Thursday 29 May 2008

O PÓ E OS JORNAIS DAS FORD TRANSIT

Esta Ford, é actualmente a Transit mais antiga do MUNDO! Pertence a um entusiasta inglês.

( publicado no número de Abril da "Topos & Clássicos)


Por Mike Silva


Mas porque raio alguém iria perder tempo a escrever sobre uma corriqueira,banal e vulgar Ford Transit? É como estar a escrever sobre uma caixa de papelão!


A única ocasião que poderíamos eventualmente dispensar á Ford Transit, seria se precisássemos de fazer umas mudanças em casa, e fôssemos pedir emprestada a "Chassis comprido" do vizinho que trabalha nas obras. Ou então decidíssemos ir vender roupa contrafeita para o mercado de Azeitão...
Isto é uma injustiça! Náo podemos continuar a ignorar eternamente um veículo que tem propulsionado o mundo há cerca de quarenta anos. Se o Renault 4 é como um martelo que batemos até partir, a Transit pode ser considerada um torno. E uma bancada. E uma marreta.
Conhecida pelo terno nome de Tranny no Reino Unido, onde tem uma legião doentia de seguidores como convém, a Transit celebrou recentemente o seu 40.aniversário. Inicialmente incorporando um motor V4 a gasolina, utilizado no Taunus e nos modelos Saab, cedo instalou um propulsor Diesel á prova de bomba, que proporcionou milhões de quilómetros livres de problemas.


Até ao seu aparecimento, o veículo de carga mais difundido no mercado era a célebre Volkswagen Kastenwagen, mais conhecida entre nós pelo incontornável nome de Pão de Forma.
Mas os conhecidos problemas de concepcção de interior, onde o motor ocupava grande parte do espaço disponível, e uma submotorização sofrível, levaram o público a aderir em massa ao aparecimento do primeiro comercial da era moderna. Subitamente, a Ford Transit não se negava a nada, franzindo o sobrolho a toda a tentativa desesperada da concorrência em apresentar uma rival.


Apesar dos puristas considerarem o modelo Transit Taunus de 1964 produzido na Alemanha como efectivamente a "primeira " Ford Transit, o sentimento generalizado convencionou chamar para Inglaterra o monopólio do culto, declarando o primeiro modelo como construido em Langley,Berkshire no ano de 1965. Uma versão britanica de motor a gasolina chamada "York" foi utilizada nos primeirosmodelos, embora para exportação estas carrinhas tenham utilizado o já falado motor V4. A propulsão Diesel, esteve a cargo do ultra-competente motor Perkins, na primeira série.


Quando nos dirigíamos para uma "bico de pato" , ou seja as Ford Transit do primeiro modelo que tinham a grelha sobressaída para poder alojar o motor Perkins ( As de gasolina tinham a grelha direita), sabíamos que iamos fazer algo de diferente. A não ser claro, que trabalhássemos nas obras, ou fossemos feirantes. Por isso vestíamos umas calças velhas e uma camisola rota. Iamos trabalhar no duro, fosse a fazer massa, ou a caregar móveis do segundo andar.
E ainda bem que o fazíamos! Muito antes de iniciar o trabalho, eis que entrávamos numa dimensão de destruiçao automóvel, apenas vista mais tarde nos "crash tests"...Os bancos, cobertos de camadas de pó que se podiam cortar com um serrote, encontravam-se sempre carcomidos, como se tivessem sido refeição de um grupo de cães raivosos . Normalmente, teríamos de nos colocar de maneira que apanhássemos um bocado de esponja ainda intacta.
Os cintos de segurança, enrolados há anos por entre jornais velhos, pacotes de batatas fritas e correntes de ferro, naõ eram possíveis de serem utilizados. Mas os "homens" não precisavam de cinto...


À nossa frente, a visão alarmante de um tablier prestes a abater sob um monte de recibos e papeis, cobertos de pó canetas rebentadas e parafusos, reflectia-se no para-brisas estalado com selos desde 1976. As palas do sol, permitiam acondicionar mais uns quilos de papéis.
Com um estremecer violento durante alguns segundos, o motorista contorcia-se sobre a chave de ignição cerrando os dentes, esperando que o pastelão Perkins acordásse. Após terem caído para cima das pernas cerca de dois quilos de jornais amarelecidos que tombaram do tablier, uma torrente de fumo e um suspiro motriz característico anunciavam com uma voz autoritária que o lento e bruto motor tinha pegado.
Por detrás de uns meramente figurativos mostradores, procuravamos apontar o focinho sobressaído da carrinha, para a direcção que pretendíamos, embora tivéssemos que fazer conta á folga da direcção. Qualquer posição da manete das mudanças que escolhêssemos , servia para pôr a Transit em movimento. Seja como fôr, também não conseguiríamos saber qual delas tinhamos engrenado...


A Ford Transit, tinha sido feita para não ser reparada. Tinha sido feita para que a última vez que visse um concessionário Ford, fosse o dia da compra. Mas também não se justificava; Arames e paus há em todo o lado. Manutenção era uma palavra elaborada para descrever o acto de verter " a olho" um óleo ( qualquer) para dentro do motor.
quando uma Ford Transit precisava de uma "reparação", era sinónimo de que iria entrar numa nova fase da sua vida; A de servir de arrecadação até apodrecer. O que não demoraria muito.


Hoje, passados quarenta anos, a Frod Transit é um mero aglomerado de plásticos e componentes electronicos caríssimos,e apenas uma das muitas escolhas que alguém pode fazer no mercado, e o ceptro de Rainha do transporte ligeiro está entregue a um novo tipo de furgão, em que a Iveco Daily está fortemente posicionada.
Porem, o pó e os jornais continuam em alta, como decoração preferida do interior das FordTransit.


Sunday 25 May 2008

BBC RADIO STOKE

O mentor do Sala das máquinas, nos estúdios da BBC com Lamont Howie


( Bilingual article / Artigo bilingue )


O site Sala das Máquinas, tem também a função acessória de demonstar o meu percurso pessoal em Inglaterra, além das habituais máquinas . Hoje, fui convidado pelo produtor Lamont Howie da BBC Radio Stoke, para falar sobre o meu mais recente livro, " How about England", que descreve na primeira pessoa a experiência de deixar Portugal e vir viver para o Reino Unido.


As the "Sala das Máquinas" website, has the acessory purpose of also log my personal achievements in the UK, i am pleased to talk about being invited by Lamont Howie, Producer from BBC Radio Stoke to speak about my experience of coming to this country and about my latest work, a book called " How about England."




Não há um dia sequer, em que os jornais não falem sobre imigração, como um "mal" desconhecido em que nacionais de outros paises apenas procuram o Reino Unido para adquirir subsídios e habitação camarária. E praticar crimes. Falar na palavra "imigrante" desencadeia uma imagem tenebrosa de indivíduos pouco sociais, ensimesmados em comunidades fechadas, sem se integrarem na sociedade, e em suma provocando um choque cultural e social.


There isn't a single day going by, without the media bringing the subject of immigration to the front pages. Immigration, is often seen as an "evil" thing, where nationals from other countries only seek the UK for benefits,crime and social housing, excluding themselves from the society, living in closed communities and therefore clashing socially and culturally.


Eu quis falar um pouco sobre isto, demonstrando a minha postura acerca de vir para Inglaterra como trabalhador especializado, que se integra na sociedade inglesa, e que apenas aceita uma diáspora no Reino Unido enquanto estiverem reunidas as condições de sustentabilidade financeira, e de aceitação pessoal e social. Não concebo permanecer num Pais, longe de tudo o que sempre conheci, e que constitui a minha identidade como português, vivendo miserávelmente e de subsídios. Para isso, ia para Portugal outra vez, onde ao menos podia comer umas sardinhas , e respirar profundamente o ar salgado na Serra da Arrábida sob um sol maravilhoso.


I wanted to speak about this, showing my views about coming to this country as a specialized Engineer, who did his effort to integrate in the english society, and who only accepts his staying n this country while he has means of sustaining himself economically, and being accepted both social and humanly. I can´t conceive being in this country on the dole, living out of benefits, withdrawn from my identity as a portuguese. If it ment to be like that, living miserably,I was better off being back in Portugal, where at least I could eat some nice sardines under a beautiful Sun.

A minha postura neste País, é a de trabalhar arduamente, tanto a nível técnico como pessoal, para conseguir uma integração plena na sociedade, e dar algo em troca a um Pais que tanto me deu. Nunca conseguiria agradecer o suficiente, por ter um dia tido a oportunidade de conhecer pessoas tão humanas,competentes, e desejosas de também tornarem o amanhã um pouco melhor.Para eles, para nós, e para todos. Stoke é uma cidade extraordinária, com uma herança cultural e industrial riquíssima, e eu acho que os seus habitantes deviam ter orgulho do seu passado e do seu contributo para o Mundo.


I will try to work as hard as I can, to achieve a full integration in this society , and give something back to a Country that reached out for my hand when I mostly needed. I couldn´t ever thank enough to such competent and human people I was fortunate to meet during these years, that believed in me and are at the same time as me, people that are trying to make of tomorrow a better day. Stoke is a magnificient city, and I think we all citizens of Stoke should be proud of the cultural and industrial heritage of this city, that gave so much to the world.


( Eyup duck? How at? I just came from up Hanley to the neck end, to me ice, to put me fate up, and have me snapping! Dust want to go Boslem or Tunster?See? I know arfur tow crate! )


Para ouvir a minha participação na BBC Radio Stoke, clique em


To check the BBC Radio Stoke Website,log on






Saturday 24 May 2008

Reintroduzir o passado:Beaulieu Autojumble

Achado num barracão na Austria: eles escondem tudo,pelos vistos...

" Se não encontrar em Beaulieu, então não encontra em lado nenhum". Este lema passado de boca em boca há 41 anos, tem feito da feira de clássicos e peças de Beaulieu um dos locais mais importantes da Europa a visitar por quem quer que se interesse por automoveis clássicos.

Embrenhado no paradisíaco parque natural de New Forest, próximo de Southampton onde temos de circular bastante devagar para nao atropelar cavalos selvagens e suas crias, Beaulieu Autojumble estende-se por uns hectares do que outrora terá sido uma propriedade senhorial britânica, hoje a cargo do Lord Montagu . Como sempre, a organização de um evento britânico é estudada ao promenor, disponibilizando stewards até algumas milhas antes e sinalização apropriada, dispersando o fluxo de tráfego para estradas secundárias para não perturbar a vida selvagem deste magnífico parque natural.


O mercado de clássicos...com preços acessíveis, e não "anedotas" para rir...

Pelo aspecto do parque de estacionamento, que comecou a encher duas horas antes da abertura da feira, pude antever o que me esperava... vulgares utilitários e topos de gama de todas as épocas da História do automóvel partilhavam democráticamente os espaços vagos. Perto de mim estava um Rolls Royce Silver Shadow, um Saab de dois tempos, uma Ford Thames, e uma estranha carrinha Renault. Pipocando alegremente, passou um Austin 7 com um idoso casal.


Mais a frente, uma steward preocupada, informava os visitantes de que podiam adquirir os bilhetes noutro guichet, e pedia desculpa pela fila... de apenas dez pessoas! Um esplendoroso jardim com um monocarril que percorre todo o recinto brinda os visitantes logo a entrada.

Disposta em quarteirões , com cerca de quinhentos expositores,apliquei uma técnica desenvolvida por mim para falhar o mínimo possivel de stands: a técnica da grelha. Percorrem-se em slalom as filas paralelas, e chegada a última, ataca-se do mesmo modo as perpendiculares. Assim nao passamos três vezes pelo mesmo sítio, nem falhamos cerca de um quilómetro quadrado de expositores. Adquirindo o programa a entrada ajuda a identificar os stands que mais nos interessam.

Seria impossível descrever tudo o que se pode encontrar nesta feira. No entanto, e notória a hegemonia de marcas inglesas. Bastante material pode ser encontrado aqui, seja novo ou usado, por muito raro, estranho ou incoleccionável que possa parecer. Mesmo armas e barcos. Entre os mais pitorescos objectos, num stand para Rolls - Royce uma estatueta do " spirit of ecstasy" em tamanho grande em prata por cerca de £3500 ( mil contos) , e peças novas para o Silver Ghost.




Vai um Plimouth V8 côr de rosa?...Também acho...

Noutro, de um expositor francês, o que tinha restado depois de um incêndio que consumiu praticamente todo o automóvel, e um Renault Limousine carroçado na Áustria e descoberto num barracão ( o Sonho de todos nós - Descobrir um carro num barracão ). De resto era uma orgia de radiadores, rodas , farolins, motores, caixas, e pára-choques a perder de vista.


Não, não servem num AX! A não ser que queiram duplicar o valor do carro...

O tempo típicamente britânico, testava os nervos até ao limite... vinte minutos de vento , temporal e chuva, seguidos de vinte minutos de sol e manga curta. Para minorar o lamaçal, largas placas dentadas de alumínio foram colocadas nas filas principais. O vento fustigando os stands, enervava ainda mais os normalmente plácidos britânicos. Alguns stands albergavam especialístas em diversas áreas de restauro, como chapeiros e casas dedicadas exclusivamente ao restauro de instrumentos , buzinas e faróis. Como não podia deixar de ser , os comerciantes de ferramentas atacaram em força, com literalmente tudo o que se pode precisar para restaurar um automóvel, desde jactos de areia a equipamento de soldadura automática, a armações para " deitar" as carroçarias...
Um placard de anúncios ia-se tornando pequeno com inúmeros particulares a quererem comprar e a vender.
No largo em frente à entrada, já não havia espaço para os cerca de duzentos automóveis em venda. Pudemos encontrar modelos para todas as bolsas e gostos. Curiosamente, penso que o mais barato em exposição, um Wolseley ferrugento sem inspecção ( MOT ), e sem seguro por cerca de 100 libras ( trinta contos), e um Rolls -Royce Silver Cloud I por 65 000 libras ( dezoito mil e setecentos contos ) estavam lado a lado. Mas haviam também um Corvette por £ 24 000, um Austin A30 impecável por £ 1500, varios MG A, B, Spitfires, Ford Thames, Austin -Healey 3000, Jaguares, Austin 7, ou Morris Eight e Ten, e um estranho e "assapateirado" Bentley MK VI...com motor Perkins Diesel, isto so para referir alguns.


Um barco e acessórios de 1920... ( Excepto o atrelado,of course..)

Forçado por uma carga de água que caíu sem aviso, refugiei-me na tenda dedicada aos manuais e pinturas de artistas tendo o automóvel como tema. Nesta tenda era possível adquirir os imprescindíveis manuais Haynes, bem como outras publicacções, e cópias de manuais de oficina . Belos quadros a óleo e a pastel decoravam os stands de pintura, muitos dos quais retratando a época da guerra, com Spitfires e Messerschmidts ( Estes normalmente em chamas , claro ) a sobrevoar insuspeitos clássicos em paisagens campestres.

Num canto recatado da feira, um autocarro convertido em centro de primeiros socorros , aguardava junto com uma ambulância , qualquer ocorrência, e as roulotes de comes e bebes iam facturando a olhos vistos. Não com a equipa da Sala das Máquinas, que desta vez levou umas sandochas numa mochila.
A feira estava quase a fechar, e os visitantes iam saindo ordeiramente não sem antes passarem por uma loja estratégicamente colocada à saída, com todo o merchandising relativo ao automóvel, onde gastavam o resto do seu dinheiro na última " dose" antes do regresso a casa. Anoitecendo cerca das dez horas, ainda era possível percorrer grande parte do caminho de volta com luz do dia. Deixo Beaulieu com a sensação de ter estado num local mágico, onde o automóvel convive com os humanos e com a natureza pelo menos durante um fim-de-semana de uma forma harmoniosa e sem embaraços. Beaulieu e sem dúvida um local a visitar ou a voltar... Quem sabe em Setembro...
Assistência técnica da Renault...Aposto que nunca avariou!

Tempo de mudança


Inglaterra, é algo que não se consegue explicar.

Todos os que um dia tiveram de traçar o seu destino passando por este País, concordam comigo quando digo que nada do que encontramos aqui, desde o primeiro dia que chegámos , se assemelha à idéia que tinhamos antes de partir.

Acostumados que estavamos em Portugal a aprender a lingua inglesa com sotaque porto-riquenho nas escolas, mesmo nas mais caras ,com nomes ingleses e tudo, eis que por exemplo caímos de Pára-quedas em idiomas e dialectos locais. "Eyup Mate? How at? Dust know arfur tow crate?"

Isto por exemplo, torna um qualquer privilegiado cujos papás lhe pagaram caríssimas lições de inglês num colégio no centro de Lisboa, num rotundo analfabeto. Mesmo um professor universitário com vários anos de Inglês, será tomado por um israelita, mal abra a boca.

Isto vem a propósito de quê? Acontece, que muitos de nós, vêm mais ou menos com ideias preconcebidas e mais ou menos definidas, do que pretendem fazer uma vez em Inglaterra. A ideia que temos de Inglaterra, por vezes, e erradamente, é que é uma espécie de Portugal em que se guia do lado contrário. Ainda por cima, "é a CEE!" Por isso, pensamos que basicamente, basta seguir o modelo de vida e comportamento a que estavamos habituados em Portugal, perder tempo numas filas, e andar com um quilo de documentos atrás, que tudo vai correr bem.

Não perdemos muito tempo a pensar como vai ser a nossa formação, principalmente porque já somos uns "velhos" de 30 e poucos anos, e desde que consigam lavar uns pratitos, e comprar uns paposecos, já está muito bom.

Por isso, vir para Ingaterra para trabalhar com automóveis clássicos, foi como se me tivesse saído a sorte grande! Ganda pinta! Nem olhei para trás, e larguei o meu emprego efectivo no maior clube português.

O problema, é que as coisas aqui em Inglaterra não funcionam como em Portugal. Entra as nove, sai ás cinco, e dá cá o ordenado ao fim do mês. Em inglaterra, principalmente em pequenas empresas, espera-se "commitment", que é uma palavra cara para justificar a ausência de tempos livres , e trabalho "pro bono". Depois, no panorama dos automóveis clássicos, abundam os "investments", ou seja, automóveis que são comprados e vendidos apenas como peças de arte e de lucro, e não como objectos para usufruir da estrada e do tempo.

É como ser casado com a Kate Beckinsale, e dormir em camas separadas.Esperamos fascínio e entusiasmo, e encontramos pragmatismo e formalidade. Por outro lado, trabalhar com clássicos em Inglaterra como profissão, é como trabalhar com a esposa no mesmo emprego. Uma situação que leva ao desgaste. Eu já não posso ver Rolls e MGs! Nem Jaguares E!

E a sociedade inglesa empurra o cidadão para a promoção pessoal, e para o desenvolvimento intelectual. Os autocarros ,as ruas e a TV, anunciam até à exaustão locais onde podemos melhorar o nosso conhecimento. É natural uma empresa admitir funcionários de 60 anos. "We value experience", dizem os cartazes.

Por isso, ingressei num programa que certifica as minhas aptidões profissionais, chamado NVQ , ou National Valuation of Qualifications, que uma vez concluido me permitiu olhar para o mercado de trabalho com interesse, onde algumas propostas interessantes começavam a surgir.

A hipótese de trabalhar como Engineer na maior empresa rodo-ferroviária do Reino Unido, que opera também nos EUA e na Escócia, acedendo a um leque de formação internacional e a uma metodologia de trabalho confirmada, levou-me a deixar há alguns meses o trabalho em redor do veículo clássico como profissão.

Esta minha nova ocupação, vai mais de encontro ás minhas expectativas como pessoa e como profissional. Acredito que o interesse por veículos clássicos, só faz sentido quando olhamos para o Automóvel no seu todo, sem fundamentalismos. Acho muito mais interessante um Porsche 911 Carrera 4 novinho em folha, do que uma carroça com um fogareiro atarrachado, dentro de um vitrine num museu. Gosto muito mais de um Ford Sierra Cosworth de 1988, do que um Ford T. E respeito todos pelo seu contributo para a História do Automóvel.
Acredito sinceramente que evolui,pessoal e profissionalmente, com este passo. Ñão tenho pena de ter largado a minha anterior ocupação, onde fiz grandes amigos para sempre, mas este sector do restauro de clássicos peca por não oferecer estímulo para as expectativas individuais de cada um. É aquilo, e aquilo, e acabou-se. Obrigado a todos por estes excelentes e inesquecíveis três anos.

O futuro do Sala das Máquinas, longe de estar comprometido, dispõe agora de mais tempo e estrutura para percorrer o Reino Unido e arredores, em busca de máquinas e automóveis que povoam os nossos sonhos.

Esta , é a Sala das Máquinas!

Sunday 18 May 2008

Inglaterra/Portugal num carro de 50 contos



Sai mais barato comprar um carro e ir a guiá-lo para Portugal, do que comprar um bilhete na TAP! E esta? ( embora não perceba porque alguém iria comprar um bilhete na TAP, com tanta companhia de baixo custo que não nos trata como passageiros de segunda, mal descobrem que somos portugueses...)


Os "entendidos" que falam no parque automóvel envelhecido, e no perigo que os carros menos novos oferecem para a circulação, falam do alto de um gabinete com carro á disposição. É muito fácil falar de carros novos e tal, quando se tem a barriga cheia. O que se passa , é que as pessoas nem sempre podem comprar o carro que desejariam. E muitos chefes de família, culpabilizam-se por não poderem comprar a última palavra em tecnologia, e julgam que estão a pôr a família em perigo.

O Sala das Máquinas efectou a experiência de conduzir um carro que custou 200 Libras ( 50 contos), um Vauxhall Cavalier ( Opel Vectra )Turbo Diesel 1.7 de 1994, desde Manchester até Lisboa. Sem serviço de assistência em viagem, nem ferramentas. Se avariasse, largavamos-lhe fogo! É claro que outras experiências deste tipo envolvendo percursos mais longos e violentos foram bem sucedidas, mas este percurso é largamente utilizado por muitos de nós, e mostra paragens que mais cedo ou mais tarde, quem vive no UK poderá ter de fazer.
Eis o relatório:

0300 Saída dos arredores de Manchester, pela M6.

0500 Paragem na área de serviço da M1, para desentorpecer as pernas e tomar um cafézinho. O Cavalier nem soluçou até agora.

0810 entrada no Eurotunnel. Que desgosto! tudo porco e malcheiroso! E caro!



1015 ( mais uma hora no fuso ) chegada a Calais, e partida em direcção a Paris.

1230 Paris, e dali para fora com a ajuda do Satnav



1415 Paragem para reabastecer em Le mans. Nada mau! o depósito deu para 1000 Km. A uma média sem ser "a partir" , de 100,130. Tudo impecável, e suave. nada a assinalar.

2100 Entrada no Pais Basco,após ter gasto 70 Euros em Portagens. Paragem em Irun para pernoitar, e jantar . A gente vem nas calmas. Ver um pouco de televisão Basca, e ó-ó...


Segundo dia:

1000 Saída do País Basco, entrando em Miranda del Ebro.



1330 paragem para reabastecer em Salamanca . Mais mil quilómetrozitos em cima.Até agora, nem um suspiro. Tudo se comporta excepcionalmente bem, e os bancos são bastante confortáveis.
1530 Entrada em Vilar Formoso. Claro, e os problemas começaram: A GNR mandou parar-nos, porque o pendura vinha ao telemóvel! não viram que era um carro inglês. Mal se aperceberam, mandaram seguir.


1800 Entrada em Sacavém, para apanhar o caos da Segunda Circular. Pontaria! Mas não faz mal, pois estamos a ouvir a TSF! Estamos em Portugal! Já agora apanhemos o Ferry!


Margem Sul " at last!"

Uma viagem sem sobressaltos, cumprindo uma distância de 2700 Km, num carro de 50 contos. Perigoso? Difícil? Aventura? Nem pensar. Os carros são como os cães: Tem a ver com o dono. Os condutores é que são perigosos e inexperientes, os carros, desde que tenham quatro rodas podem fazer o impossível.Não é preciso andar sempre a caminho da financiadora para nos empenharmos com o último grito da tecnologia.

Um automóvel bem mantido, pode ir até ao fim do mundo, e mesmo ser mais fiável do que os "computadores sobre rodas" que temos como opção no momento. Não fazem grande vistaço junto dos vizinhos, mas fazem com que nos deitemos descansados por não os irem roubar, e porque já estão pagos.
O pior, desta viagem toda, foram os gajos no café de imperial em punho, a dizerem-me muito desolados que " para estar em Inglaterra e trazer um carro destes, mais vale não trazer nada..."
Mas o que interessa, é que esta experiência correu bem, e que pude então saborear umas sardinhas assadas numa esplanada em Peniche, e trazer na mala uma motorizada Casal desmontada para restaurar e mostrar aqui em Inglaterra. Nunca viram nada assim!

(Este Vauxhall, regressou a Inglaterra do mesmo modo)
























Um camião a vapor!





Nos tempos conturbados que vivemos, em que o preço do barril de petróleo atinge níveis record, existe ainda alguém que se pode dar ao luxo de dizer que possui um veículo que jamais entrou numa bomba de combustível...



Texto e Fotos : Mike Silva

Não podia ser! A linha do comboio estava a mais de três quilómetros. Mas os apitos e o "respirar" característico de um comboio a vapor, por si só já suficientes para fazer subir a pulsação, soavam cada vez mais perto. Eis que dobrando a esquina, junto ao pub local surge o monstro verde.Desconfiamos que alguma coisa está errada, pois o tejadilho deita fumo que se farta. E mais uma vez, o apito estridente que desta vez se assemelhou a um apito da sáida da fábrica. Os ingleses locais, já habituados a ver este camião nas redondezas, prosseguem como se nada fosse. Eu escorro suores frios, e não consigo fechar a boca.

Fabricado em Shrewsbury, no ano de 1924, este camião esteve inicialmente ao serviço de uma fábrica de lanifícios de Liverpool, sendo posteriormente vendido a um operador de transporters rodoviários de Merseyside, que o utilizou até 1940. Durante os anos da guerra, rebocou peças de artilharia e atrelados que serviram para os mais diversos fins, sempre nos arredores de Liverpool. Nos anos do pós-guerra, e precisando de uma caldeira nova, foi encostado num barracão até aos anos oitenta, onde as instalações iriam ser demolidas para dar lugar a uma urbanização. Geoff Clarke, pai do actual proprietário, como possuia um atrelado de máquinas industriais, ficou com o camião de graça, fazendo o "favor" de o remover dali.O atrelado de um eixo, bastante apodrecido, pereceu nas mãos dos sucateiros locais.

Ainda assim,este camião permaneceu uns tempos sem ser recuperado, mas finalmente em 1992 deu-se início ao restauro, com a ajuda de ( claro) especialístas de restauro de comboios a vapor.A família Clarke, resolveu pintar na carroçaria o nome da empresa original, Edward Billing &son, graças a velhas fotografias onde figuravam camiões semelhantes.


Deixa cá andar nisto...

Não escondo o meu fraco por comerciais pesados. Há algo de "mal amados" neles, e depois o tipo de conhecimentos necessários para manter e recuperar este tipo de veículos,não está ao alcance de um simples entusiasta. Também não dá jeito nenhum guardar na marquise três caixotes de cem quilos cada um, com chaves de luneta a partir do número 40...O que interessava agora era poder averbar no meu livro de experiências , a sensação de circular em tal engenho.
O que nos salta logo à vista, é a sua tracção por corrente às rodas traseiras, como uma moto. A orquestra de assobios e esguichos de vapor, irrompem por debaixo da carroçaria como várias panelas de pressão.

Para sair de manhã com este veículo,há que acordar uma hora mais cedo para aquecer a fornalha. Imponente, à frente, a caldeira vertical e respectivo tanque de água ocupam toda a parte da frente, fazendo um "favor " de deixar uma mera janelinha para o "maquinista" poder ver o caminho. Faço ideia de quantas motas isto já deitou ao chão.
Subindo para a posição de condução, na cabine de madeira, eis que como "pendura"tenho um caixote embutido carregado de carvão. Á frente, apenas o volante, e um ambiente tão espartano, que faz o tablier do Carocha parecer o Cockpit do Space Shuttle.


Apesar do formigueiro nas mãos, e dos meus neurónios me incendiarem a carne a ordenar que deite as mãos ao volante e "chegue fogo à peça",a colecção de manetes e puxadores peganhentos cheios de massa ,avisam-me que será talvez sábio deixar a malta que percebe do assunto tomar conta daquilo. É com muita pena que decido , embora coberto de ignomínia, deixar Tom me mostrar como se guia.Nunca pensei olhar para um veículo e sentir-me como se estivesse a ver hieroglífos numa parede dum templo inca.

Tom diz-me, que se eu quiser, posso deitar umas pedras de carvão mineral para a fornalha. Um prémio de consolação. Como se fosse um carro destravado, sem qualquer esforço ou barulho de qualquer espécie, pomo-nos em movimento. E o que é feito do "chug,chug ? Como que lendo o pensamento, Tom abre uma válvula rodando um manípulo, e eis que aumentamos a velocidade. O andamento é suave, parecendo, pela ausência de ruídos e vibrações que o camião está a ser rebocado. Apenas os silvos do vapor, e o adorável e hipnotizante "chug-chug."

Este veículo circula normalmente no trânsito, mercê do limite legal que só permite andar nas localidades a 30 milhas por hora ( 50 km/h). Embora com um arranque pior do que uma bicicleta, os cerca de cento e vinte cavalos do motor, medidos há uns anos num aparelho de testar tomadas de força de tractores, permitem este brinquedo chegar com relativo desembaraço às trinta milhas por hora. Se bem que dá para perceber que pouco mais seria capaz de acelerar.Acelerar dos zero aos cem, seria coisa para medir em minutos, se por acaso lá conseguisse chegar.

Apesar de possuir um dínamo que recarrega a bateria, o sistema de carga é pouco eficaz, dado que o motor a vapor só roda em andamento. Por isso, toda a actividade elétrica é reduzida ao mínimo, e o apito de pressão é utilizado amiude. Porreiro. Como não podia deixar de ser, este veículo é um íman de atenções, e nos semáforos os telemóveis disparam a um ritmo que deixaria Beckam frustrado.

Todo o camião se comporta de um modo salutar, como se fosse mais um TIR a chegar a Alverca. O sacudir violento da cabine, porém, indica-nos que este exemplar tem muito mais anos "no lombo", e não pode contar com modernas suspensões pneumáticas. Com um esgar impresso na face, continuo a colocar pedras de carvão, uma a uma, dentro do pequeno orifício na fornalha.
Prestes a chegar de novo ao local de partida, não deixo de pensar o longo caminho que a tecnologia e a humanidade percorreu. Hoje, um divertido e curioso engenho, foi outrora um imprescindível suporte de trabalho para muitos ganharem o pão, e imagino alguém percorrendo longos caminhos quase ao relento colocando pedrinhas de carvão na fornalha.Deixo este veiculo para trás, já com saudade, e um profundo agradecimento por alguém um dia se ter lembrado de preservar estes monstros, para que eu os pudesse apreciar. E continuar com um sorriso na face mesmo agora enquanto escrevo estas linhas, dias depois.

Saturday 17 May 2008

O "Carocha dos ares"


Parece impossível que este helicóptero seja tão velho como uma pão-de-forma Split. E que continue a ser um dos melhores e mais versáteis helicópteros disponíveis no mercado mundial.

Por Mike Silva

Em Outubro de 1961, o Exército dos Estados Unidos lançou um concurso para a construção de um helicóptero ligeiro de observação, e a Bell Helicopters, utilizando a sua experiência no ramo, com o Pioneiro Bell 47, ganhou o concurso entre concorrentes de peso como a Hughes, e a Fairchild ,apresentando o modelo 206.Nascia assim , o modelo que associamos mentalmente , sempre que ouvimos a palavra "Helicóptero".
Lembro-me de quando andava na escola secundária, de temer que devido ao 206 já ter cerca de duas décadas, (isto em 1983,claro), que quando fôsse "grande", já não pudesse usufruir e experimentar aquele ícone dos ares. Para ajudar à festa, a série de culto de qualquer jovem adolescente que pendurava posters da Nina Hagen e da Kim Wilde na parede do quarto, chamada "A team" ( grotescamente traduzida para "os soldados da fortuna"), estava sempre recheada de 206 a fazer "avarias" de pôr os cabelos em pé. E depois, para o golpe final, surgiu o filme de culto e a série sobre o "Blue Thunder", onde mais uma vez, o invento de Leonardo da Vinci que Sikorsky tornou realidade, era o personagem principal. E depois, fui para a Força Aérea! Pronto!

Era para ficarmos preocupados, sempre que vissemos o filme de 1969 "Dirty Harry", e os helicópteros de serviço fossem os 206! Ora bolas, toda a gente fala no perigo de um parque automóvel envelhecido, referindo-se a AX com dez anos, porque carga de água nós nos iamos meter dentro de um modelo com mais de quarenta?
Para já, porque o modelo continua a ser fabricado por todo o mundo, sob licença da Bell Textron. O seu motor, uma actualização do original Allisson 250 , vai já na versão , penso que J.Desenvolvendo uma potência de 420 Cavalos, é mais do que o suficiente para levantar um peso total de 1450 Kg do chão. Vazio, pesa menos do que um Opel Corsa, cerca de 780 KG. E vai mais longe ,e mais rápido, fazendo 693 Km com um depósito,a 224 Km/h. E não paga portagens.




O pior, é para estacionar 80 metros quadrados de disco, especialmente com duas pás a girar a toda a velocidade. Não dá muito jeito nos Hipermercados. Especialmente os subterrâneos.

Todo o peso de um helicóptero, é sustentado por um rolamento. Este rolamento, como convêm, tem de ser muito resistente para suportar cargas e temperaturas elevadas. Não é muit saudável, se este rolamento falha a 100 metros de altitude. E não é nada fácil , nem barato, substituir este rolamento. Para terem uma idéia, podem pôr um helicóptero dentro de um saco de plástico, e andar ás cacetadas com ele contra a parede, que embora fique feito num bolo, o mecanismo do rotor e do rolamento ficam de certeza intactos. É uma peça que está muito próxima do conceito de "esculpida".

Por isso, os nossos amigos da Bell, equiparam este modelo com uma chumaceira de Teflon. Uma espécie de plástico auto-lubrificante, que não necessita de manutenção, nem de tecnologia de ponta. Esta idéia, tornou os 206 em modelos mais acessíveis do que a concorrência, tornando os Jetranger num dos mais populares,versáteis e seguros helicópteros de todos os tempos.
Tive de vir para Inglaterra para experimentar um Jetranger. Embora em termos financeiros e particulares, eu só consiga aceder ao pequeno Robinson R22, tinha de averbar no meu livro de experiências a sensação de estar aos comandos de um Jetranger. Nunca ter voado num Bell 206 Jetranger, era como estar no café a falar sobre carros, e nunca ter andado num carocha.


É impressionante, a resposta do pequeno Allisson, que embora apenas com dois ocupantes, consegue uma operação desenvolta e de reacção rápida. Parece que estamos a bordo de um modelo muito mais potente, como um Twin Squirrel. Nem parece que este modelo foi criado há mais de quarenta anos. Este modelo que aqui trago hoje, onde efectuei um pequeno vôo de meia hora na região de Cheshire, próximo de Manchester, foi fabricado em Itália pela Agusta, em 1992.

Durante todo o vôo, devido à excelente insonorização e aos acabamentos, podia-se conversar aceitávelmente, tornando este modelo numa ainda boa escolha para um uso executivo. O acesso ao habitáculo é excelente, dispondo de um patim para o acesso aos lugares posteriores. A divisória entre a frente e a traseira, dificulta a comunicação, embora esteja disponível o inboard communication, com os headfones para os bancos traseiros ( opcional).

A vista para o exterior, principalmente em manobras de Reversing e de aterragem , é amplamente facilitada pela grande superfície vidrada, e dos característicos óculos inferiores dianteiros. A instrumentação, é de fácil leitura, e a um nível de visão que permite uma fácil e rápida consulta.
Existem no mercado actualmente , versões mais requintadas e desenvolvidas de transporte em Helicóptero. Temos os modelos Eurocopter, e o também popular Ecureuil. Mas voar num Jetranger 206, é um must para qualquer apreciador que se preze. Algo religioso e obrigatório. Achei o 206 uma aeronave muito honesta e capaz, acessível e sedutora, mesmo com quarenta anos de design. talvez por isto, tenha tanto sucesso a nível mundial.
Gostaria de experimentar o atrevido e nervoso Hugues 500, com aquelas pás todas a girar frenéticamente sobre o pequeno formato de ovo. "Loach", como lhe chamam os americanos. Mas vai com o tempo.Para já, O 206 mantém o ceptro do mais emblemático helicóptero civil em que já voei. Porque para destronar o Chinook, ou mesmo o Allouette, o pequeno 206 tem de comer ainda muita massinha...












Thursday 15 May 2008

Passear de autocarro clássico por Inglaterra

Um AEC Reliance, como os que tinhamos nos anos setenta...

Quem me conhece, sabe que gosto de pisar os caminhos menos trilhados. Um dos meus mantras, é o de que "só os peixes mortos vão com a corrente". No início dos anos oitenta, quando toda a gente estava desenxofrida para comprar AX e Unos novinhos em folha nos Poligrupos, eu insistia em circular com carochas, amiúde bloqueados por vizinhos que estacionavam atrás, pensando que eram carros abandonados. Não eram, conforme muitos descobriram quando a SACHS da policia aparecia para os multar por mau estacionamento. Toma lá uma multazita para não pensares que isto é só para os carrinhos novos.

Hoje em dia, qualquer cão e gato julga que sabe de carochas, e provavelmente tem um. Os encontros passaram a necessitar de um crédito pessoal para obter a inscrição, e é mais comum ver um carocha, do que um AX. Por isso, decidi rumar a outra faixa dos clássicos, pouco frequentada e de onde posso tirar um prazer e uma experiência única e acessível. Os autocarros!
Ninguém passa cartão aos autocarros! " São muito grandes ", "Não têm sítio para guardar", " são dispendiosos de manter", são algumas das desculpas mais comuns. Todas falsas, e proferidas por quem pouco percebe da coisa. Dá-se o desconto. Ainda bem, porque assim , a cena dos autocarros clássicos poderá ficar a salvo dos doutoures e dos endinheirados de camisa de marca, por mais algum tempo. Nem vou aqui dizer o quanto estão errados, nem como é tão estupidamente simples possuir e manter um autocarro, porque senão começavam a pedir um balúrdio por um Kassborer Setra todo pôdre...Já sabemos como é que é.
Aos comandos de um Bristol VR. Do meu clube P.O.P.S...

Deixemos os autocarros para os conhecedores. Um autocarro, é um veículo social. Permite que várias dezenas de pessoas sejam transportadas, e o convívio surge naturalmente. Permite que pessoas que não têm posses para adquirir um clássico, ou não estejam pura e simplesmente para aí viradas, tenham um contacto com a cena dos clássicos, e percebam um pouco o pulsar desta comunidade de amigos. E se alguém tivesse menosprezado esta relíquias?

Sobretudo, permite uma avalanche de memórias e sentimentos profundos, impossíveis de atingir com qualquer outro veículo. Circular num autocarro clássico, cheirar a napa dos bancos, sentir o ranger dos varões, ouvir o ressonar dos carretos da caixa de vleocidades, e ser abanado pela passagem das mudanças, transporta-nos imediatamente para o tempo em que tudo era mais simples e eramos mais felizes.
Ora aqui está algo que não vemos todos os dias...

Circular por entre os campos de giestas e de verde contagiante, ao som de um poderoso e antigo "seis cilindros em linha", dividindo a atenção ao exterior com a contemplação do interior que resistiu a um uso intensivo e por vezes vandalizador, é algo impossível de explicar. Só experimentando. É GRATÚITO!
Não troco uma simples viagem num autocarro com várias décadas, onde os meus sentidos são fortemente chocalhados por memórias , por um passeio em bichinha pirilau atrás de MGs e Carochas. A pagar balúrdios. Mas isto sou eu, não liguem. E não liguem aos autocarros por aí espalhados, pois não vale a pena. Não são descapotáveis, nem têm clube. Não se preocupem, que os Ingleses e Alemães vão aí abaixo com uns semi-reboques "limpar" o nosso quintal desses montros horrorosos.

Não se preocupem. Em breve, estará tudo limpinho...








Monday 12 May 2008

Ainda acerca dos encontros de clássicos


Pensei que isto era só em Inglaterra. Isto de não se cobrar nada nos encontros de clássicos, e cada um trazer o seu farnel, sem correr o risco de ser olhado de lado, como "pobretanas". Já o ano passado em Katowice, na Polónia, foi o mesmo.Não se pagou nada, e até houve cervejas á borla. Na Alemanha, em Kassel, idem. (Já com os franceses, nada, pois também são gananciosos)

Regressado da Irlanda, onde matei dois coelhos com uma cajadada só, frequentei um encontro de clássicos em Ballymena. Mais uma vez, nem sinal do "restaurante" , da "inscrição", do "porta-chaves" e da "T-shirt" . ( Bom, espero que os encontros ainda tenham a decência de dar uma migalhinhas em troco dos altos valores que cobram...Não me digam que nem isso dão agora?...)

Eis que "apenas" me foi proporcionado um extenso relvado, e um lago . E uma banda a tocar. A "Inscrição", foi ter de ir com dois colegas irlandeses encostar a barriga ao balcão do Pub, e beber duas Guiness.

Tenho pena dos meus amigos entusiástas em Portugal, doentes por clássicos como eu, que ainda não conseguiram curar-se do "embuste" dos restaurantes. O restaurante, é uma desculpa esfarrapada para cobrar umas dezenas de Euros aos participantes.

Ora porque carga de água, digam-me lá vocês, eu que arranjo um carro, restauro um carro, faço-lhe o seguro, mantenho-o, e trago-o a um encontro, tenho de pagar "inscrição".

Expliquem-me, se faz favor, que eu, sinceramente não percebo!

O trabalho da "organização"? Eu encho já um autocarro de pessoas dispostas a trabalhar gratuitamente num encontro. Conforme eu trabalhei em muitos em Portugal, enquanto o espertalhão do organizador ensacava as notas...

Organizar? Organizar o quê? Um espaço amplo para todos confraternizarem?Uma praça de um município ou um jardim? Andar para tras e para a frente a passear um colete a dizer "organização" e a dar palmadinhas nas costas aos "Dr." e "Eng"?

Mas eu dou o desconto. Eu compreendo. No clube onde sou sócio em Lisboa, há mais de 15 anos, um dos participantes era jocosamente ostracizado por trazer um "Tupperware " com sandes . É um senhor reformado , muito participativo, mas relegado por causa dos "senhores" dos restaurantes. Nunca mais vi o senhor. Possívelmente, sentiu-se envergohado de não poder ir como todos os outros ao restaurante.

E pronto. Temos assim os encontros transformados em eventos para pelintras em bicos dos pés, que nem comem durante a semana para poderem ir a um encontro, e para ricos e privilegiados.

Poupo-vos o trabalho de me vilipendiarem: " Então se gostas tanto disso aí, fica por aí". Jà adivinho nas muitas cabecinhas que conheço.

Ah pois fico! Ao menos posso escolher por entre dezenas de encontros gratuitos, que são sempre um sucesso, porque possibilitam ás pessoas frequentarem estes importantes eventos que fomentam a preservação do veículo clássico.

No fim de cada evento destes, convivi com pessoas de todos os extratos sociais, de todos os backgrounds profissionais e sociais, e sobretudo fiz amigos .E passei a tarde a rir, a falar, e a confraternizar. Não se incomodem comigo, que eu por aqui estou entre os meus...

Acompanharei os encontros portugueses na "Caras" e na "Lux"...


Friday 9 May 2008

Um achado digno de uma Raínha!



Isto dos boatos, e das conversas sobre "um amigo dum amigo", têm uma vantagem: Por vezes, muito poucas vezes, são verdadeiros.

E se um gajo vos viesse dizer, que sabia onde estava um Rolls-Royce, que tinha pertencido ao Palácio de Buckingham, adstrito ao uso de Elizabeth II enquanto Princesa, e que tinha passado os últimos quarenta anos nos EUA, tendo sido trazido para a Irlanda , onde repousava num barracão?

Tenho impressão, que nem aqueles gajos que encontramos nas concentrações, e que " também têm um Jaguar E e um SLK", eram capazes de semelhante feito. Mas foi isso precisamente que aconteceu. Eis-me neste momento no Norte da Irlanda, a fazer os preparativos para levar este carro para Inglaterra, onde será restaurado ao promenor.

O proprietário, não me autoriza a dizer mais, nem sobre a actual localização, nem sobre onde ele vai ser recuperado, mas isto é uma operação que envolve proprietários que vão para o trabalho de helicóptero. De dois motores.


Para os meus amigos aqui do Sala das Máquinas, eis as primeiras fotos em Exclusivo mundial, deste carro que regressa a casa após quarenta anos. O motor trabalha, mas a embraiagem e os travões estão colados. Já experimentaram descolar os travões a um Rolls-Royce de valor incalculável? Não serve um martelo de bola!

Assim que possível, esperem mais fotos e desenvolvimentos na revista de referência dos clássicos em Portugal, num quiosque perto de si...
God, I love this country!

Saturday 3 May 2008

Ford Fiesta ST: O foguete de bolso



Nunca passei grande cartão a utilitários em que a marca coloca umas jantes especiais, e uma sigla na bagageira, e os vende em fim de carreira mascarados de "edições especiais". A última excepção que me lembro, foi com o Polo 16 válvulas, e claro, com a "arma" dos criminosos da Vasco da Gama, o enervante Saxo.

Acho dinheiro mal gasto, comprar um "carrito" , quando podia estar ao volante de algo mais diabólico , mesmo com uns anitos em cima. Não sei porquê, mas um M3 ou um Celica , ou mesmo um Supra , fabricados na época em que ainda não tinhamos a moeda da desgraça ( Se não sabem a que me refiro, devem estar no estrangeiro como eu...), são imensamente mais sedutores do que estes brinquedos novinhos e caríssimos propostos á geração do Cartão de crédito e do dinheiro fácil.


Quando me surgiu a oportunidade de testar este modelo em Inglaterra, confesso que não me senti lá muito entusiasmado, por ir experimentar basicamente aquilo que considero o carro de um gajo que mora num prédio em Massamá, e trabalha num escritório. O que é que este carro tinha de "Máquina"?

Mas lembrei-me, que há cerca de um ano e meio tinha experimentado o então novíssimo Focus ST, e subitamente mal podia esperar por "arear o queijo" neste Fiesta. As riscas na carroçaria, seriam uma colagem ordinária ao "Viper", ou seriam mesmo indicadoras de que o pequeno "Sport Technology" era para ter em conta?

A sensação que confirmo cada vez mais com os produtos Ford, é a de que estes carros são extremamente bem construídos: Sente-se a robustez, no tacto dos materiais, e a preocupação da escolha dos revestimentos. Sinto realmente que alguém esteve a trabalhar para o meu "feeling", e fico automáticamente preparado para o que se segue.

O motor Duratec de dois litros, sobe de rotação rápidamente e puxa a pequena carroçaria juntamente, com grande autoridade. A "medo" faço o percurso para experimentar, mas passadas algumas voltas, eis que começo a aperceber-me que estiveram aqui mãos com "Background"desportivo. O ST, curva impecávelmente, e a taragem das molas parece-me adequada. Por mais que tente, o exterior da carroçaria não "afunda" em demasia, assumindo um bom compromisso entre desportividade e utilização citadina.



A pouca desmultiplicação da direcção, faz deste carro um potencial companheiro para um dos inúmeros "Track Day" que se realizam com abundância por aqui e por ali. Aqui, não são precisas Vasco da Gama, nem adolescentes com telemóveis. Curva após curva, o meu entusiasmo sobe, bem como o conta-rotações. Tento provocar a traseira, que como é óbvio, reage prontamente à pequena distância entre eixos , e provoca algumas "inversões de marcha" involuntárias.







Tudo sobre este carro, é acerca do curvar. O motor de dois litros, faz o resto, resmungando o caminho todo, queixando-se da posição do acelerador, e do castigo a que é imposto. Um escape completo "Remus" ( Não é "Remos" , é "Rimaz"), produz um som de saxofone capaz de nos drogar imediatamente, e a abençoar cada Pence que ainda resta no depósito para continuarmos a ouvir esta música. Uma espécie de Elefante enervado a soprar pela tromba para dentro de uma manilha de esgoto. Vou tentar gravar isto para ouvir no MP3.



Vocês têm de ver a recuperação deste carro! Deixa-se "morrer" até fazer a curva, depois, basta "pisar-lhe " o rabo, que é ver o ponteiro a subir! Magnífico! Não é preciso pôr uma "abaixo" como noutros carritos falsificados. Os dois litros espremidos nesta caixinha de sapatos, são uma central nuclear à disposição. O motor não grita, mas ameaça com voz grossa que nos vai atirar borda fora, se não paramos de o provocar.

Este carro é perfeito! Uma mistura de agilidade, com utilidade. É como se fosse possível ir ás compras de F16! Não tem aquela sensação de " camioneta" que temos com os Ibiza, por exemplo. Este carro tem pedigree, e não é uma mera camioneta de carga a gasóleo com um foguete aparafusado na caixa de carga. Este carro, é uma espécie de "Impreza dos Pobres" , se bem que dar os cerca de três mil contos em Inglaterra por este carro, não seja propriamente algo que relacionemos com rendimento mínimo.

Caraças, quero um carro destes! As curvas sucedem-se, e outra, e outra vez, e quero mais e mais . Isto é viciante. Agora compreendo o porquê das riscas azuis espanpanantes por todo o carro. É para avisar os "outros " nos semáforos, que vão passar por uma vergonha dentro de poucos segundos. Ah pois vão!

( Agradecimentos ao Especialista Ford de Staffordshire, Malcolm Parton)