Sunday, 26 April 2009

Vendem-se locomotivas


Ferro, ferro, e mais ferro: Até o interruptor das luzes é de ferro!


Anos 1954 e 55. 35 000 centímetros cúbicos, 3600 Cavalos de potência cada uma, escolha de três. Precisam de uns toques de pintura. O interessado tem de tratar do transporte. Sem inspecção nem documentos. Ofertas a partir de 15 000 Euros cada.

Estas locomotivas dão um excelente ornamento de jardim, para colocar vasos em cima. A cabine de comando pode ser transformada em sala de jantar ou mesmo um quarto. Seja como fôr, elas encontram-se absolutamente operacionais, e podem voltar a ser utilizadas em qualquer parte do Mundo, com pequenas reparações.

Habituados que estamos a ir aos ferros-velhos para comprar portas para Citroen AX, ou para procurar transmissões em segunda mão para Ford Fiesta, eis que os ferros-velhos em Inglaterra disponibilizam LOCOMOTIVAS juntamente com máquinas de lavar e andaimes ferrugentos.

Como drogado irremediável de tudo o que tenha um motor acoplado e deite fumo, não podia deixar de parar neste ferro-velho e ir ver o que se passava. Parar, é um eufemismo: Travar a fundo sem olhar para o trânsito dominical que me seguia por uma bucólica paisagem da Inglaterra central, e guinar abruptamente sem explicação para dentro do recinto do ferro-velho.


Fogão Junex? Não. O painel de controle de uma locomotiva para venda!


Ainda não consegui digerir a imagem de três veículos de 70 toneladas e com a potência de doze Veyrons pintados em cores garridas , abandonados contra um céu agradavelmente azul. Esperam um novo dono, ou como suspeito, a Siderurgia. Pode ser que a imensa tradição ferroviária salve estes exemplares do alto forno, derretidos para serem transformados em cafeteiras e suportes de toalhas. Seria uma pena.

Como se parece um motor com 35000 cc? Ahhh! Com um guarda-fato! Combustível: Tudo o que queime. Gasolina,Gasóleo, Nafta, Azeite, óleo Fula...


Quinze mil Euros não é muito dinheiro: Pelo preço de um Seat Ibiza de dois lugares em segunda mão ( rir) podemos ter um " amassa-Ibizas". Já que é para deitar dinheiro para a rua de um modo irreflectido, porque não? Imaginem fazer espetáculos pelo País com uma locomotiva a amassar Citroens(Quaisquer) e Ibizas de dois lugares a gasóleo. Pagaria o investimento em poucas demonstrações...

Ódios à parte, por muito estranho que pareça, já existem interessados nestes exemplares que os especialistas da matéria classificam de "early Diesel". Uma era de transição do Vapor para as modernas Diesel de alta-pressão da actualidade. O Futuro o dirá. Entretanto, se houver alguém interessado, o Sala das máquinas cobra uma comissão. Toda a receita vai para uma obra de caridade que visa retirar das estradas definitivamente AX e BX. Contribua para uma boa causa.

Um lugar ao Sol: Um fogareiro de dez mil cavalos no quintal...Porque não?

Friday, 17 April 2009

Fieseler Storch já voa!


Independentemente da ideologia reinante, os alemães sempre atiraram na nossa direcção máquinas extremamente competentes ,surpreendentes versáteis. Todos conhecemos o sucesso Mundial do Carocha ,por exemplo. A capacidade técnica que os alemães em tempo de guerra, deu água pela barba aos meus anfitriões ingleses, e não fosse o meu vizinho Mitchell com os seus Spitfires e a coragem sobre-humana da RAF, hoje poderia muito bem estar em Manchesterwald, ou os Doubledeckers de Londonfurt serem Mercedes.

O Fieseler Storch ( Cegonha), era um avião de transporte robusto e versátil, que permitia aterrar e descolar num campo de Futebol. Deu muito jeito a muito oficial Nazi para se pôr ao fresco quando as coisas apertavam, e mesmo a Mussolini, que fugiu num quando tudo deu para o torto. ( Mas foi apanhado dias mais tarde...)

Mike Silva, e um dos poucos Storch ainda sobreviventes no Mundo

Este exemplar aqui mostrado, contudo, é um "falso" Storch, e iniciou a sua vida em 1945 como um modelo francês Moranne Saulnier MS 502. Embora com fuselagem Fieseler alemâ, foi equipado com componentes franceses e motor radial. Foi utilizado pela Força Aérea Francesa no pós guerra para rebocar planadores, e perdeu a sua autorização para voar em 1951, e desde então tem servido para peças,guardado em barracões aqui e ali. O esforço do seu particular, conseguiu devolver o seu motor original "Argus", e autorização para uso civil pela CAA inglesa. A pintura foi escolhida de acordo com o último esquadrão activo Storch da Luftwaffe.

Peter Holloway, o proprietário e Piloto, garante que é actualmente o "Storch" melhor recuperado mundialmente, e o vôo do passado dia 11, mostrou isso mesmo. Tudo funciona na perfeição, e está tudo pronto para a época de shows de 2009.

Não se trata de demonstrar apreço por uma ideologia monstruosa, na forma de um aparelho militar de um regime opressor. Inglaterra teve também o seu equivalente, na forma do competente Westland Lysander, que colocava e retirava espiões em território inimigo pela calada da noite. O Fieseler Storch é uma parte importante da História que merece ser preservada. Quanto mais não seja , para lembrar continuamente de que não foi há tanto tempo assim que a intolerância e procura demente pelo Poder levaram o Mundo por terrenos que o Homem nunca deverá jamais esquecer.

Este é mais um exemplo de que o apreço pelas máquinas não deve parar no consensual e no fácil, mas experimentar percorrer os caminhos mais impensáveis. O resultado está à vista, um exemplar clássico restaurado em condições de vôo para a porterioridade.

Tuesday, 7 April 2009

A cafeteira mais rápida do Mundo!





Adoro Inglaterra por causa disto: Quando se fala em "vanguarda Automóvel", não estamos a falar de salões com milhares de visitantes a ver carros estacionados sobre carpetes. Quando se fala em " novidade no sector automóvel", significa que antes de terminar a frase, Inglaterra está algures num campo mais ou menos escondido dos olhos do público, ou num aérodromo a fazer coisas que não lembra a ninguém. A inovar. A tornar-se na "vanguarda".

Uma das características fundamentais deste reino, é que nada é tido como seguro ou desactualizado, e a palavra "Impossível" é muito pouco conjugada. Tudo está em aberto, tudo está sujeito a debate e a experiência, e existe um sentimento industrial forte e expedito.

Os esquentadores automáticos estavam a ficar cada vez mais complicados...

Quando se fala em vapor, somos levados a pensar que estamos a falar de uma tecnologia obsoleta e ultrapassada. Comboios fumarentos e fábricas da revolução industrial. Errado. Qualquer drogado pela tecnologia que se preze, qualquer entusiasta que tenha meia dúzia de conhecimentos, sabe que o vapor como fonte de propulsão tem andado pela História desde o tempo dos Fenícios, e continua a ser empregue largamente na Indústria de ponta e militar da actualidade, como nas centrais termo-eléctricas , ou na propulsão de porta-aviões e submarinos .

No início do Séc. XX, os carros a vapor eram a norma, muito mais rápidos e difundidos que os a Gasolina, onde o Stanley Steamer deu cartas até ao aparecimento do Ford T. O vapor, sempre foi aquela energia que desprezámos, porque sempre tivémos o Petróleo ou o Nuclear. Mas o honesto e poderoso vapor, sempre esteve ali, esperando servilmente pelo nosso olhar de apreço. A propulsão a vapor é fácil de produzir, e os "combustíveis" abundantes. Água e alguma coisa que queime. Lenha. Carvão. Óleo.


O meu primo é um comboio a vapor...

O motor a vapor é o único motor que dispõe de cem por cento da potência estando parado. Um centímetro de movimento da cambota, e toda a potência dísponível é entregue com um binário demolidor. Hoje lembrei-me de trazer aqui, algo que apenas dentro de alguns meses os jornais irão começar a falar. Quando lerem isto nalgum lugar, já sabem que há cerca de uns meses que um Português anda em cima do assunto, in loco.
No fim de semana passado, foi testado em Chichester este carro, que visa quebrar o record do Mundo de velocidade num carro a vapor estabelecido em ...1906! Este carro, apenas conhecido por "The Kettle" ( A cafeteira) pesa três toneladas, e tem três quilómetros de tubagem para aquecer água, repartidos por 12 caldeiras! Cerca de 50 Litros de água por minuto são injectados nas tubagens e aquecidos a 400 graus centígrados por bicos de queima de GPL. A força gerada permite fazer funcionar uma turbina que gira a 13000 RPM.

O desvio da trajectória será calculado por GPS, e sensores espalhados pelo carro avisam o piloto sobre problemas tais como baixa pressão nos pneus ou sobreaquecimento dos travões. Este carro possui quatro baterias de 90 amperes para fazer funcionar computadores de bordo,e todo este equipamento. Como qualquer "bomba" que se preze, a travagem é auxiliada por um pára-quedas.

Fazer um cházinho para acompanhar as torradas era cada vez mais difícil...


Pilotado por Don Wales, neto de Sir Donald Campbell, que outrora também bateu tanto os records de velocidade na água e em terra, este " esquentador" há-de ser transportado para o deserto Mojave na Califórnia, em Junho, para tentar bater o record do Mundo. Actualmente, apenas efectua testes aqui em Inglaterra, e os meus amigos que acompanham o Sala das máquinas estão em posição privilegiada para saber mais detalhes antes de toda a gente.

Eis o acordar de uma tecnologia que todos julgávamos esquecida e adormecida.