Capitulo II
As primeiras aventuras
Em 1989, o grupo rock "Pena Kapital", dava os primeiros passos no mundo da música. Cansados de chamar taxis com bagageira suficiente para transportar amplificadores e material, cedo decidiram arranjar uma carrinha de preço acessível. O baixista Pedro Caiado , após ver a carrinha, rapidamente concluiu ser "aquilo " que precisavam. Embora precisasse de alguns "toques", nunca poderiam encontrar algo mais barato.
Bem , afinal, eu sempre ia alienar a carrinha para um qualquer grupo Rock. Errado. Eu ia continuar com a carrinha certamente... eu era o vocalista e guitarra ritmo da banda!
Cinco quilos de fibra de vidro, três de betume e um litro de Dyrup Dysint 553 Verde escuro mais tarde, a Volkswagen brilhava de novo. Ainda eram visíveis os riscos de lixa grossa para madeira por baixo da tinta, e alguns pêlos de pincel impressos na tinta. O aparelho Zarcão para portões, providenciou uma eficaz protecção por alguns anos. A fibra de vidro, assente em jornais, tapava buracos onde cabia um braço. Como " sugestão" do meu pai, a laia da policia alemã, largas faixas encarnadas e brancas foram pintadas no portão traseiro. Sem dúvida ajudava a fraca sinalização de seis volts.
Simplesmente porque me acabou a tinta, deixei o tejadilho de verde alface, o que mais tarde a tornaria reconhecível a léguas, por exemplo num parque dum hipermercado. Mais tarde, quando na Força Aérea, os militares de serviço conseguiam identificá-la a cerca de um quilómetro de distância, na recta da base aérea da Ota, referindo-se a ela como o " Missil Soviético". Mas a essa parte, já lá iremos...
Assim sendo, e liberto das incómodas inspecções periódicas que ainda não existiam, bastou passar o seguro do BMW 520 avariado do meu pai( um poderoso clássico de 1973, já um pouco "desgastado") para a CB voltar de novo à estrada. A ideia era circular até que a carrinha aguentasse, depois logo se via. Como primeiras "avarias", partiu-se o cabo de acelerador, remediado imediatamente com um agrafo de caixa de papelão, e o miolo de uma das ponteiras estava sempre a sair. De resto... nada mais!
Por esta altura, ja tinha carta de condução. Por isso , havia que me fazer a estrada e visitar os meus amigos. Eu era ainda estudante do décimo ano no secundário, e um dos poucos a ter carta. O que me valia ter muitos "amigos".
A primeira grande saida
Semanas mais tarde, eis que chega o dia do lendário concerto dos GNR na Alameda em Lisboa . Como por acaso, eis que junto um grupo de amigos da minha rua, e apesar de ter o dedo partido num jogo de Basketball na Escola Técnica Emídio Navarro , e estar com uma tala de Zimmer, decido carregar aquela malta toda para Lisboa. No entanto, tinha de ir ao quartel velho dos bombeiros para lá deixar um motor de um Mini que tinha na carrinha. Quando regressei, ja estavam todos prontos para embarcar.
Pedro Caiado ( o baixista ), Fernando ( o filho do senhor Jorge, merceeiro), o Johnny ( Irmão do Fan-Fan), o Bruno Rosalino ( Um maluco da pior espécie), o Miguel Ponte-Júlio ( O popular Gordo-do-sexto-andar ), e o seu irmão Vitó.
No acesso a ponte, a estrada danificada pelos camiões, com dois sulcos profundos na faixa mais lenta, obrigavam-me a eliminar a folga no volante de quase MEIA volta. Esta foi a primeira vez que cruzei a ponte com o "pão-de-forma."
Com aquela trupe de malandros atrás a cantar e aos berros, e a cacofonia de ferros a bater e a ranger, sobre o rio Tejo imenso lá em baixo, senti-me como se estivesse a pilotar um ferrugento Dakota de fiabilidade duvidosa. A qualquer momento podia acontecer o que quer que fosse. Mas não...
Chegados as imediações da Alameda, nao sem antes o parvo do Caiado ter passado constantemente no trânsito da Almirante Reis a bater com a porta para chamar a atenção das miúdas, e a sair e ir a pé , porque estavamos parados.
Os nervos eram mais que muitos, nao extensíveis ao resto dos ocupantes , divertidos a cair uns para cima dos outros porque os bancos nao estavam aparafusados ao chão.
Consegui estacionar num baldio, hoje um enorme predio junto a praça do Areeiro, e dei início ao ritual de trancar pela primeira vez a carrinha. Fácil: Uniam-se as duas portas da frente com uma corda, torcendo-a para fazer força, e saia-se pela porta lateral traseira, fechando-a com uma chave quadrada. O portão traseiro estava soldado, por isso, eis-me na posse de um inexpugnável veiculo. Como "imobilizador", levei o rotor do distribuidor no bolso.
Após o concerto, e após o Bruno Rosalino ter passado o tempo todo a provocar toda a gente, com um capacete na cabeca, oferecendo porrada a todos, voltámos para Almada.
Ao passar pelo Rossio, um grupo de bombeiros de Cacilhas caminhava para apanhar o barco. Reconhecendo a carrinha, começaram aos berros e aos acenos, e parei para os levar a todos. Feitas as contas, eramos quinze , ao todo.
Circulando na ponte , e aproximando-se a outrora existente portagem no sentido Norte-Sul, seguida dum temível posto da Guarda, mandei todos baixarem-se, para disfarçar a sobrelotação. Assim, eis que a carrinha passou alegremente pelas portagens e pelo posto com apenas dois passageiros visiveis.
Tornaram-se então frequentes as saidas na noite lisboeta. Embora hoje pareca ficção cientifica, de facto naquela época eu conseguia encontrar espaço para estacionar em Santos, mesmo em frente ao bar "Johnny Guitar". A entrada era livre, e bastava pegar num copo meio de bebida para parecer estarmos a fazer "consumo", e não ser importunados pelas belas meninas do bar.
Pagar bebidas por pagar, preferia oferecer uns litrinhos de "Normal" ( Sim, ainda havia gasolina normal ) a Muick, pois ela andava um bocado em baixo de bebida.
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