Tuesday 10 February 2009

O Spitfire não me sai da cabeça!


Isto é grave: Da última vez que me deu uma pancada assim, criei um website e comecei a perder fins de semana atrás de fins de semana a levar com chuveiros de ferrugem em cima, a dormir e a respirar o assunto.

O meu "namoro " com a aviação já vem de longe, e embora breves "divórcios" motivados por circunstâncias da vida, as reconciliações têm-se revelado cada vez mais ardentes e impulsivas. Estar no Reino Unido, um País com uma forte tradição aeronáutica e com mais de ...1600 aeródromos ( Mil e seiscentos, não é erro ortográfico!), ainda nos empurra mais para o fosso da dependência . Inglaterra para muitos é apenas um final de dia passado no café dos portugueses a ver a bola, olhando para ontem sem conseguir imaginar um amanhâ. Para mim, é uma oportunidade para conhecer de perto a fascinante história industrial e social de um País que deu ao Mundo figuras como Churchill,Shakespeare,Henrique VIII, Brunel, Bodicea, ou Reginald Mitchell.

Este último, responsável pela máquina que mudou o curso da História, evitando que o Reino Unido, última esperança na luta contra as forças do Terceiro Reich, caísse nas malhas deste. Se o Spitfire não tivesse existido, provavelmente andaríamos hoje em carros parecidos com um Porsche, e falar-se-ia alemão em Londonfurt. Ou em Manchesterwald.

Seja de que ângulo que se olhe o Spitfire, a extrema beleza das suas linhas e o apuro no desenho estão sempre presentes. Houve mão de artista na concepção deste aparelho. O Messerschmitt 109, é um possante e letal aparelho, eficaz até dizer chega, com mais 300 cavalos que o Spit. O Focke Wulf 190, uma máquina de combate rigorosa e devastadora. Mas o Spitfire tem alma. Nos modelos alemães. conseguimos apenas ver ciborgues mortais, de olho electrónico e mãos em forma de metrelhadoras. No Spitfire, conseguimos ver o que os homens conseguem produzir, quando a situação se torna preta. Atacante e defensor. E oito metrelhadoras com 2000 munições também,claro.

Nada nos prepara para a extrema eucaristia para os nossos ouvidos, que é ouvir um motor Merlin a trabalhar! Assim de repente, para outros toxicodependentes como eu, Duxford em Cambridgeshire será o sítio mais "rápido" para satisfazer o vício. Nada nos prepara, para o diabólico cataclismo que até faz tremer o chão, de um motor V12 com 1500 cavalos a escape livre a ser posto a trabalhar.

Nada. Imaginem mil cães a bater treslocadamente contra um gradeamento de ferro solto, enquanto alguém se entretem a rebentar fogo de artifício mesmo ao pé do ouvido. Barulho, é algo que peca por defeito para descrever o som de um Spitfire a trabalhar. Chamas a sair pelos "buracos" que alguém me diz ser o "escape", e o vento da hélice a derrubar o aviso " No authorised people beyond this point".

Uma vez no céu, o Spitfire é um hino à capacidade de união de um povo, e ao engenho humano que consegue mesmo sob pressão produzir máquinas eficientes e ao mesmo tempo elegantes. Aquelas asas com as pontas em bico, e o trovejar sempre que passa por cima da minha casa no "Rememberance day", acompanhado por Hurricanes , por um Catalina,por um Dakota e por um Lancaster,faz-me curvar sem reservas perante os heróis da aviação, entre pilotos , engenheiros e pessoas normais que fizeram o extraordinário em tempo dificil.


" Se alguém vos disser que um avião é algo complicado que está para além da nossa compreensão, essa pessoa é um tolo!"

( Reginald Mitchell 1895-1937)

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