Monday, 25 February 2008

Simca 1301 Special...o meu "primeiro" carro!

Parece impossível que ainda não tenha dedicado algumas linhas a este carro que desempenhou um papel tão importante no desenvolvimento da minha vida profissional!

Este carro teve um fim triste em 2002,mas a sua herança permitiu que eu escolhesse o rumo que queria para a vida, e que soubesse pela primeira vez o que era conduzir um veículo motorizado...

A primeira vez que o vi, foi num stand em Lisboa, onde o meu pai tinha ido devolver um Opel 1904, por não estar em condições.Como opção, o dono do Stand propôs a troca por um Simca 1301 Special que tinha vindo como retoma. Decorria o ano do senhor de 1980. Regressámos a casa então ao volante de um Simca com os farolins traseiros estilhaçados. Sim. Os stands nos anos oitenta vendiam carros com os farolins estilhaçados.

Durante anos, viajámos aos fins de semana para Tomar, trazendo umas sacas de batatas e couves na bagageira, avariando amiúde pelo caminho, na "extensa" viagem de quatro horas. Saíamos da Margem Sul, e quando chegávamos a Sacavém, parecia que já tinhamos atravessado Portugal. As estradas eram horrorosas, e implicavam ir pelo poço do Bispo e pela zona da antiga Expo. Com aquele empedrado cheio de crateras, e fraca iluminação.

Em Vila Franca, ou arredores, era hora para parar e almoçar. Pois já se tinham passado quase duas horas . Após um litro de vinho entre todos, retomávamos a viagem, aos pulos no banco de trás sem cintos nem "cadeiras de retenção". O Simca percorria então estreitas estradas de carros de bois, enlameadas e com matacões de barro largados pelos rodados dos tractores, antes de finalmente chegar ao entardecer à quinta .

Anos mais tarde, o Simca ficou parado porque utilizávamos o carro da empresa do meu Pai, um "moderno " Renault 12. Como resultado, a bomba central ficou ressequida, e a bateria sulfatou. E como o carro não andava, o meu pai não se importou que eu ficasse com as chaves, e me entretesse a limpá-lo. Só que se esqueceu de que me tinha posto a aprender o ofício nas férias da escola, na oficina do "Espanhol". Assim, o Simca revelou-se um excelente caderno para fazer os "trabalhos de casa", com a ajuda dos meus amigos de então.

Quotizando-nos entre todos, e com um empréstimo de uma bateria de um senhor que também tinha uma carrinha Simca 1100 côr de laranja ( Não são bonitas, estas cores dos clássicos?), elegemos o "Genny" que era mais velho para ligar o motor. Despejando umas gotas de gasolina no carburador, o motor pegou imediatamente, expulsando o pó e folhas acumuladas. Rapidamente, eu, o "Gordo do sexto andar", o "Vitó", e o Bruno entrámos para o carro, e "à vez" entretemo-nos a treinar arranques.

Tempos mais tarde, ficando mais " experientes", resolvemos fazer uma "visita" á Costa da Caparica, deixando o carro no cimo do monte, junto aos Capuchos. Tínhamos 12 anos! Eu , o Hélio, e o David! O meu pai não ficou muito contente, quando um colega lhe disse que me tinha visto aos comandos na Via rápida! resultado: Chaves para cá!

Entretanto, os anos da legalidade vieram, e a carta surgiu. Passei a utilizar uma "Pão-de-forma" de 1964, que ainda guardo. ( ena pá! Tenho aquilo desde 1987!) O Simca continuou debaixo das arcadas, durante mais quatro anos, até que a Câmara Municipal lhe colou um papel de "abandonado".

Por motivos que se prendem com a incapacidade de uma pessoa se desfazer de um carro, o meu pai pagou uma pipa de massa para mandar rebocar o Simca para a quinta em Tomar, onde ficou estacionado debaixo de uma figueira, por mais oito anos.

Como era de esperar, a corrosão fez o resto e um dia, por volta de 2002, algum comerciante de sucata pegou no que restava e levou para o eterno paraíso dos carrinhos velhinhos.

Não consegui por isso ter oportunidade de salvar esse carro, mas recuperei dezenas de outros que sem a minha intervenção se teriam igualmente perdido. Hoje, a viagem entre a margem sul e Tomar faz-se numa hora e meia, ou em 50 minutos de CBR.

O "Genny", a última vez que o vi, estava a arrumar carros junto ao teatro da Trindade, para sustentar o vício ( Que perda,rapaz!), o Hélio trabalha em Sines, nunca mais soube do Devid, e eu vim para Inglaterra trabalhar com clássicos.

Tenho se calhar a agradecer, aquelas tardes passadas a tentar descobrir para que é que servia aquele tubo por cima do motor, que ia ligar ali, e o que era aquela peça acolá. Num prestável e colaborador Simca 1301 special verde escuro.

Graças a este carro, pude começar a achar interessante um conjunto de peças montado pelo Homem, reunir num só objecto as maiores descobertas da Humanidade, como o Fogo, a Roda, o motor de explosão, a Electricidade, a Química, a Física, o vidro ou o fabrico em série.

E escolher um rumo para a minha vida. Obrigado Simca, pelo empurrãozinho que me deste. Infelizmente, nem fotos tuas guardo, pois nunca estiveste "bonito"e arranjadinho para uma pose. Paciência. Mas as imagens que guardo daquelas pequenas conquistas e primeiras descobertas, estarão sempre comigo de uma forma inesquecível...

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