Saturday 17 May 2008

O "Carocha dos ares"


Parece impossível que este helicóptero seja tão velho como uma pão-de-forma Split. E que continue a ser um dos melhores e mais versáteis helicópteros disponíveis no mercado mundial.

Por Mike Silva

Em Outubro de 1961, o Exército dos Estados Unidos lançou um concurso para a construção de um helicóptero ligeiro de observação, e a Bell Helicopters, utilizando a sua experiência no ramo, com o Pioneiro Bell 47, ganhou o concurso entre concorrentes de peso como a Hughes, e a Fairchild ,apresentando o modelo 206.Nascia assim , o modelo que associamos mentalmente , sempre que ouvimos a palavra "Helicóptero".
Lembro-me de quando andava na escola secundária, de temer que devido ao 206 já ter cerca de duas décadas, (isto em 1983,claro), que quando fôsse "grande", já não pudesse usufruir e experimentar aquele ícone dos ares. Para ajudar à festa, a série de culto de qualquer jovem adolescente que pendurava posters da Nina Hagen e da Kim Wilde na parede do quarto, chamada "A team" ( grotescamente traduzida para "os soldados da fortuna"), estava sempre recheada de 206 a fazer "avarias" de pôr os cabelos em pé. E depois, para o golpe final, surgiu o filme de culto e a série sobre o "Blue Thunder", onde mais uma vez, o invento de Leonardo da Vinci que Sikorsky tornou realidade, era o personagem principal. E depois, fui para a Força Aérea! Pronto!

Era para ficarmos preocupados, sempre que vissemos o filme de 1969 "Dirty Harry", e os helicópteros de serviço fossem os 206! Ora bolas, toda a gente fala no perigo de um parque automóvel envelhecido, referindo-se a AX com dez anos, porque carga de água nós nos iamos meter dentro de um modelo com mais de quarenta?
Para já, porque o modelo continua a ser fabricado por todo o mundo, sob licença da Bell Textron. O seu motor, uma actualização do original Allisson 250 , vai já na versão , penso que J.Desenvolvendo uma potência de 420 Cavalos, é mais do que o suficiente para levantar um peso total de 1450 Kg do chão. Vazio, pesa menos do que um Opel Corsa, cerca de 780 KG. E vai mais longe ,e mais rápido, fazendo 693 Km com um depósito,a 224 Km/h. E não paga portagens.




O pior, é para estacionar 80 metros quadrados de disco, especialmente com duas pás a girar a toda a velocidade. Não dá muito jeito nos Hipermercados. Especialmente os subterrâneos.

Todo o peso de um helicóptero, é sustentado por um rolamento. Este rolamento, como convêm, tem de ser muito resistente para suportar cargas e temperaturas elevadas. Não é muit saudável, se este rolamento falha a 100 metros de altitude. E não é nada fácil , nem barato, substituir este rolamento. Para terem uma idéia, podem pôr um helicóptero dentro de um saco de plástico, e andar ás cacetadas com ele contra a parede, que embora fique feito num bolo, o mecanismo do rotor e do rolamento ficam de certeza intactos. É uma peça que está muito próxima do conceito de "esculpida".

Por isso, os nossos amigos da Bell, equiparam este modelo com uma chumaceira de Teflon. Uma espécie de plástico auto-lubrificante, que não necessita de manutenção, nem de tecnologia de ponta. Esta idéia, tornou os 206 em modelos mais acessíveis do que a concorrência, tornando os Jetranger num dos mais populares,versáteis e seguros helicópteros de todos os tempos.
Tive de vir para Inglaterra para experimentar um Jetranger. Embora em termos financeiros e particulares, eu só consiga aceder ao pequeno Robinson R22, tinha de averbar no meu livro de experiências a sensação de estar aos comandos de um Jetranger. Nunca ter voado num Bell 206 Jetranger, era como estar no café a falar sobre carros, e nunca ter andado num carocha.


É impressionante, a resposta do pequeno Allisson, que embora apenas com dois ocupantes, consegue uma operação desenvolta e de reacção rápida. Parece que estamos a bordo de um modelo muito mais potente, como um Twin Squirrel. Nem parece que este modelo foi criado há mais de quarenta anos. Este modelo que aqui trago hoje, onde efectuei um pequeno vôo de meia hora na região de Cheshire, próximo de Manchester, foi fabricado em Itália pela Agusta, em 1992.

Durante todo o vôo, devido à excelente insonorização e aos acabamentos, podia-se conversar aceitávelmente, tornando este modelo numa ainda boa escolha para um uso executivo. O acesso ao habitáculo é excelente, dispondo de um patim para o acesso aos lugares posteriores. A divisória entre a frente e a traseira, dificulta a comunicação, embora esteja disponível o inboard communication, com os headfones para os bancos traseiros ( opcional).

A vista para o exterior, principalmente em manobras de Reversing e de aterragem , é amplamente facilitada pela grande superfície vidrada, e dos característicos óculos inferiores dianteiros. A instrumentação, é de fácil leitura, e a um nível de visão que permite uma fácil e rápida consulta.
Existem no mercado actualmente , versões mais requintadas e desenvolvidas de transporte em Helicóptero. Temos os modelos Eurocopter, e o também popular Ecureuil. Mas voar num Jetranger 206, é um must para qualquer apreciador que se preze. Algo religioso e obrigatório. Achei o 206 uma aeronave muito honesta e capaz, acessível e sedutora, mesmo com quarenta anos de design. talvez por isto, tenha tanto sucesso a nível mundial.
Gostaria de experimentar o atrevido e nervoso Hugues 500, com aquelas pás todas a girar frenéticamente sobre o pequeno formato de ovo. "Loach", como lhe chamam os americanos. Mas vai com o tempo.Para já, O 206 mantém o ceptro do mais emblemático helicóptero civil em que já voei. Porque para destronar o Chinook, ou mesmo o Allouette, o pequeno 206 tem de comer ainda muita massinha...












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