim, conseguirá ter uma idéia aproximada do que é seguir atrás de um tractor carregado de tomate no Ribatejo. Mas afinal, em que é que isto é perigoso?-Perguntar-me-ão. Até faz com que não haja excesso de velocidade...


Certo. Mas quando o automobilista português ,habituado a circular a cento e sessenta dentro das localidades, e a "mandar faróis" para cima de quem quer que se atreva a utilizar a faixa da esquerda à frente dele, mesmo que esteja a dois quilómetros, fica impossibilitado de ultrapassar um tractor carregado de tomate do Ribatejo ( principalmente por ,no sentido contrário, se deslocarem outros tractores carregados de tomate),acontece uma de duas coisas:
Ou consegue ultrapassar, e fica imediatamente atrás de outro tractor carregado de tomate.
Ou não consegue, e choca de frente contra um tractor carregado de tomate.


Na pior das hipóteses, poderá colidir com alguém que circula em sentido contrário , e que fez uma ultrapassagem desesperada a um tractor carregado de tomate.Os motoristas dos tractores carregados de tomate no Ribatejo desdenham de todos os outros veículos, que circulam alí nas estradas "deles". Por isso raramente fazem sinal para que póssamos ultrapassar. Mesmo quando entram nas estradas, vindo dos campos enlameados, entram nestas como se fossem uma extensão da sua propriedade, não sinalizando e largando matacões de barro no alcatrão, que por si só também originam acidentes.

O motorista do tractor carregado de tomate do Ribatejo gosta de terminar a sua actuação ocupando toda a largura da estrada para fazer a manobra( sem sinalizar) para (finalmente) entrar na fábrica de processamento de tomate. A partir daí, a estrada livre assemelha-se a um autódromo, com a fila interminável de veículos a esgotar as rotações e a ultrapassarem-se como se não houvesse amanhã. Em poucos minutos a fila de carros que sobreviveu ao desespero e aos acidentes, evolui livremente pela estrada estreita.

Não sei se existem outras zonas no país onde circulem estes monstros vagarosos queimadores de nervos, mas penso que não interessa, pois aposto que nas estatísticas, muitos dos acidentes nacionais devem ser nesta zona. Se algum dia eu quiser me deslocar no Ribatejo nem que sejam 20 quilómetros, podem estar certos que farei 180 pela Auto-Estrada se fôr preciso, para ir dar a volta e para não ir atrás de um tractor carregado de tomate. Tenho mais hipóteses de me despachar...e de chegar vivo.

Sunday 6 April 2008

As fabulosas oficinas de Duxford

Blackbird SR 71
Sabem o que me apetecia fazer? Era atar um destes motores a um Renault 4 e ir para a "Vasco da Gama" com um telemóvel... ( Hey, I,m only joking here!...)




Um Gloster Gladiator de 1938 reparado ao milímetro! Não ficou peça sobre peça!






Existe um lugar, onde as gloriosas máquinas voadoras de outrora são recuperadas ao milímetro, para regressarem aos céus. Tudo feito por voluntários e entusiástas...

Não há necessidade de falar muito sobre isto, as imagens com legendas falam por si. Estas oficinas estão abertas ao público, que apenas tem de ter cuidado com os trabalhos a decorrer, e com algum barulho estranho, como um Spitfire sem colector de escape a ser testado.





O primeiro concorde do mundo a voar, está aqui, e pode ser visitado.








No caso de estarem a perguntar, sim, cheira um pouco a mofo...



Um Vought Corsair F4U da marinha dos EUA, em testes. Um dos poucos na Europa em condições de vôo.






Um Mil Mi 4 " Hound" soviético trazido do Afeganistão nos anos oitenta. Está à espera de "vez" na oficina...








Brincavam com "Legos" quando eram putos? Então isso basta para trabalharem como voluntários em Duxford...




Uma vez recuperados, estas aeronaves fazem vôos de recreio para visitantes.Eis um deHavilland Rapide de 1936.( Com dois motores de automóvel!)




Este irá ser o único Handley Page Victor a voar no mundo. Actualmente, a ser vistoriado por técnicos da Rolls Royce e da RAF...À borla!





Sim, mais "Legos" para montar...um MIG russo! Voluntários precisam-se...








Espaço para guardar um B-52? Ora, ponham-no alí ao pé do SR71, ao lado do B-29! Já agora,deixa cá ver o porão das bombas...

Saturday 5 April 2008

A fauna que gira á volta dos encontros de clássicos

Eis algumas "espécies" com que temos de lidar quando levamos o nosso carro a um encontro de clássicos:

( Copyright de Mike Silva)

A Gestapo dos parafusos

São indivíduos gordos de bigode, ou rapazinhos bem vestidos com sapatinho de vela da moda, de mãos atrás das costas com as chaves do carro a balouçar entre o telemóvel.Dão pontapézinhos nos pneus, coçam o nariz, e descobrem sempre um escorrido de tinta debaixo do para-choques. Não largam um carro da mão, enquanto não descobrirem uma falha, para poderem dizer que também pertencem "ao meio" e são "conhecedores"...( Ver também : Os " Eutenholáemcasa")

A polícia do betume e dos rebites

É a versão mais "Chunga" da Gestapo dos parafusos, normalmente constituída por malta que viu os carros a estacionar, e sairam do café onde estavam a ver a TVI para vir ver os "carros velhos".Normalmente usam chinelos e mangas cavas,e decidem procurar com afinco qualquer coisa que lhes pareça mal, para poderem dizer ao Ti Alfredo da Bóina que também percebem do assunto. Além de uma eventual Zundapp que tenham possuído, nada os relaciona com o mundo dos clássicos. Costumam berrar frases como "Ena pá, isto está tudo mal pintado" ( Porque viram um risco na embaladeira) ou " Este carro está todo mal recuperado!" ) Porque viram uma lasca no espelho)

Os Eutenholaemcasa

Os eutenholaemcasa ( ETLEC), são aqueles gajos de óculos escuros e olhar fugidio que iniciam conversa dizendo " Também tenho um destes lá em casa, enquanto desviam o olhar para o horizonte e coçam a cabeça. Os ETLEC, dizem isto mesmo ao proprietário de um Rolls Royce Mulliner Park Ward MKIII EC de 1936 . Mas vieram à pendura, ou têm um Mini com a inspecção caducada. Os ETLEC, não só têm um "destes" lá em casa, como se encontra em melhor estado. A desculpa em 99.9 por cento das vezes, é que está a " recuperar" .Por vezes, os ETLEC sabem " de um destes" que está num barracão , há muitos anos, e que está em melhor estado. Por vezes, até existem DOIS nesse barracão.

O Melga

O Melga, é o velhote de bóina que começa a descrever círculos á volta do carro, e a rir-se para nós. Quando vir este cenário, já sabe que se seguem conversas da tropa e do tempo quando andava a namorar a ti Adelaide, e quando esteve em Angola. O Melga vai perseguí-lo o dia todo, a explicar como reparou um guarda -lamas em Lourenço Marques em 1965. Mesmo que procure refúgio na barraca das bifanas. O Melga, pegará em toda a resposta que der, e procurará exemplos exaustivos acerca do assunto. Por exemplo, se responder " Sim, já tive um Mini", o Melga irá gritar e apontar,de cada vez que se cruzar com um. " -Ó chefe, já viu este?"

O Engenheiro

O engenheiro,conforme a moda actual, não precisa de o ser. Basta aparecer um pouco despenteado e gordo, com um sorriso "cá da malta",e uma roupita assim mais carota. É o espécime que é recebido efusivamente pela organização,como se fosse um familiar que não viam há vinte anos, por ter trazido o seu exclusivo modelo de clássico. Não importa que cem participantes-pagantes tenham trazido o que de melhor puderam trazer, pois a atenção e o lugar próximo da "mesa" da organização, vai para o " engenheiro" que trouxe o carro mais caro/exclusivo do encontro.

Não é de esperar confraternizar com " o Engenheiro", porque ele estará ocupado a expandir o seu ego, bebido sofregamente pela organização, que julga que o sucesso do encontro acontece porque " o engenheiro" ali resolveu vir. A organização, passa o dia inteiro com " o Engenheiro", e bloqueia a caravana dos participantes para que " o engenheiro" possa ser o segundo carro na fila.

O organizador da treta

O organizador da treta ( ODT ) , é o indivíduo (ou o conjunto de indivíduos) que se vê aos espelho pela manhã com um colete laranja a dizer " organização", e se sente realizado. O ODT mete a família a distribuir papéis e porta-chaves aos participantes,e a receber a "massa" ( Ora bem! Isto é que importa, e é por isso que lá está...) enquanto busca no horizonte algum "engenheiro" ou carro mais vistoso/ caro.

O ODT, não se maça com promenores tais como setas a indicar o local, ou informações. Ele está ali para engraxar o(s) engenheiro(s) que decidam aparecer. Como programa, o ODT oferece um passeio que não raro passa em frente ao seu negócio, ou de alguém que patrocinou as T-shirts para o encontro. À hora do almoço, o ODT põe um mero porco a assar, e a malta que se amanhe. Que o asse, que o corte, e que o coma. Como resultado, um monte de moscas , filas intermináveis de seres a segurar um prato de papel, e o caos generalizado resolvem aparecer para almoçar também.

Ou então, marca 200 lugares no restaurante " A toca",que só tem 46, e a malta acotovela-se por hierarquia do custo dos carros. Sentar um "engenheiro" com um Jaguar ao pé do Zé Manuel do Mini? Nem pensar! Depois, é só esperar uma hora pelo "tacho"...

O ODT, apercebe-se à última da hora que costuma haver entrega de prémios nos encontros, e vai sorrateiramente à bomba de gasolina mais próxima comprar uns carrinhos de brinquedo para oferecer ao "participante vindo de mais longe", e ao " mais idoso". Normalmente, é "o Engenheiro" que leva os carrinhos para casa...

No fim, está sempre " de parabéns", mesmo que tenha sido malta a pagar e a trazer os carros. E mesmo que o encontro tenha sido uma porcaria.


( Esta é uma obra de ficção.Qualquer semelhança com a coincidência, é pura realidade)










Wednesday 2 April 2008

Os criminosos da Vasco da Gama

Tudo o que se tem dito acerca desta malta, peca por defeito. Eu não vou estar aqui a acrescentar mais nada a este assunto que de tão debatido caiu no ridículo. Queria só deixar aqui a minha opinião.

Falar sobre "carnificina" e "irresponsabilidade", já perdeu o impacto. Sobre "civismo" e sobre "Educação", faz as pessoas rir. Por outro lado, toda a atenção e destaque que se dê a estes criminosos, só vai piorar as coisas. Vai dar mais alento á chusma de putos de bairros periféricos que vivem em casa dos pais e que nem comem para ter um Civic ou um Ibiza, para pegarem nas rapariguinhas desmioladas e nuns telemóveis e irem tentar a sorte na VDG ( Nome código para a "pista")

A culpa disto, e aqui é que vocês se vão atirar ao ar, é da AUTORIDADES!

Reparem: Será que é muito difícil , numa recta com DEZASSETE quilómetros , inundada de câmaras, aperceberem-se de uma "corrida" e fecharem o transito na outra ponta?

Bolas, eu até tinha tempo de acabar o café com Donuts!

Mas não. Arranjam um oficial penteadinho,com um boné muito bonito, para ir para a televisão dizer que as autoridades não tem o poder da "omnipresença"! Omnipresença? Caraças, isso é uma RECTA! é muito dificil cortar o trânsito numa recta , e apanhar os gajos. E tirar-lhes os carros? E pegar-lhes fogo? E distribuir cabos de enxada pelos automobilistas que viram a vida por um fio para largarem o stress?

Isto só lá vai com poder! Não venham com palavreados caros, e com a mesma conversa da treta! Radares! Lombas! Helicópteros! Multas! Prisão! Carros apreendidos!

Não é com as televisões a irem " À boleia" no banco de trás com os parvalhões. Isso era como seguir um serial Killer por ruas escuras. " Vamos agora ver como ele corta o pescoço a esta vítima..."

Mas para fazer isto, tem de se dar condições a esta camada da população para que possam acelerar em segurança. Eu gosto de acelerar! Podem crer que os grandes progressos da humanidade, nos ultimos cem anos, se devem á necessidade de velocidade. Por isso é necessário ter espaços próprios para acelerar. Mesmo GRATUITOS!

Não podemos olhar para o Estoril como a única hipótese de "apertar" com um carro em segurança. O Estoril é bom para o menino da linha, ou do privilegiado do papá de Cascais. O Estoril , é uma carga de trabalhos para lá ir, parece que a pista é de ouro. O Carlos e o Tó de Santa Iria, precisam de uma pista também. Tem de haver uma pista no Montijo, e outra em Sacavém! E outra em Santa Iria!
Conforme existem os parques de skate e de baloiços. Existe muito mais interessados em ter uma pista local, camarária, do que putos com um skate. Ou de um clube de futebol em Alguidares de cima com vinte pessoas a assistir, e que não passa da quarta divisão regional. Fazer uma pista é fácil e barato. Bastava terraplanar e um pouco de alcatrão! Aproveitar um excerto de estrada qualquer e fechá-lo ao transito. Para uma boa causa, e para fazer as pessoas felizes.Fazer clubes locais.Isto era votos em caixa!

Em Inglaterra, existem pistas e autódromos por todo o lado e feitio. Gratúitas, ou com preços acessíveis. Isso, aliado a uma repressão fortíssima e ficaz, resulta num descanso.Vou acelerar que nem um desalmado para a pista, como se o mundo fosse acabar amanhã, mas passo a semana a andar nas calmas. RESULTA. As imagens de Portugal, mostradas por aqui aos ingleses, são uma VERGONHA para o nosso País. Uma vergonha. Nem acredito no que vejo!

Continuem assim, que vão por um lindo caminho...Arranjem é mais agências funerárias...

O Paciente Inglês


Esta foi uma das minhas primeiras crónicas publicadas pela revista Topos&clássicos, em Maio de 2006.

Texto e fotos : Mike Silva ( C) 2006 Sala das Máquinas


Embora pareça ter saído de um dos episódios de Mr.Bean, o Reliant Robin foi uma tentativa honesta de proporcionar mobilidade nos tempos difíceis do pós -guerra.
Amado por uns , gozado por outros, este simpático e vagaroso automovel não deixa contudo ninguém indiferente à sua passagem.

O som que se aproximava , ecoando por entre as típicas casas britânicas de tijolo ainda sujo de fuligem da era da revolução industrial,quase que me enganava; Ia jurar que o veículo que se aproximava era apenas mais uma das minimalistas criações de Alex Issigonis. Mas a reacção das crianças na esquina, a apontarem frenéticamente na sua direcção, fizeram-me saber que o desajeitado Reliant tinha chegado. O rosnar nervoso do motor Reliant de 850 cc, e o aspecto de Fiat 127 com apenas uma roda a frente, drogaram-me de imediato.

Construido em Tamworth, Staffordshire, região marcadamente industrial e mineira, este veículo pretendia explorar um nicho de mercado onde aqueles que não podiam aceder financeiramente a um automóvel, o podiam fazer com o Reliant, onde bastava a carta de motociclo. Estando o motociclo largamente difundido no pós-guerra, até mesmo como meio de transporte familiar, ( à semelhança de Portugal, nas décadas de 50 e 60 com as Sachs, Casal e companhia) não foram poucos os que ,estando habilitados apenas para a condução de motociclos, ficaram radiantes com este novo modelo. Como extras, podia-se optar por um "conjunto" de jantes especiais, formado por apenas duas jantes, para as rodas traseiras, e uma grade para o tejadilho.

Vendido a um preço muito inferior ao de um Morris Minor, o Reliant reinou até ao aparecimento do Mini, onde veio a perder interesse e clientela ate ao fecho da fábrica em 1998. Nao foram alheios os problemas dinâmicos e de imagem durante os anos de fabrico. Acusações de insegurança devido ao formato de triciclo, permanentes enxovalhos na via pública,onde os peões se riam e troçavam em surdina, participações em séries cómicas, denegriram e desmoralizaram progressivamente a carreira do pequeno Robin. Como cá se fazem, cá se pagam, existe hoje uma enorme procura por este carro, estando por isso bastante inflaccionado, e os peões que outrora gozavam, hoje empunham telefones e disparam por onde quer que ele passe.
Mr. Brian, o reformado da cerâmica feliz proprietário deste Rialto, facelift de início dos anos oitenta do Robin, não percebe o meu olhar de admiração, e insiste em dizer que o carro é uma porcaria.

Quando pergunto se o quer vender, ajeita a bóina e dispara em dialecto Potteries, que já está velho para mudanças, e que agora ele ( O Reliant), vai ter de o carregar até cair de podre. Com efeito, construído em simples varão de ferro quadrado e soldado, muitos foram os Reliant que pereceram rapidamente. Jessie, o Reliant de Mr .Brian, teve a sorte de ser tombado em cima duns pneus e levar umas grotescas demãos de tinta marítima utilizada para revestir o fundo das barcaças dos canais. A carroçaria de fibra de vidro destes automóveis, apesar de não apodrecer, não raras vezes era atamancada por sapateiros de cada vez que se despistava ou embatia nalgum valado.

Quando expliquei a Mr .Brian porque é que queria dar uma volta no carro dele,expliquei que era para tirar umas impressões para mostrar lá em Portugal, e ele olhou-me desconfiado julgando que eu queria levar-lhe a Jessie. Sempre quis escrever sobre o Reliant desde o primeiro momento que vi um, e tinha pensado em contactar o Reliant Owners Club, mas entretanto o rosnar empertigado da Jessie a passar debaixo da minha janela às seis da manhã de todos os Domingos, sempre que o velho Brian vai tentar vender os seus cacarecos na habitual Car Boot Sale, levou-me a interessar por este particular carro ainda na luta diária, em vez de um restauradinho e guardado na garagem.

Após algumas voltas a pendura, circulando pelas ruas cravadas de lojas "fish & chips" e olhado de soslaio de cada vez que Mr. Brian observa o retrovisor, começo a ganhar o feeling de circular em tal engenho. Num barato tablier de plástico , que incorpora uma consola, são visíveis alguns items emprestados da extinta Austin-Rover. Indicadores, manetes, puxadores, não conseguem esconder a sua origem British Leyland. O motor ecoa pelo habitáculo, ameaçador, como se a qualquer momento fosse rebentar com o tablier. Este, por sua vez não deixa muito espaço vago onde eu possa meter as pernas. Os Staffordshire Terriers tentam competir com o barulho do motor, ladrando incessantemente, enquanto Mr. Brian vocifera impropérios tentando acalmar os cães.
Após alguns minutos, ganho coragem, e peço a Mr.Brian para me deixar pilotar. O silêncio, seguido dum abrir de porta, mostrou-me que tive sucesso.
O arranque , é repentino, por mais que se doseie a embraiagem. De cada vez que curvo, tenho de passar um pouco para a outra faixa, tipo camião, devido à pouca brecagem. Aquela sensação de prestes a capotar, o que me obriga a seguir devagarinho. Este é sem dúvida um carro para quem quer ser notado. Por onde quer que passe, os olhares convergem na minha direcção, enquanto tento fazer um ar o mais inglês possivel. Olho para uma vitrine e vejo-me a pilotar um "Cessna", embora sem asas. O acelerador , bastante vivo, transmite alguma adrenalina às rodas de dez polegadas vindas sabemos muito bem de que modelo, mas o ponteiro da velocidade move-se com dificuldade até estagnar proximo das 50 milhas por hora, cerca de 80 Km/h. A alavanca de velocidades move-se livremente na lateral, exigindo algum " adivinhar" sempre que pretendo engrenar uma mudança,originando por vezes um forte arranhar que se estende por todo o meu braço.
A travagem ,claro está, não podia ser nada de especial; Convém ter a roda da frente a direito, senão ela será "empurrada" conforme estiver, travando como um sabão dentro de uma banheira. O peso do motor e da caixa,situados convencionalmente a frente e longitudinalmente, contribuem para uma direcção pesada. A caixa de direcção ,de sector dentado, também foi emprestada da BL, com a diferenca de que apenas movimenta um braço ligado ao garfo da roda da frente.


Apesar de poder circular nas auto-estradas, não me atrevi sequer a entrar numa, porque seria suicídio. Conduzi de volta o pequeno Reliant, sob o olhar aliviado de Mr. Brian, e dos seus cães que vomitavam os pulmões de tanto ladrarem.
Quantas histórias terá a Jessie para contar ? Deixo Mr. Brian e a Jessie, com a sensação de estar a deixar os protagonistas de uma qualquer série inglesa, na esperança de que , talvez um dia ele me bata a porta numa manhâ de Domingo a convidar para ir a cidade vender uns cacarecos na car boot sale...