Monday 28 January 2008

Mas quem sou eu para estar aqui a falar sobre carros?

Não! Não estou aqui a escrever sobre automóveis porque tenho um Saxo com um ailleron na traseira, nem porque costumo babar-me para cima das revistas que falam de cilindradas e potências como quem barra um pão com manteiga.

Nem tampouco porque desejo ser politicamente correcto, e dizer aquilo que toda a gente já está acostumada a ouvir . Pérolas do tipo : " Com a qualidade habitual no grupo Volkswagen" ( Rir), ou " Os acabamentos neste modelo revelam a extremo cuidado posto na construção..."

Não. Nada disso. Se era isso que esperavam, podem continuar a ir á área de serviço comprar aquelas revistas decalcadas de números internacionais, traduzidas á pressão para agradar o " Manuel do Civic", e os putos do bairro que sonham com a Vasco da Gama...Não estou aqui pra agradar ninguém, nem colocar o meu pensamento a soldo de nenhum interesse.

Eu trabalho em automóveis, desde praticamente que me conheço. Comecei a aprender os nomes dos modelos e das peças, mesmo antes de ir para a primária. Quando entrei no primeiro dia de aulas, já sabia ler perfeitamente a " Auto Mundo".

Para fugir ao flagelo da droga, que clamou muitas vidas também na Margem Sul, o meu pai colocou-me a aprender o ofício na oficina do "Du", e do "Espanhol" De maneira que , com doze anos, comecei a lavar peças da maioria dos carros que agora são considerados clássicos. E a guiá-los, também, até ao dia em que a Policia me veio escoltar com o seu Peugeot 404 carro-patrulha até ao portão do "Espanhol" ..." Ó chefe! não deixe o puto conduzir! "

Após duas décadas de Bombeiros , especialista da Força Aérea, mecânico de marca e como técnico do ACP , achei melhor pegar no meu curso e vir para Inglaterra lidar com automóveis clássicos, porque em Portugal, só podia ir ao Estoril se fosse filho de alguém conhecido. Em Portugal, restava-me umas provas de AX e Ford Fiesta, e mesmo assim lá estava o Securitas no túnel a perguntar se eu tinha credencial...

Mal cheguei a Inglaterra, o meu novo patrão diz-me com um ar preocupado que tem de me manda um mês para Chichester, no sul de Inglaterra para tirar um curso na Rolls-Royce! Que maçada!...Aqui estava eu perdido em Inglaterra , o pais do automóvel clássico, com 1001 autódromos e pistas de aviação desactivadas, abertas ao público de um modo fraterno. Silverstone, Oulton park,Goodwood, Donington e Anglesey tornaram-se numa espécie de "ir ao Colombo" ao fim-de-semana. Sem o Securitas com um transmissor a deixar entrar apenas a "Micá", e o " Sebastião Vasconcelos e Sá".

Assim, entre viagens aos EUA e França, tenho convivido de perto com ícones fortíssimos do mundo automóvel, bem como as suas mais importantes figuras. um dos episódios mais marcantes , foi a possibilidade de ter "conduzido" devagarinho um Bugatti Veyron, o ano passado em Goodwood com um engenheiro da VW. E ter conhecido pessoalmente Sir Stirling Moss. E Jeremy Clarkson. E Stig Blomqvist. E Michelle Mouton,Lewis Hamilton, Keke Rosberg, Richard Petty, Hannu Mikkola, Mika Hakkinen, Rauno Altornen,e...

Quando falo sobre automóveis, podem ter a certeza que já esmurrei os nós dos dedos em muitas bombas de água, já me esfreguei tardes intermináveis por baixo deles a tentar desmontar uma caixa de velocidades, a berrar asneiras de fazer corar o Fernando Rocha, porque o martelo escapou, ou porque um parafuso "moeu",e sobretudo que continuo a encará-los como uma importantissima parte da nossas vidas, a maravilhar-me com um produto que consegue reunir num só corpo, as maiores descobertas da humanidade como a roda, o fogo, a electricidade , a fisica e a quimica.

Bem vindo ao Blog sala das máquinas, coordenado a partir de Inglaterra.

PS: Ah, já agora, tenho doze horas de voo em Robinson R22...

1 comment:

nando007 said...

Felicidades para o blog!
Vou estar atento a novos desenvolvimentos.

PS: Já agora, o Jeremy Clarkson é assim tão doido por Velocidade, como revela nos seus programas?