Monday, 26 October 2009

Voar num Volkswagen!




Sim. Leram bem.



Além de propulsionar carrinhas do peixe ,Buggies e carochas, o pequeno motor de quatro cilindros opostos faz valer as suas credenciais nos céus. Ao longo dos tempos, este motor tem sido utilizado em praticamente tudo o que precise de ser locomovido,desde barcos a veículos ferroviários, debulhadoras Klaas e motocultivadores, ou moto-bombas Metz.


Nos anos oitenta, o Aeroclube de Portugal tinha um Evans Volksplane VP1, que era propulsionado por um motor Volkswagen 1200. Não sei o que aconteceu a essa aeronave ( CS-XAA), mas o sonho de um dia poder reencontar um avião que fosse propulsionado pelo barulho de "cafeteira cheia de pregos ferrugentos" de um motor Carocha,nunca esmoreceu.




"Este motor voa"! Uma frase a poder ser utilizada quando se fala de um motor de Carocha...



Eis-me aqui hoje, no meio de Inglaterra central, num ex-aerodromo da segunda guerra mundial, com um aparelho bilugar de fabrico françês, um Fournier RF4. Tecnicamente, um moto-planador. Um avião na sua essência, semelhante em tudo na sua operação, mas com uma categoria que o insere nos "planadores", com todas as vantagens de poder operar a partir de outras infrastruturas e com custos legais e de manutenção muito mais acessíveis.







Mal pude acreditar quando o motor arrancou: O "platplatplatplat" mais comum de se ouvir num carocha 1200, ali estava propulsionando uma hélice Hartzell. Com um "check-list" de apenas dez items, estávamos prontos para voar. Taxiar em relva "downwind"neste aparelho, é um exercício de sorrir de orelha a orelha. Alí está o "nosso" propulsor de sempre, mantido com a precisão e rigidez aeronáutica. As velas do motor, são fornecidas por uma empresa americana de aeronáutica, e o motor possui dois sistemas de ignição separados a funcionar em simultâneo. O motor de arranque foi reposicionado para funcionar sobre o motor, e as "cabeças " do motor funcionam " ao léu", sem aquelas blindagens caracteristicas do carocha. Os escapes saem directamente para a atmosfera, sem passar por panelas ou silenciadores. Durante as aproximações á pista, perdendo altitude, é necessário acelerar de vez em quando para não arrefecerem repentinamente.


A operação desta aeronave, é como se podia esperar, lenta mas a inspirar bastante confiança. Graças aos modernos instrumentos de Aviação, pensamos estar a bordo de algo mais "potente". Não precisa de grande corrida para descolar, graças à extrema área alar de planador. É espantoso como um avião tão simples, possui trem de aterragem retráctil, ( operado por uma alavanca do lado direito) o que diminui o arrasto em vôo. É apenas durante a fase de atingir altitude suficiente,cerca de 2500-3000 pés, que percebemos estar a bordo de um "carocha". Tal como uma subida íngreme, o " carocha" derrete-se para ganhar altitude. Dez minutos! Não vale a pena tentar subir mais depressa,porque senão o ponteiro da velocidade do ar diminui drasticamente. E em termos aeronáuticos, isto são más notícias para manter um avião no ar. É portanto ver o altímetro a subir muito devagarinho, e relaxar. Aos nossos pés, um "platplatplat" nervoso e impaciente, precisa de alguma habituação, mas descansamos quando sabemos que isto é de facto, um planador. Podemos seguramente aterrar com ele desligado. Uma vez atingido o tecto de operação, e utilizando as suas características como planador, o vôo é suave e com uma resposta surpreendente. O motor pode agora descansar, apenas com pequenas acelerações para manter a temperatura constante. E para perceber se o motor não "foi abaixo",porque não se ouve com o vento a bater na fuselagem.





Descolando em versão " Carocha power"...



Graças à monstruosa difusão deste tipo de propulsor, a manutenção é algo para rir face aos custos de manutenção de outras aeronaves. Com uma fuselagem de tela e madeira, voar num Carocha pode muito bem ser " A Aviação do Povo". Volksplane. Se não houvesse já um chamado assim, era um nome interessante para esta aeronave.

É dificil pilotar e fotografar, por isso, preciso de um fotógrafo para tirar umas fotos lá em cima. Sabem onde me encontrar...


Pictures kindly taken by Louise Walsh. Thank you Brian for the opportunity. Nice plane!

Sunday, 18 October 2009

Voar de planador!

O pára-quedas é uma imposição legal. Nem tempo teria de o abrir...


"É como um avião, mas sem motor"- pensei. Como estava enganado! Não há nada de " avião" em ser atado a um cabo de aço com 950 metros puxado por um motor Scania, que atira um planador para cima como se fosse um papagaio de papel a 150 KM por hora quase a pique! Como se fosse uma fisga!Impressionante. Tentar tirar uma foto de um planador a descolar é um exercício difícil: Após um sonoro " Stang!" a aeronave é catapultada para o ar em menos de dois segundos! E só já a apanhamos "na foto" a algumas dezenas de pés de altitude...

Uma vista melhor do que estar dentro de um centro comercial. E mais barata!


Depois da "explosão" debaixo da fuselagem, que anuncia o desprendimento do cabo, eis que nos restam cerca de cinco minutos de vôo sobre a paisagem inglesa de um verde estonteante. Apenas o " VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV" do vento a bater nas asas e na carlinga de plástico transparente. Nada de motores e comunicações rádio. Nada de avisos à torre sobre aproximações, ou sobre outro tráfego. Apenas as leis da Física, e o engenho humano. A aterragem dá-se com um deslizar suave sobre a relva, seguida de um "empurrão" com a ajuda de um tractor até ao local de uma próxima largada. E de uma chávena de chá, ou não estivéssemos em Inglaterra.


Um puxão forte até aos 1000 pés de altitude...em seis segundos!


Não admira que entre os adeptos incondicionais do vôo em planador estejam pilotos militares e de linha aérea. Um mero vôo de cinco minutos, é o suficiente para ficarmos presos para toda a Vida. Fâs incondicionais de um modo indelével. "Se nunca experimentou voar num planador, você nunca experimentou voar". -Assino por baixo.
Acabou-se o que era doce...O piloto de testes do Sala das Máquinas a regressar à sua dimensão terrena...

Friday, 9 October 2009

Ganhe um tractor e uma botas de borracha!





Não era para escrever isto: Mas esta "promoção" arrastou-me irremediavelmente para uma análise acerca de como funcionam as mentalidades e as oportunidades num país diferente. Uma análise em como o facto de explorar caminhos nunca antes percorridos, é apenas um exercício que tem de ser experimentado independentemente do resultado.
Esta "promoção", é uma prova irrefutável de que o "não te metas nisso" e o "És mas é maluco", ou o " Será boa idéia?" tão em voga noutros países à beira de um ataque de nervos, não funciona por aqui e que as pessoas nem sequer sabem o que é isso!



Que critérios de pesquisa ou de estudo de mercado teriam sido utilizados aqui? Não faço idéia. Quando a maioria das empresas oferece telemóveis, ecrans plasma ou Jipes, esta empresa inglesa oferece um TRACTOR! E 1000 pares de botas de borracha! Propriedade de uma família inglesa, a fábrica Tyrrels cultiva,apanha,frita e distribui batatas fritas por todo o Reino Unido. O culto da empresa familiar, face aos grandes monopólios gigantes empresariais de distribuição, tem os seus adeptos. A equipa que produz o "Sala das Máquinas" compra artigos em quintas particulares e matadouros locais. Não conseguimos resisitir a um anúncio de beira de estrada a dizer " Vendem-se ovos". Algo compulsivo nos obriga a fazer marcha-atrás e entrar pela quinta adentro. E beber um chá e fazer novos amigos.




Um Massey Ferguson 5455 igual ao da promoção.




Se calhar é por isso. Se calhar é um produto vocacionado para uma ambiência e freguesia rural. Imagino o que pensarão os Londrinos, cercados de fumo e prédios, sobre o que poderiam fazer com um tractor. Eles que nem carro podem ter porque não têm onde o estacionar! Os londrinos não abarcam o conceito das "botas de borracha",porque não sabem o que é ter de andar com umas no porta-bagagens o ano inteiro. Mesmo em Julho! Afinal, a "promoção da Tyrrels não é tão descabida assim.



Um tractor. Se me saísse este tractor, ia para o trabalho com ele! Ao fim ao cabo, tenho colegas com Discovery III, o que vai dar ao mesmo. Não iria destoar muito. Enfim. O que nos deixa a pensar, para concluir, é a extrema desfaçatez, o desplante de uma empresa oferecer um tractor! Para que raio as pessoas irão querer um tractor ?



Se pensarmos bem, é uma ideia tão "parva" como oferecer um Jipe ou um Renault Clio. As pessoas já estão fartas de "prémios" que nunca saem, ou apenas servem para nos obrigar a ligar para uma linha de valor acrescentado. Por isso, porque não um tractor?


"Parquímetros que eu derrubei, senhor guarda? Onde?..."


Bom, eu comprei um pacote destas batatas produzidas artesanalmente numa quinta em Herefordshire, só por causa da promoção. Fiquei com uma vontade doentia de ganhar um tractor, só pela originalidade da ideia. Pelos vistos , a publicidade resultou. Se me saír o Massey-Ferguson 5455, vou fazer o lés-a-lés com ele...



(Mais informações em www.winatractor.co.uk)

Sunday, 4 October 2009

É uma máquina portuguesa concerteza...



Made in Portugal. Um veículo comercial inteiramente produzido na terra de Camôes!

Hoje estive a experimentar um ícone inglês dos anos sessenta, equipado com um V12, um carro com o qual ao longo dos anos tenho tido uma relação amor -ódio. Espero após este fim-de-semana, ter feito as pazes com este modelo, e que passe a ocupar a partir de agora um espaço privilegiado no meu imaginário. Já lá iremos, no post a seguir.

Portugal, por muito que nos esqueçamos, teve a sua indústria automóvel, que tal como a inglesa foi votada ao ostracismo face à invasão estrangera de outros modelos. Portugal a determinada altura, produziu veículos que propulsionavam o País, de motorizadas feitas em Àgueda, a camiões no Tramagal e pesqueiros de Viana do Castelo. E autocarros UTIC de Lisboa, que equiaram a terceira maior empresa de autocarros DO MUNDO que foi a Ródoviária Nacional.

O modelo que vos trago aqui hoje,foi uma honesta tentativa de proporcionar mobilidade a pequenos negociantes espalhados por esse país fora. Sim. Isto é um modesto " triciclo das castahas" que tão alarvemente vilipendiámos durante os últimos anos. Sim. Esta é uma reles motorizada com um caixote de madeira à frente,igual ás que sempre vimos à saída dos barcos a vender castanhas enroladas em listas telefónicas.

Mas estes veículos, são no entanto considerados os primeiros comerciais portugueses totalmente construídos em Portugal, e deram a oportunidade a muitas famílias de terem o seu ganha pão. Centenas destes pequenos insectos nos aos sessenta, vinham de Sesimbra para Lisboa carregadas de peixe, em "enxames" pela estrada nacional. O veículo das fotos, por exemplo, percorria SEMANALMENTE a estrada de Tomar para Lisboa, onde vendia plantas de estufa. A pequena caixa na frente, servia para uma das filhas do agricultor viajar, em cima de um cobertor, numa viagem que demorava por vezes oito horas!

Fechada num barracão em Tomar, recentemente alvo de obras, esteve ameaçada de ser "oferecida" a um comerciante de sucata da região,mas um mail chegado à organização do "Sala das Máquinas" a dar conta do " crime" motivou a equipa "task force" inglesa a viajar de urgência a Portugal para resgatar o veículo.

Após um vôo logístico da Easyjet a partir de Liverpool, e de nos ter sido cedido um atrelado para trazer o veículo para Lisboa ( O sala das Máquinas agradece ao senhor Carlos Mota), eis que não nos podíamos vir embora sem pelo menos ouvir um motor Casal feito em Portugal com 45 anos a trabalhar. Isto se fôsse possível. Fechado desde 1976 dentro de um barracão com canas e alfaias, o pequeno piston estava colado. vela tirada e um bocado de óleo lá para dentro, e passados dois dias umas "porradas" com uma chave de caixa 36 " com jeitinho, descolaram-no. Depósito e carburador limpos , cheios com gasolina nova, e um tubo de gasolina ressequido substituído, eis que as primeiros pontapés no "Kick" mostraram os primeiros sinais de vida do motor.

Foi preciso depois dar uma "lixadela" nos platinados, e atar o veículo a um Renault Clio alugado, para o puxar rua fora,porque o cheiro a gasolina e a vela encharcada já não deixavam alternativa. Seguido de um " MôôôôôÔÕôÔÔõÕÕÕô !" acompanhado de uns "clecclecclecclecclec!!" de barulho a querer pegar, e de um fumo cinzento a jorrar como uma mangueira pelo escape apodrecido.


O piloto de testes do "Sala das Máquinas" em plena aceleração a bordo do raro veículo português

De repente, um "eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee" contínuo e crescente, colocou o pequeno comercial português a funcionar de novo, após trinta e três anos parado. Como se tivesse sido desligado na véspera. Rapidamente desapertei a cinta que utilizei para rebocar a moto e a oportunidade para pilotar semelhante veículo tinha chegado.

É um momento solene, estar aos comendos de um veículo, cuja direcção é literalmente um ferro agarrado a uma caixa com um metro cúbico. A direcção deste veículo, é uma caixa com um metro cúbico. Curvar em semelhante bólide, implica esticar o corpo todo para fora deste na direcção contrária de onde se quer virar, empurrando a "caixa" para a via contrária. É como se estivessem duas motos lado a lado e estivéssemos sentados numa, a guiar a outra!
A aceleração deste motor, parado há mais de três décadas, não podia ser forçada, nem seria por isso nada digna de figurar entre uma lsta de motos de competição. Por outro lado, uma Hayabusa não conseguiria levar 200 quilos de peixe e um condutor gordo a acelerar a fundo.O seu a seu dono.

O pensamento permanente de que estamos a bordo de um veículo cujo único propósito foi o de proporcionar locomoção a baixo custo a pequenos negócios de pessoas com pouco dinheiro, enche-nos de humildade e de respeito. Por muitos Aston Martins ou Lamborghinis que guiemos, é com profunda admiração que um português tem a oportunidade de contactar com as suas raízes históricas no Mundo automóvel. Sim. Não fizémos grandes V8 nem jactos supersónicos, nem fomos á Lua. Mas entre nós, houve pessoas que sonharam com máquinas e levantaram do chão fábricas para as construir. Podemos dizer aos nossos filhos, que um dia Portugal fazia as coisinhas que precisava para sobreviver, e isso é algo que temos de preservar e relembrar.






Made in Portugal. João Casal, empresário português resolveu construir em Portugal este motor português, baseado no Zundapp alemão. Propulsionou um Pais em dificuldade! Durante décadas!


Tempos houve, que comprar Português, mesmo que estivéssemos a falar de motos, era uma opção! Eu queria antes uma Casal Boss do que aquelas "aceleras" Honda Vision" . A "bófia" tinha Umms. Os bombeiros tinham "Tagus" e " Tramagal".( E quase toda a frota construida com pedaços de camiões e jipes que o Exército e a Marinha deitavam fora). As empresas imobiliárias tinham Sado 550 e não Smarts. A Telepizza tinha Casal Boss.

Este veículo encontra-se agora praticamente desmanchado, e o motor em Inglaterra para ser rectificado e algumas peças maquinadas e soldadas. O caixote de madeira fortemente apodrecido está agora a ser copiado numa marcenaria no Seixal, e o chassis à espera de um dia destes ser todo decapado e pintado. Fotos se seguirão. Este comercial português, pelo menos, não vai perecer nas mãos de sucateiros. Um pequeno contributo do Sala das Máquinas, para preservar o património industrial e rodoviário português. Que por muito modesto que seja, merece e interessa ser preservado.

Marca: Mozer-Casal ( Made in Portugal)

Ano: 1963

Motor: Casal 49.9 CC (Made in Portugal)

Potência: 6.5 HP

Velocidade: Pouca

Travagem: Tambor atrás e tambores à frente

Capacidade de carga: Até dar para ver o caminho à frente e as rodas não rebentare

Sistema eléctrico: 6 Volts

Raio de viragem: Que raio de viragem!