Para que queremos um carro rápido? Resposta: Para andar depressa. Mas para que um carro ande depressa, temos de gastar muito dinheiro. Para termos um carro que ande depressa, podemos começar por ir para a Vasco da Gama, aprender como colocar ponteiras do Continente e fazer reprogramações nas centralinas. E matar uns inocentes enquanto adolescentes imberbes no banco de trás filmam no telemóvel.
Para andar um pouco mais depressa, podemos empenharmo-nos até aos cabelos, e comprar um "burgessomobil" cujo representante mais conhecido, utiliza a sigla BMW. O W é para disfarçar. Sim senhor. Boas máquinas. Mas não foram carros construidos exclusivamente para proporcionar velocidade. A partir daqui, trona-se muito dificil de aceder a carros REALMENTE velozes. Por mais um punhado de trocos e insanidade, podemos aceder ao território veloz de Porsches, Subarus, Caterhams ou Evolutions XXVII. Se nos sair o Totoloto, podemos mesmo comprar um Ferrari ou um Lamborghini.
Se nos tornarmos em vedetas internacionais, ou em artistas de Cinema de renome, podemos colar as costas no assento de um Veyron, de um Zonda,ou de um LP 640... Por isso, sem ser o Lotus Seven/ Caterham ,não temos realmente grandes hipóteses de sentir na pele, o que é isso de velocidade a preços acessíveis.
Não é bem assim...
É que em Inglaterra, num barracão com nove empregados, uma empresa quase centenária, lembrou-se de fazer o Nirvana automóvel, um modelo que é a génese da velocidade sobre quatro rodas. Uma máquina, cujo propósito fundamental- e único- é proporcionar velocidade. E isto ao preço de um Ford Focus em segunda mão! O Ariel Atom!
Não esperem grandes extras. Aliás, não esperem nada! Nem bancos estofados, cinzeiro, ou vidros eléctricos. Nem sequer um pára-brisas. Aliás, nem sequer uma carroçaria! Umas rodas e um motor, é quanto podem esperar , quando comprarem um Ariel. É o que é que o Ariel dá em troca? Simplesmente o carro de produção mais rápido do Mundo. Sim, este pequeno escaravelho , é o mais próximo que os meus amigos têm de ser amarrados a um míssil.
Estofos em pele...só se formos em tronco nú... Reparem nas "portas"...
Nada pode descrever o que é viajar num Ariel. Nada! Imaginem que estão a cair de um precipício, com um motor a jacto a empurrar-vos para baixo! Este carro tem uma relação peso-potência que é o DOBRO da do Veyron! Apesar de utilizar um "mero" motor Honda Type R modificado, o seu peso insignificante faz com que as rodas patinem EM TERCEIRA, se necessário! Aceleração, é algo que jorra como uma torneira aberta pelo Ariel.
A sucessão de travagem e aceleração violenta que experimentamos num Ariel, é o equivalente a ser jogado pelas escadas abaixo dentro de um latão do lixo! Perdemos a noção de onde estamos, e só queremos que tudo acabe depressa. O ar a assobiar por entre o " quadro" ( Não há cá carroçaria!) empurra-nos a pernas e gera uma corrente de ar mais comum a um túnel de vento do que a um carro. Parece que alguém desatou a disparar tiros de caçadeira no meio de um recinto com búfalos selvagens!
Nas curvas podemos ver os travões em funcionamento, a suspensão em funcionamento, a direcção em funcionamento,porque nada nos retira a visão, e tudo está ali para que possamos apreciar o que noutros carros fica escondido.
Comparar a capacidade de aceleração deste projéctil, com qualquer outro carro que conhecermos, é comparar o incomparável. Este predador " limpa " toda a concorrência, sejam eles M3,Veyrons,Lambos, Caterhams ou Porsches. Mesmo motos em circuito! É injusto competir com este carro, a menos que seja outro Atom...
A tampa azul clara junto ao amortecedor...é o porta-bagagens! Para levar a carteira! Mais nada!...
Só temos de nos contorcer violentamente , fechar em concha e baixarmo-nos o mais possível por detrás do pequeno ecran improvisado que não vem de fábrica, mas o dono ali colocou porque se não ninguém conseguia andar naquilo, e apreciar a sinfonia de borracha que urra pela frente e por trás, enquanto somos jogados para todos os quadrantes como se fôssemos um boneco de trapo. As mudanças entram sem embraiagem,porque sinceramente as rodas estão permanentemente ocupadas demais a patinar, para poderem fazer seja que atrito fôr na estrada... A tomada de ar mesmo por detrás da cabeça, troveja e ecoa por dentro do capacete, castigando-nos por sequer ter ousado entrar dentro de um Ariel. A paisagem torna-se apenas numa mancha disforme que ameaça sugar-nos para uma quinta dimensão.
...Sentimo-nos como se estivéssemos a ser empurrados dentro de um caixote de papelão propulsionado por um motor de um F-16!
Esqueçam tudo o que sabem sobre carros! Esqueçam a voltinha em qualquer carro de sonho. Nada se compara ao puro extase que é circular num Ariel. Chamem-lhe uma tábua com um motor. Chamem-lhe doença mental. Chamem-lhe o que quiserem. Eu chamo-lhe "Bloody unforgetable"." Inacreditável". Se querem saber o que é velocidade num carro, experimentem um Ariel. Se quiserem outra coisa qualquer, experimentem outro carro qualquer...