( publicado no número de Abril da "Topos & Clássicos)
Por Mike Silva
Mas porque raio alguém iria perder tempo a escrever sobre uma corriqueira,banal e vulgar Ford Transit? É como estar a escrever sobre uma caixa de papelão!
A única ocasião que poderíamos eventualmente dispensar á Ford Transit, seria se precisássemos de fazer umas mudanças em casa, e fôssemos pedir emprestada a "Chassis comprido" do vizinho que trabalha nas obras. Ou então decidíssemos ir vender roupa contrafeita para o mercado de Azeitão...
Isto é uma injustiça! Náo podemos continuar a ignorar eternamente um veículo que tem propulsionado o mundo há cerca de quarenta anos. Se o Renault 4 é como um martelo que batemos até partir, a Transit pode ser considerada um torno. E uma bancada. E uma marreta.
Conhecida pelo terno nome de Tranny no Reino Unido, onde tem uma legião doentia de seguidores como convém, a Transit celebrou recentemente o seu 40.aniversário. Inicialmente incorporando um motor V4 a gasolina, utilizado no Taunus e nos modelos Saab, cedo instalou um propulsor Diesel á prova de bomba, que proporcionou milhões de quilómetros livres de problemas.
Isto é uma injustiça! Náo podemos continuar a ignorar eternamente um veículo que tem propulsionado o mundo há cerca de quarenta anos. Se o Renault 4 é como um martelo que batemos até partir, a Transit pode ser considerada um torno. E uma bancada. E uma marreta.
Conhecida pelo terno nome de Tranny no Reino Unido, onde tem uma legião doentia de seguidores como convém, a Transit celebrou recentemente o seu 40.aniversário. Inicialmente incorporando um motor V4 a gasolina, utilizado no Taunus e nos modelos Saab, cedo instalou um propulsor Diesel á prova de bomba, que proporcionou milhões de quilómetros livres de problemas.
Até ao seu aparecimento, o veículo de carga mais difundido no mercado era a célebre Volkswagen Kastenwagen, mais conhecida entre nós pelo incontornável nome de Pão de Forma.
Mas os conhecidos problemas de concepcção de interior, onde o motor ocupava grande parte do espaço disponível, e uma submotorização sofrível, levaram o público a aderir em massa ao aparecimento do primeiro comercial da era moderna. Subitamente, a Ford Transit não se negava a nada, franzindo o sobrolho a toda a tentativa desesperada da concorrência em apresentar uma rival.
Apesar dos puristas considerarem o modelo Transit Taunus de 1964 produzido na Alemanha como efectivamente a "primeira " Ford Transit, o sentimento generalizado convencionou chamar para Inglaterra o monopólio do culto, declarando o primeiro modelo como construido em Langley,Berkshire no ano de 1965. Uma versão britanica de motor a gasolina chamada "York" foi utilizada nos primeirosmodelos, embora para exportação estas carrinhas tenham utilizado o já falado motor V4. A propulsão Diesel, esteve a cargo do ultra-competente motor Perkins, na primeira série.
Quando nos dirigíamos para uma "bico de pato" , ou seja as Ford Transit do primeiro modelo que tinham a grelha sobressaída para poder alojar o motor Perkins ( As de gasolina tinham a grelha direita), sabíamos que iamos fazer algo de diferente. A não ser claro, que trabalhássemos nas obras, ou fossemos feirantes. Por isso vestíamos umas calças velhas e uma camisola rota. Iamos trabalhar no duro, fosse a fazer massa, ou a caregar móveis do segundo andar.
E ainda bem que o fazíamos! Muito antes de iniciar o trabalho, eis que entrávamos numa dimensão de destruiçao automóvel, apenas vista mais tarde nos "crash tests"...Os bancos, cobertos de camadas de pó que se podiam cortar com um serrote, encontravam-se sempre carcomidos, como se tivessem sido refeição de um grupo de cães raivosos . Normalmente, teríamos de nos colocar de maneira que apanhássemos um bocado de esponja ainda intacta.
Os cintos de segurança, enrolados há anos por entre jornais velhos, pacotes de batatas fritas e correntes de ferro, naõ eram possíveis de serem utilizados. Mas os "homens" não precisavam de cinto...
À nossa frente, a visão alarmante de um tablier prestes a abater sob um monte de recibos e papeis, cobertos de pó canetas rebentadas e parafusos, reflectia-se no para-brisas estalado com selos desde 1976. As palas do sol, permitiam acondicionar mais uns quilos de papéis.
Com um estremecer violento durante alguns segundos, o motorista contorcia-se sobre a chave de ignição cerrando os dentes, esperando que o pastelão Perkins acordásse. Após terem caído para cima das pernas cerca de dois quilos de jornais amarelecidos que tombaram do tablier, uma torrente de fumo e um suspiro motriz característico anunciavam com uma voz autoritária que o lento e bruto motor tinha pegado.
Por detrás de uns meramente figurativos mostradores, procuravamos apontar o focinho sobressaído da carrinha, para a direcção que pretendíamos, embora tivéssemos que fazer conta á folga da direcção. Qualquer posição da manete das mudanças que escolhêssemos , servia para pôr a Transit em movimento. Seja como fôr, também não conseguiríamos saber qual delas tinhamos engrenado...
A Ford Transit, tinha sido feita para não ser reparada. Tinha sido feita para que a última vez que visse um concessionário Ford, fosse o dia da compra. Mas também não se justificava; Arames e paus há em todo o lado. Manutenção era uma palavra elaborada para descrever o acto de verter " a olho" um óleo ( qualquer) para dentro do motor.
quando uma Ford Transit precisava de uma "reparação", era sinónimo de que iria entrar numa nova fase da sua vida; A de servir de arrecadação até apodrecer. O que não demoraria muito.
Hoje, passados quarenta anos, a Frod Transit é um mero aglomerado de plásticos e componentes electronicos caríssimos,e apenas uma das muitas escolhas que alguém pode fazer no mercado, e o ceptro de Rainha do transporte ligeiro está entregue a um novo tipo de furgão, em que a Iveco Daily está fortemente posicionada.
Porem, o pó e os jornais continuam em alta, como decoração preferida do interior das FordTransit.