Saturday, 27 September 2008

Olhar com outros olhos para o TRANSPRAIA

Transpraia: Um dos poucos exemplos de Narrow Gauge existente fora do Reino Unido. Costa da Caparica,Portugal



Sim, estou em Inglaterra. Mas o artigo que fiz para uma revista inglesa da especialidade sobre este ícone curioso das praias portuguesas, trouxe-me aqui para falar um pouco sobre o Transpraia.

Para quem não conhece, o Transpraia é um serviço de comboios que percorre as praias da margem a sul de Lisboa, numa extensão aproximada de dez quilómetros. O que é que isto tem de especial? É que é um dos poucos exemplos de Narrow Gauge existente na península ibérica!

O Narrow Gauge, ou seja, a pequena distância entre os carris , comparativamente aos caminhos de ferro "normais", surgiu na Grã-Bretanha em meados do Séc.XIX, utilizado em trajectos fabris e mineiros, posteriormente convertidos para uso turístico. O Narrow Gauge, que compreende diversas bitolas, ou distância entre carris, era utilizado sempre que o terreno não permitisse a construção de uma linha Standard. Existem linhas de Narrow Gauge, em que a distância entre os carris é de apenas trinta centímetros! Mas onde circulam composições de várias toneladas.

Lembro-me quando era puto, e frequentava o Transpraia: Os autocarros apenas serviam o centro da vila piscatória da Costa da Caparica, e como ninguém tinha carro, era o Transpraia que se ocupava de transportar as pessoas pelas praias da região. Desde pescadores a bombeiros, turistas a moradores, o Transpraia era um dos únicos meios de deslocação para as praias a sul.

Com a sua pequena locomotiva e carruagens fabricadas com um restos do que parecem ser vagões de uma mina , o Transpraia foi montado por uma família local há cerca de cinquenta anos. Os viajantes felizardos, sentem o vento na cara, e o belíssimo Sol , enquanto percorrem uma paisagem protegida da Arriba fóssil. O barulho de camioneta Mercedes lá á frente, com o cobrador pendurado a balouçar por entre as carruagens, e as praias carregadas de gente a saborear o Mar e o Sol, fazem de uma viagem no Transpraia uma experiência inesquecível.

Da próxima vez que forem para aqueles lados, apercebam-se de que de facto aquilo é uma coisa única que deve ser preservada. Sempre que vou a Portugal, é obrigatório "mascarar-me" de turista, e ir ouvir novamente aquelas passagens de mudança, sobre os trilhos a chiar, enquanto uma das praias mais belas do Mundo desfila a meu lado, mesmo junto a mim. ..Mesmo por baixo de mim.

Monday, 22 September 2008

Volvo Cross country...A génese

A traseira, mostrando os "telemóveis topo de gama" da altura... Ainda nós nos queixávamos dos Porty da Siemens...


Não propriamente sedutor, para levar a um jogo de golfe na Quinta ... O simbolo da marca, explica-nos talvez que isto será um carro "macho"...



Uma vez regressado ao País da paz de espírito, onde posso ir a uma bomba de combustível ou ouriversaria sem esperar a todo o momento que entre por ali adentro um bando de criminosos de caçadeira em riste, eis que não perco tempo em procurar algo que me faça parar de repente n meu caminho, e me obrigue a destapar a lente da objectiva.

Para muitos, Volvo 4x4 será sinónimo de um electrodoméstico concebido para transportar engravatadinhos desde o escritório das Amoreiras, para o andar em Oeiras. "Fora de estrada", será um conceito apenas utilizável nalgum parque de estacionamento de algum restaurante típico na região de Mafra. Algumas pedrinhas de gravilha, e uma berma mal desentupida, e haverá falatório embandeirado em arco segunda-feira no escritório. Pelo menos durante dois dias, a lavagem automática será um local a evitar, para justificar a opção de um 4x4.


Sim, trazia uma roulotte. E uma câmara de video, provavelmente...


No entanto, esta malta do país dos filmes porno já há algum tempo que anda nisto de fazer viaturas capazes de saír à rua quando o tempo não está do melhor, ou em países onde os governos têm mais do que fazer do que andar a fazer auto-estradas.
Por exemplo estes países têm a mania de fazer escolas altamente apetrechadas, e redes eficazes de transportes públicos e hospitais. Não são tão desenvolvidos e modernos como países repletos de centros comerciais e estádios.
Assim, o nosso amigo Sven, ou o nosso amigo Goran, sempre puderam contar com a marca que ostenta o símbolo masculino, para levar as nossas amigas Frida ou Inga para locais ermos com uma camara de video. Mesmo que as estradas estivessem num bolo, ou parecessem uma sabonária.

Eis um curioso modelo que encontrei há dias nas minhas deambulações pelo Reino Unido, construído em 1944, e utilizado pelo exército do país da neve como carro de comando. Todo o equipamento ainda se encontra presente, neste modelo de tracção as quatro que foi o antecessor do actual Cross-country.

Pertença de um entusiasta da marca da região de Manchester, este modelo é presença habitual em eventos no norte de Inglaterra, fazendo por vezes demonstrações. Porque isto dos clássicos, continuo a dizer até que a voz me doa, só faz sentido se pudermos usufruir deles. Caso contrário seríamos curadores de museus...

Thursday, 18 September 2008

Pérola industrial ás portas de Lisboa

No meio da floresta de cimento, um oásis...



Inacreditavelmente, ás portas de Lisboa numa zona sob forte ataque da especulação imobiliária, alguém teve a coragem e o conhecimento suficiente para salvar dos sucateiros e dos Bulldozers um dos últimos testemunhos industriais do séc.XIX. A fábrica da Pólvora de Vale Milhaços. E no caminho, a única máquina a vapor Joseph Farcot em funcionamento na Europa.



Texto e Fotos: Mike Silva em Portugal

Não tendo vocação para fazer "caminhada indoor" ( i.e. meter-me dentro de centros comerciais), pois não conseguiria lidar com o facto de estar num dos maiores da Europa ( São sempre os maiores da Europa, estes novos centros comerciais mamarrachos que fazem por aí...), eis que perco o meu tempo a descobrir locais e assuntos que realmente nos poderão colocar na vanguarda de qualquer coisa sem ser em lojas de telemóveis.

Indicado por um amigo de um amigo, eis-me em plena margem sul, embrenhado numa faixa de eucaliptal que estranhamente sobrevive ao ataque da selva de cimento. A razão, é que lá dentro se encontra um dos últimos vestígios industriais da nossa História, uma fábrica de pólvora onde os edifícios, ferramentas e maquinaria ainda se encontram preservados e em funcionamento.


A jóia destas instalações, é a gigantesca máquina a vapor Joseph Farcot, produzida em França em 1900, e que se encontra em perfeitas condições de funcionamento, graças à carolice de um ex-funcionário,Francisco Moura,e ao Ecomuseu Municipal do Seixal, que se recusaram deixar morrer este importante testemunho industrial.

Observar esta máquina, que ocupa um edifício de dois andares, é algo que mexe com os nervos. Apenas consegui ver umas imagens gravadas em telemóvel sobre o seu funcionamento, e acredito ser puro nirvana mecânico: Não será todos os dias que poderemos observar uma roda de quatro metros de diâmetro ser empurrada por uma máquina a vapor do tamanho de um autocarro, e que vomita bocados de carvão mal queimado por uma chaminé em alvenaria.

Uma autentica " Sala das máquinas!"

Toda o dispositivo está instalado numa extensa área arborizada, que deverá ser alvo de uma requalificação. Tenho visitado locais semelhantes por esse Mundo fora, mesmo em Inglaterra onde existe uma forte tradição industrial, e o que vi em Vale de Milhaços não fica nada a dever a esses locais em matéria de interesse , componente turística e dimensão. Um must.

Esperemos que este espaço esteja brevemente disponível ao público, que poderá optar por trazer a família a um local aprazível e bucólico, mesmo ao pé dos grandes mamarrachos incrustrados de lojas de telemóveis e roupas caras.

( Para os interessados em obter mais informações sobre este local, deverão contactar o Ecomuseu Municipal do Seixal)




Tuesday, 16 September 2008

Portugal: the "must see" place to find classics



This are photos taken last week , in Central Portugal, regarding some propriety that is completely CLOGGED with every classic car and bike needing a new home.




Remember some while ago that "barn find" in Portugal with hundreds of cars?( That wasn,t a "find " at all as it was simply the owner that opened his barn some years after...)

Forget about that. You cant touch any of that. On the contrary,most of these cars are for sale.




Imagine a place, where you can find Isettas in SHELVES, over a Mustang and a Facel Vega. And to get there, you have to TRIP over british bikes and Lambrettas left to rot in the walkway. I didn,t thought it was still possible to fins such place, in a country where minis and Renault 4s are outrageously overpriced. Let alone this.





Visiting this unbelievable place, is a permanent invitation to swear, and to disbelief. It belongs to an enthusiast that often visits England. There are no "normal" cars here. Only the valuable and the awkward. The ones that keep our dreams going.



Take a look at this. I wont bother you with no more talk...

Saturday, 6 September 2008

As aventuras no país das melgas e das ultrapassagens


Ultrapassagens...se tivesse de escolher um traço cultural marcante do povo português do séc.XXI,seria sem dúvida a dificuldade que os nosso compatriotas têm em permanecer detrás de outro veículo.
Por Mike Silva, enviado especial do Sala das máquinas a Portugal.

É como se o veículo que nos antecede, estivesse a emitir um desses ultra-sons para os cães, que obrigassem compulsivamente as pessoas a ultrapassar. Acabo de chegar de uma viagem do centro de Portugal, onde acorri a um evento ( Bom, e fui brincar um bocado com o meu tractor Leyland...), e apesar de ter vindo sempre a esticar o limite legal da velocidade em algumas dezenas de km por hora, raramente consegui aceder à " faixa dos BM e dos Mercedes"...

De cada vez que, instigado pelo tal " ultra-som" do carro da frente, eu decidia utilizar a "pista" da faixa da esquerda, logo uns dispendiosos faróis de xénon ofuscavam todo o interior do meu carro, emitindo um feixe de holofote a cerca de dois quilómetros de distância.

Rapidamente, o "caça" pilotado por um gordo endinheirado ou traficante de droga, cruzava-me com um olhar ameaçador dirigido a mim, por ter ousado pisar a pista de descolagem reservada a automóveis caríssimos.

Nas vilas e estradas secundárias, o caso piora; Despojados de um "corredor aéreo" , os burgessos de pila pequenininha de meia idade, que tentam colmatar a pouca performance sexual comprando carros potentes, comportam-se como se tivessem acabado de assinar um termo de responsabilidade , em que não se importam de matar toda a família, eles incluidos, por uma mera oportunidade de ultrapassarem o carro da frente.

Por isso, a todo o momento, seja numa lomba ou numa movimentada artéria de Freixo-de-Espada-a-Cinta, é de esperar um motor a esgotar a rotação mesmo ao nosso lado a todo o momento. Tudo bem, se fôr um burgessomobil ( BM ), mas mesmo os Citroen AX insistem em não permanecer ordeiramente atrás do carro da frente. É algo cultural. É como se ,optando por não ultrapassar , a sua opção sexual ficasse dúbia ou comprometida. Mesmo que o carro da frente circule a 160 dentro de Á-dos-Cunhados, ultrapassar é a única opção. ( O que se torna interessante, quando o "Ás" pilota um potente Fiat Panda, e em sentido contrário, a descer, vem uma SCANIA de tromba comprida, com um crâneo de vaca a decorar a grelha...)

Uma vez a salvo,no único sítio da via pública onde não é possível ultrapassar, ou seja, o estacionamento em espinha junto ao café do ti Ermelindo, preparo-me agora para outra luta sem quartel. O melguedo, esse agrupamento de insectos sem propósito , espera-me para mais uma noite de combate de almofadas e sapatadas impressas na parede.

Ora bolas! As abelhas fazem mel, as vespas inspiram engenheiros italianos para fazer motorizadas,as aranhas comem os anteriores, as moscas controlam as pragas de gafanhotos ( Esta não sabiam, pois não?), mas as melgas? Apenas contibuem para os cientistas do MAFU e do RAID darem de comer à família.

Despeço-me por hoje, sabendo que vou passar mais uma noite em claro, respirando o que restou da embalagem de MAFU, e espezinhando violentamente o que resta das melgas que caem em vôo picado após terem sido atingidas por um "caça" CAMPORT 42 , ou umas sandálias Zara...

Inglaterra? Para a semana...Já estou farto de noticias de assaltos...