Tuesday 15 April 2008

Motorizadas portuguesas-O património sempre desprezado!

Estes motores propulsionaram um País!...





Basta falarmos de Zundapp ,Casal ou Sachs, para nos vir logo à ideia uma tasca e uma motorizada parada à porta, com um capacete Motassis pendurado num espelho retrovisor ferrugento.

Ou então, para recordarmos aquele ritual estranho nas bombas de combustível, onde o funcionário de mala á cintura dava "à manivela" num bidon estranho, que vomitava gasolina encarnada para dentro de um tubo transparente, enquanto uma motorizada esperava pacientemente com um condutor de mangas cavas e capacete empoleirado na cabeça, enquanto fumava um SG cravado ao pendura. ( Sim, fumar nas bombas,era "facultativo")


Em seguida, tanto na tasca como na bomba, um barulho ensurdecedor EEEEEEEEEE irrompia pelas imediações, acompanhado de um fumo azul, é perdurava até muito depois do veículo ter desaparecido no horizonte. Já tinham passado dez minutos, e ainda podíamos ouvir a Sachs a evoluir alegremente pelo monte acima, lá ao fundo...

Isto tem um senão.. Estes veículos sempre foram conotados com proprietários de baixos recursos, que uma vez ,eventuamente libertos do estigma de ter de andar com a família toda na motorizada, debaixo de chuva e de um oleado, jamais quiseram ouvir falar de tal engenho. O uso de motorizada como meio de locomoção básico, é um episódio para esquecer, agora que se encontram ao volante de um "digno" AX ou Corsa...

Por outro lado, o entusiasta de veículos clássicos, como qualquer ser humano, tem tendência a idolatrar o que vem de fora. Nada mais natural. Muitos ingleses acham certos modelos de BSA e de Triumph " rubbish", e preferem modelos de outros países.Japonesas principalmente.Porque não querem voltar a ser conotados como protagonistas de tempos difíceis e de escassez.

Basicamente, o problema das motorizadas portuguesas, é que não conferem prestígio. A maioria prefere dirigir as suas atenções para motos estrangeiras dispendiosas, pois estas são consideradas símbolos de posição social . Ter uma BSA de mil contos, não chega se calhar para aparecer na "Caras", mas já dá para chamar uns "Dr." e "Eng." para a conversa. Ou mesmo ser confundido com um.Uma Casal não.

Em Inglaterra,porém, acontece o inverso. Mergulhado que está o mercado em motos inglesas, é com satisfação que os entusiástas se amontoam em redor de algo "novo", e algo nunca visto. E mostram-nos que nós somos por vezes os maiores inimigos de nós próprios, não nos apervcebendo do valor que temos em mãos.

Para restaurar uma scooter que trouxe para Inglaterra, tenho comigo um motor Zundapp, que diz orgulhosamente numa chapinha " Fabricado em Portugal". Não queiram saber o burburinho! Coleccionadores a maçarem-me com perguntas acerca do fabrico de Zundapp em Portugal, acerca de modelos, e se ainda se pode adquirir algum. Tiram fotos com o telemóvel. Mostro-lhes fotos de motorizadas do "Zé das Couves", e eles deitam as mãos à cabeça. Querem uma daquelas!


Temos de melhorar a nossa auto-estima, e perceber que também nós tivemos uma indústria competente e que motorizou massas, e que serviu na medida das possibilidades de um País de fracos recursos, uma vasta fatia da população.Isto em tempos em que não havia cá subsídios da CEE, nem computadores.

Estas motos de fabrico nacional, deram de comer a muita gente, e em localidades com um autocarro de dia e outro à noite eram a diferença entre poder ir para o trabalho com uma marmita cheia de batatas cozidas, ou não ir.

Estes veículos eram extremamente bem construíds, robustos, e á prova de bomba, sobrevivendo a todo o tipo de mau tratos, chuva, intempéries, gordos de 120 quilos em cima,mudanças directas,má lubrificação , acidentes e despistes ( pois as motas não carregam vinho) e desprezo generalizado. O que muitas destas motos sofreram, envergonharia um tanque T34 em plena campanha de 1944.




Sem luzinhas ou apitos! Apenas o olhar focado num futuro melhor...

Temos de respeitar a nossa herança metalúrgica e industrial, fazendo o possível e o impossível para tentar salvar o máximo de modelos e unidades destas máquinas recheadas de História, de suor, de lágrimas e de luta. Não podemos entregar estes exemplos da nossa História recente, aos putos para partirem a fazer piões. Já parti algumas, infelizmente. Mea culpa. Quem me dera que alguém me tivesse posto palavras sábias na altura... E se calhar não tinha "malhado" tanto...

10 comments:

Anonymous said...

oi tudo bem
meu n0ome e Thais eu sempre passo pelos blog hoje foi sua vez
se voce puder deixe um comentario pra mim ok.
um grande abraco tchau

Anonymous said...

fiquei muito contente
obrigada
bj

Dom Fuas. said...

Ja há muito que por aqui passo, mas agora este post tocou-me, pois tive uma Casal de 4 motor igual ao da foto, modelo Fundador que fez as delicias da minha infância, é com nostalgia que me revejo nesta vossa descrição, é com muito pesar que fico triste ao ver o pessoal da minha aldeia rendido ás scooter´s Taylandesas em detriorimento dos velhos cavalos de ferro que outora os transportaram.Fez-me lembrar as horas que passava depois de vir da escola segundária a "artilhar" como se dizia por cá, a minha casal4, era cilindro retificado, era abrir janelas de admição a berbequim era abrir janelas de escape, e depois retirar o carburador Bing17 e por um Carburador Delortt24, escape de rendimento80, fazer misturas malucas de gasolinha.Depois vieram as japonesas e agora ha algum tempo me rendi a uma Americana, que para mim faz-me lembrar a minha casal, pois gosto de "mexer" nela como fazia com a casal.

ZeZe

MS said...

Obrigado zeze , pelo seu comentário, e de facto, pelos vistos andámos na mesma " escola" prática .

Pode ser que as pessoas finalmente se apercebam do espólio industrial que têm em mãos, e lhe dediquem mais atenção e valor.

cadu1981 said...

Por falar em Triumph, fui hoje a uma entrevista á fabrica, Hinckley, e fiquei maravilhado com as motos que eles lá tem, mas também com umas modelos mais antigas!!

Vamos la ver no que dá!!! dos 6 que fomos fui o unico a pedir para ir para a parte de motores, o resto foi tudo chassis!!!

MS said...

Boa sorte.

Triumph, é um mito das duas rodas...

fernando barella said...

Pois é.As dois tempos transportaram ,alimentaram,desenvolveram o País durante décadas.Agora alimentam uma série de pseudo restauradores que não são mais do que uns reles oportunistas que só servem para inflacionarem os preços,dificultando assim qualquer intenção.
Vejam-se os preços pretendidos por qualquer dois tempos, mesmo as que não têem recuperação possivel e até sem documentos.
Um abraço

MS said...

Essa situação só acontece, porque existe uma especulação estupida em redor do veículo clássico.

As pessoas já não podem sonhar com nada, por isso viram-se para as motorizadas e para as bicicletas. Como se viram para estes veículos, os especuladores "atacam".

Mas de certeza que ainda existe por aí muita moto encostada dentro de barracões...

O sala das máquinas existe para dar a conhecer outras hipóteses, outras idéias, e outros caminhos, que a maioria dos entusiastas não conhece, ou "ouviu falar no café" que não é possível.

É possível, sim senhor. È possível uma pessoa ter um carrinho clássico recorrendo ao estrangeiro. É dificil? Se calhar para os incapazes de imperial na mão do café, talvez...

Rui Pereira said...

Grandes máquinas, sim senhor...
Infelizmente a industria motociclistica portuguesa, praticamente desapareceu, onde apenas existe uma marca que apesar de todas as contrariedades e obstáculos com que lida diariamente, insiste em manter-se no activo... Falo da AJP!!! http://www.ajpmotos.com/

Rui Pereira said...

Já agora, os meus parabéns pelo blog, está excelente!

Acabou de ganhar mais um leitor... ;)