" Se não encontrar em Beaulieu, então não encontra em lado nenhum". Este lema passado de boca em boca há 41 anos, tem feito da feira de clássicos e peças de Beaulieu um dos locais mais importantes da Europa a visitar por quem quer que se interesse por automoveis clássicos.
Embrenhado no paradisíaco parque natural de New Forest, próximo de Southampton onde temos de circular bastante devagar para nao atropelar cavalos selvagens e suas crias, Beaulieu Autojumble estende-se por uns hectares do que outrora terá sido uma propriedade senhorial britânica, hoje a cargo do Lord Montagu . Como sempre, a organização de um evento britânico é estudada ao promenor, disponibilizando stewards até algumas milhas antes e sinalização apropriada, dispersando o fluxo de tráfego para estradas secundárias para não perturbar a vida selvagem deste magnífico parque natural.
O mercado de clássicos...com preços acessíveis, e não "anedotas" para rir...
Pelo aspecto do parque de estacionamento, que comecou a encher duas horas antes da abertura da feira, pude antever o que me esperava... vulgares utilitários e topos de gama de todas as épocas da História do automóvel partilhavam democráticamente os espaços vagos. Perto de mim estava um Rolls Royce Silver Shadow, um Saab de dois tempos, uma Ford Thames, e uma estranha carrinha Renault. Pipocando alegremente, passou um Austin 7 com um idoso casal.
Mais a frente, uma steward preocupada, informava os visitantes de que podiam adquirir os bilhetes noutro guichet, e pedia desculpa pela fila... de apenas dez pessoas! Um esplendoroso jardim com um monocarril que percorre todo o recinto brinda os visitantes logo a entrada.
Disposta em quarteirões , com cerca de quinhentos expositores,apliquei uma técnica desenvolvida por mim para falhar o mínimo possivel de stands: a técnica da grelha. Percorrem-se em slalom as filas paralelas, e chegada a última, ataca-se do mesmo modo as perpendiculares. Assim nao passamos três vezes pelo mesmo sítio, nem falhamos cerca de um quilómetro quadrado de expositores. Adquirindo o programa a entrada ajuda a identificar os stands que mais nos interessam.
Seria impossível descrever tudo o que se pode encontrar nesta feira. No entanto, e notória a hegemonia de marcas inglesas. Bastante material pode ser encontrado aqui, seja novo ou usado, por muito raro, estranho ou incoleccionável que possa parecer. Mesmo armas e barcos. Entre os mais pitorescos objectos, num stand para Rolls - Royce uma estatueta do " spirit of ecstasy" em tamanho grande em prata por cerca de £3500 ( mil contos) , e peças novas para o Silver Ghost.
Vai um Plimouth V8 côr de rosa?...Também acho...
Noutro, de um expositor francês, o que tinha restado depois de um incêndio que consumiu praticamente todo o automóvel, e um Renault Limousine carroçado na Áustria e descoberto num barracão ( o Sonho de todos nós - Descobrir um carro num barracão ). De resto era uma orgia de radiadores, rodas , farolins, motores, caixas, e pára-choques a perder de vista.
Não, não servem num AX! A não ser que queiram duplicar o valor do carro...
O tempo típicamente britânico, testava os nervos até ao limite... vinte minutos de vento , temporal e chuva, seguidos de vinte minutos de sol e manga curta. Para minorar o lamaçal, largas placas dentadas de alumínio foram colocadas nas filas principais. O vento fustigando os stands, enervava ainda mais os normalmente plácidos britânicos. Alguns stands albergavam especialístas em diversas áreas de restauro, como chapeiros e casas dedicadas exclusivamente ao restauro de instrumentos , buzinas e faróis. Como não podia deixar de ser , os comerciantes de ferramentas atacaram em força, com literalmente tudo o que se pode precisar para restaurar um automóvel, desde jactos de areia a equipamento de soldadura automática, a armações para " deitar" as carroçarias...
Um placard de anúncios ia-se tornando pequeno com inúmeros particulares a quererem comprar e a vender.
No largo em frente à entrada, já não havia espaço para os cerca de duzentos automóveis em venda. Pudemos encontrar modelos para todas as bolsas e gostos. Curiosamente, penso que o mais barato em exposição, um Wolseley ferrugento sem inspecção ( MOT ), e sem seguro por cerca de 100 libras ( trinta contos), e um Rolls -Royce Silver Cloud I por 65 000 libras ( dezoito mil e setecentos contos ) estavam lado a lado. Mas haviam também um Corvette por £ 24 000, um Austin A30 impecável por £ 1500, varios MG A, B, Spitfires, Ford Thames, Austin -Healey 3000, Jaguares, Austin 7, ou Morris Eight e Ten, e um estranho e "assapateirado" Bentley MK VI...com motor Perkins Diesel, isto so para referir alguns.
Um barco e acessórios de 1920... ( Excepto o atrelado,of course..)
Forçado por uma carga de água que caíu sem aviso, refugiei-me na tenda dedicada aos manuais e pinturas de artistas tendo o automóvel como tema. Nesta tenda era possível adquirir os imprescindíveis manuais Haynes, bem como outras publicacções, e cópias de manuais de oficina . Belos quadros a óleo e a pastel decoravam os stands de pintura, muitos dos quais retratando a época da guerra, com Spitfires e Messerschmidts ( Estes normalmente em chamas , claro ) a sobrevoar insuspeitos clássicos em paisagens campestres.
Num canto recatado da feira, um autocarro convertido em centro de primeiros socorros , aguardava junto com uma ambulância , qualquer ocorrência, e as roulotes de comes e bebes iam facturando a olhos vistos. Não com a equipa da Sala das Máquinas, que desta vez levou umas sandochas numa mochila.
A feira estava quase a fechar, e os visitantes iam saindo ordeiramente não sem antes passarem por uma loja estratégicamente colocada à saída, com todo o merchandising relativo ao automóvel, onde gastavam o resto do seu dinheiro na última " dose" antes do regresso a casa. Anoitecendo cerca das dez horas, ainda era possível percorrer grande parte do caminho de volta com luz do dia. Deixo Beaulieu com a sensação de ter estado num local mágico, onde o automóvel convive com os humanos e com a natureza pelo menos durante um fim-de-semana de uma forma harmoniosa e sem embaraços. Beaulieu e sem dúvida um local a visitar ou a voltar... Quem sabe em Setembro...
Assistência técnica da Renault...Aposto que nunca avariou!
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