Tuesday, 27 April 2010

Sala das Máquinas no Stafford Bike Show

O evento de Stafford, é considerado o maior evento mundial de motos clássicas . O Sala das Máquinas esteve lá.
.
Texto e fotos: Mike Silva em Stafford, Inglaterra
.
Pelo sexto ano consecutivo, visitámos o Stafford Classic Motorbike Show. De ano para ano, o potencial de crescimento deste evento não para de nos surpreender. Na edição deste ano do certame mundialmente conhecido, além das milhares de fabulosas motos e clubes presentes, destaque para a criação de uma pista de trial para motos clássicas, e a primeira concentração internacional de Harley-Davidsons Rotax, um modelo exclusivo do Exército, agora disponível ao grande publico.



A Lambretta tem uma grande tradição inglesa, e muitos dos modelos disponíveis foram fabricados no Reino Unido.


A italiana Ducati proporcionou à imprensa e aos visitantes a hipótese de experimentar a sua gama, e a equipa do Sala das Máquinas testou algumas das produções da marca nas estradas inglesas circundantes ao evento, num artigo a publicar em breve.


De um esqueleto por cerca de 50 Euros...






... A uma novínha em folha, zero Km! Tudo para todas as bolsas em Stafford.



A escolha da moto eleita pelo júri como a melhor do encontro, recaíu uma vez mais sobre uma espantosa Vincent C recuperada durante um processo exaustivo que durou cerca de quatro anos, transformando um monte de peças em caixotes numa fabulosa e exclusiva peça de arte agora disponível ao público. Presente também uma raríssima Vincent "Red", pintada de vermelho original. Durante o fim de semana de 24 e 25, passaram pelo evento de Stafford 360000 pessoas, e mais de 500 expositores particulares e empresariais.





Melhor do que palavras , sempre subjectivas ao gosto de cada um, aqui ficam algumas fotos do evento em primeira mão para os seguidores do Sala das Máquinas, com o desenvolvimento posterior nas revistas da especialidade portuguesas do costume. Stafford é um local obrigatório para quem gosta de motos visitar, e um local que fica na nossa memória pela quantidade de entusiastas genuinos que encontramos e pela afabilidade e profissionalismo dos seus organizadores.


Friday, 16 April 2010

Um "peixe voador" com 46 toneladas !


Qualquer avião que seja maior do que um prédio de quatro andares, que tenha estado ao serviço da NASA e da Airbus , dos quais só existiram quatro no Mundo, merece a nossa melhor atenção. Fomos ver...

Texto e fotos: Mike Silva / Portuguese Aircraft Restoration Group


Os nossos sentidos pareciam enganar-nos: Passado o portão do aeródromo inglês de Brunthingthorpe em Leicester, a estranha forma de "baleia" ridicularizava o hangar adjacente. Aproximando-nos, os nossos sentidos uma vez mais não conseguiam chegar a um consenso, e o nosso cérebro recebia imagens e noções cruzadas sem nexo. Aquilo não podia voar!
Tentávamos a todo o custo,perceber porque alguém teria tido a idéia de fabricar um túnel do Metro com asas, utilizando uma fuselagem de um avião dos anos quarenta. Perante os nossos olhos, um dos apenas quatro Super-Guppies contruídos pela Boeing nos anos setenta. Um "Guppy" é um peixe de água doce tropical, cuja fêmea tem grande tendência para estar permanentemente grávida, e exibir uma considerável "bossa". Cometi o "erro" de comprar alguns para o aquário lá de casa, e em pouco tempo tinha 129 peixes aos encontrões.


A História deste Boeing

Construído nos anos setenta para dar resposta às necessidades de transporte de foguetões da NASA, este aparelho utilizou inicialmente a fuselagem de um Boeing 377 Stratocruiser dos anos 40, existentes em grande quantidade no deserto do Mojave, na Califórnia. Era propulsionado pelos originais Pratt&Whitney T34P7 do Boeing 377 original. Contudo, por utilizar a fuselagem de um avião comercial, o piso tinha obrigatoriamente de ser o mesmo do avião de origem, possibilitando uma largura de apenas dois metros e meio. Uns anos mais tarde, novos "Super Guppy" foram construídos de raíz, recebendo a designação de Super Guppy Turbo, do qual este exemplar que aqui trazemos foi o primeiro exemplar fabricado.


Mesa do mecânico de bordo. É este que "acelera" os motores,em vez dos pilotos!



Utilizando apenas o cockpit, asas, deriva e trem de aterragem principal do B377, o piso era agora mais largo, com cerca de 4.20 m. O trem dianteiro era proveniente de um "moderno " Boeing 707, e os motores , os potentes e fiáveis Turbo-Hélice Allison 501 022C que também equiparam os C-130. Este avião fez serviço para a Airbus nos anos setenta, juntamente com outro exemplar, o número 2. Em 1982, a Airbus conseguiu os direitos de fabricação do aparelho, e construíu mais dois exemplares ( 3 e 4 ) em Toulouse, França. Porém, a rival Boeing não se cansava de propagandear a anedota de que "A Airbus precisa da Boeing para voar", e um mal estar crescente levou à construção do Airbus Beluga , com praticamente o dobro do tamanho.



Túnel do Metro? Cabia aqui uma composição, sim senhor...




Curiosamente, a última vez que um Super Guppy voou, foi precisamente este modelo número 1, quando aterrou neste local em 2001 para não mais voltar aos céus. Actualmente os outros três "irmãos" deste peixe de grandes dimensões encontram-se na base áerea norte-americana de Davis-Monthan, na base aérea alemã de Finkenwerner e um terceiro em Toulouse a servir de restaurante nas instalações da Airbus. Um dos "Guppy" originais ainda presta serviço na NASA, no projecto Orion, e transportando peças para serem montadas na Estação Espacial Internacional.




O "Cockpit " original do Boeing 377 está intacto, o que se traduz numa mais valia ( A corda é para evitar o movimento do "Rudder" com o vento...)



O estado actual e o Futuro deste aparelho

Manter um aparelho com estas dimensões, é uma tarefa que precisa de muitos voluntários e boa vontade. Pertença do museu do aeródromo de Brunthingthorpe, a aeronave pode ser visitada pelos interessados e amantes da Aviação que acorrem frequentemente ao local.

O Grupo Português de Restauro de Aeronaves ( Portuguese Aircraft Restoration Group) colabora em pequenas acções de manutenção do aparelho, e em visitas guiadas. Os motores, demasiado valiosos e operacionais foram retirados e encontram-se guardados num hangar. No Futuro espera-se repintar todo o aparelho e colocá-lo em funcionamento para voltas na pista, pelos próprios meios, para publicidade e para filmes.

Sim, aparentemente, isto voa...



A entrada para o aparelho dá-se pela pequena porta lateral na traseira, subindo para o piso principal por umas escadas a pique. Uma vez no piso de carga, a sensação de estar no túnel do Metro, ou numa nave duma igreja. Este "templo" da Aviação, leva-nos para o único local de onde vem uma ténue luz, lá ao fundo. O "altar". O cockpit.

Mudanças a preços módicos...




Do lado direito á entrada, beliches para a tripulação, para vôos de longa duração. Uma das curiosidades do cockpit, é que o mecânico de bordo , numa posição localizada ao centro, era o encarregado de operar a aceleração dos motores! A operação deste peixe monstruoso era bastante difícil , ainda por cima com controlos de um avião original do fim da guerra. Ambas as mãos dos pilotos eram necessárias para operar o aparelho. Mesmo com ele estacionado, podemos ver a força da brisa lá fora a bater no leme de direcção e a mexer bruscamente os controlos.
O cockpit está maravilhosamente conservado, e é uma mais valia adicional,por se tratar de um cockpit original de outro modelo praticamente extinto, o Boeing 377. Toda a instrumentação se encontra no local, e diverso equipamento armazenado para demonstração ao público. Para ajudar na tarefa de restaurar este "prédio", nada melhor do que a colaboração de uma empresa de andaimes local. Trabalhadores das obras, Pilotos, Técnicos,Reformados,Advogados, Professores universitários,Padeiros e Pintores de automóvel . A Aviação é isto mesmo. Não uma actividade elitista para "ricos" mas algo que atravessa diagonalmente a Sociedade e provoca o convívio salutar independentemente das nossas origens e posição social. Tudo a comer sandes,bolachas, a contar anedotas e a a ajudar a restaurar um "peixe" com 46 toneladas. É esta a magia da Aviação.
A NASA ainda utiliza um original "Super Guppy" para transportar peças para a Estação espacial e para o projecto "Orion".

-----------------------------------------------------------
Ficha técnica
Boeing "Super Guppy" Turbo SGT
Comprimento: 43.8 m
Envergadura : 47.6 m
Altura: 14.1 m
Peso vazio: 46.039 Kg
Peso máximo à descolagem ( MToW): 77.110 Kg
Propulsão: 4 x Allison 501 022C com 4680 Hp cada
Velocidade de cruzeiro: 467 Km por hora
Autonomia: 3219 Km
Tecto de operação: 9753 m

Sunday, 4 April 2010

DeHavilland Comet DH 88 raríssimo português trazido para o Reino Unido



O raríssimo Comet com matrícula portuguesa ( Foto em Sintra? Ninguém sabe. Ajuda precisa-se...)


Regra número 1: Se não pretende encontrar aviões raríssimos outrora matriculados em Portugal que foram salvos da destruição e trazidos para Inglaterra, não crie grupos de restauro de aeronaves onde figure a palavra "Portuguese". Tinha que dar nisto!
Assim sendo, eis que o Portuguese Aircraft Restoration Group, sem esperar tão cedo logo nos primeiros três meses de actividade encontrar uma aeronave outrora registada em Portugal, e logo ainda por cima um raríssimo avião carregado de História, que os ingleses acreditavam que tivesse sido destruído antes da Segunda Guerra Mundial, se junta desde hoje aos voluntários do CRPJ Comet Racer Project Group em Derby para colaborar no seu restauro para condições de vôo. Mas vamos relembrar um pouco da sua História...


Uma fabulosa,importante e raríssima aeronave


O deHavilland Comet surgiu porque a Indústria inglesa sentia no início dos anos 30, que estava algo a ser " deixada para trás", e que outros países como os EUA começavam a apresentar modelos de aviões mais evoluídos e rápidos. Geoffrey deHavilland, o mago inglês da Aviação, iniciou de imediato um projecto que desse origem a uma avião ultra-rápido e ultra-moderno capaz de deixar para trás toda a concorrência. Por causa da dificuldade em obter metal que se encontrava fortemente racionado, o Comet foi construído totalmente em madeira, à excepção dos motores e do trem de aterragem. O depósito colocado à frente, permitia que as linhas do Comet se tornassem esguias e flúidas, com uma fuselagem bastante estreita.



Uma das rodas do trem de aterragem principal

Equipado com dois motores Gipsy Queen de seis cilindros em linha invertidos, e com um enorme tanque de combustível,atingindo uma autonomia e uma velocidade brutais, o Comet surpreendeu a comunidade aeronáutica internacional. Na sua estrutura, duas novidades em estreia absoluta: Flaps e trem de aterragem retráctil. O Comet foi o primeiro avião a possuir estas características.
Dos cinco Comets fabricados, apenas restam dois actualmente. O modelo de matrícula G-ACSS que pertence à colecção Shuttleworth, e o G-ACSP, que o Comet Racer Project Group se encontra a restaurar. Este avião foi inicialmente propriedade do casal inglês Amy Johnson e Jim Mollison em 1934, tendo participado na corrida aérea entre Inglaterra e Austrália.






Um dos motores Gipsy Queen originais ( Que não irá ser utilizado. Apenas para exposição. O grupo vai instalar dois motores completamente revistos)


O vôo decorreu normalmente até Bagdad, mas problemas com o trem de aterragem e a falta de combustível que obrigou o casal a abastecer com gasolina de autocarro ,originando a destruição de um dos motores. Jim e Amy terminaram a corrida apenas com um motor, tendo naturalmente perdido a corrida. Após a prova, o avião foi vendido a Portugal, tendo Carlos Bleck e Costa Macedo feito o vôo de ligação desde o aeródromo de Hatfield para Lisboa, em 25 de Fevereiro de 1935. O Comet percorreu a distância de 1010 Milhas náuticas ( Aproximadamente 1800 Kilómetros) em seis horas e cinco minutos. Registado em Portugal com a matrícula CS-AAJ e dado o nome de "Salazar", regressou em 1937, para Hatfield para reparações e manutenção, tendo demorado no vôo de regresso a Portugal cinco horas e dezassete minutos! O que passados setenta anos, mesmo nos dias de hoje, constitui uma proeza difícil de igualar por um avião a hélice. Não nos esqueçamos que isto foi feito no tempo em que o carro mais popular nas estradas era o Austin Seven!



A "rear wing section" já restaurada e pronta a ser revestida. Os "elevators" ( Lemes de profundidade) Estão intactos.






Este avião tem de ser submetido a um rigoroso controlo de qualidade para poder voltar a voar.



O último registo que existe do avião em Portugal, data de 1937. A organização não sabe mais nada a partir desta data. Acreditou-se durante quarenta anos que este tivesse sido destruído. Estamos em contacto com organizações portuguesas para tentar descobrir mais detalhes sobre a permanência do aparelho em Portugal. Acredita-se que o Governo Português não tenha encontrado uso militar para o aparelho, e este tenha feito viagens entre Lisboa e o Rio de Janeiro levando correspondência. Com o rebentar da guerra, a experiência adquirida com o Comet levou a deHavilland a construir o famoso e lendário "Mosquito", o "maravilha de madeira" ( Wooden Wonder ) que tanta dôr de cabeça deu à Luftwaffe. Muito semelhante ao Comet, o poderoso caça bimotor da RAF foi o herdeiro imediato do belíssimo Comet DH88.



A fuselagem encontra-se em avançado estado de recuperação. Note-se o aturado trabalho de "crossply" por cima da zona do tanque


Algumas anotações e rascunhos no quadro da oficina, ao bom estilo britânico



Actualmente, estamos em Derby a colaborar com a organização para que o Comet volte aos céus. Existem alguns patrocínios e muita vontade, e uma vez pronto será um dos mais belos aparelhos clássicos disponíveis ao público em condições de vôo. Pelo Mundo fora, existem inúmeros sites especializados que falam sobre o aparelho e é de facto um ícone e uma parte importante da História da Aviação. Apesar de ter sido um dia "nosso", o DH88 não podia estar em melhores mãos, e ficamos felizes por este estar de volta a "casa". Não deixa de ser, tal como o "Cutty Sark", algo que outrora foi nosso e que também de uma forma ou de outra faz parte da nossa História. Cá estaremos para não deixar esquecer este episódio importante da História da Aviação, e para ajudar a fazer renascer uma aeronave que outrora voou com a cruz de Cristo sobre os céus de Portugal.




Uma miniatura feita por altura da Segunda Guerra Mundial. Também ela uma raridade e parte do espólio...





Ficha Técnica:


DeHavilland Comet DH 88

Unidade produzidas: 5

Propulsão: Dois DH Gipsy Queen Six de 285 HP cada

Comprimento: 8.8 metros

Envergadura: 13.4 metros

Peso em vazio: 1400 Kg

Peso máximo à descolagem ( MToW): 2520 Kg

Velocidade máxima: 415 Km por hora ( sim, em 1934...)

Tecto de operação: 5800 metros

Razão de subida ( Rate of climb): 6.2 metros por segundo

Se conhecer mais alguns dados sobre a História deste avião em Portugal, por favor contacte-nos.