Friday, 17 October 2008

Falar sobre carros...


Falar sobre automóveis, não significa esfolhear revistas e discutir aos berros em conversas de café. Falar sobre automóveis, não é apenas despejar novidades sobre os salões automóveis, e o novo carro que há-de sair. Não vejo interesse em babar-me com um carro que ainda não existe, a rodar num carrossel alcatifado.

Essa quadrilha que devora revistas para decorar as cilindradas, prestam um mau serviço aos entusiastas apenas encarando um automóvel como um máquina de lavar. Se tem 100 cavalos, é melhor que o outro que tem 90. Pura imbecilidade.
Falar sobre automóveis, pode ser igualmente dissertar sobre uma máquina que em última análise nos pode unir pelas memórias: Todos conhecemos alguém que teve um Mini, ou um Carocha. Todos nós nos lembramos do carro velho que o nosso Pai teve, e que se estava sempre a avariar. Colados a essas lembranças, vêm á memória tempos que não voltam mais, e tempos que recordamos com saudade.

Falar sobre automóveis, é também avançar soluções acerca de como uma necessidade básica do ser humano continua por ser resolvida: O transporte individual. Sim, não existe até agora uma forma perfeita de locomoção individual: A moto, só tem duas rodas e nela apanhamos chuva. E não é lá uma hipótese muito saudável em caso de embate.O carro, é um desperdício de espaço só para ir para o trabalho, com uma pessoa lá dentro. Não existe portanto um meio para fazer transportar eficazmente uma pessoa. Este é o grande debate automóvel ...




Mais do que as cilindradas e as potências, um automóvel é um fenómeno cultural que apanha diagonalmente toda a sociedade. Ninguém fica indiferente ao automóvel, que conspurca opressivamente toda a paisagem citadina. Sim, posso dizer que detesto muitos dos automóveis que por aí circulam, principalmente porque foram desenvolvidos como máquinas de lavar, e não como modelos com personalidade.A indústria actual ,orfã da criatividade de outrora, e fortemente espartilhada por directivas ambientais, mais não pode fazer do que breves apontamentos nostálgicos,insistindo em reeditar os sucessos de outrora.O debate Automóvel, escrito com letra grande, é o debate acerca da mobilidade, sob qualquer que seja a sua forma. Falar sobre automóveis, é falar sobre a nossa preocupação e vontade em descobrir um meio eficaz de nos deslocarmos de A para B, e no processo adquirirmos alguma satisfação. Não faz sentido falar de automóveis, como quem fala do Space Shuttle. Tem de haver uma componente experimental e tactil . Senão , é como colocar os putos nos recreios da escola primária a falar sobre como desapertar Lingerie.


O automóvel, Para muitos um simbolo de posição social, e para outros uma mera forma de tentarem ser aceites socialmente, e terem tema de conversa nos cafés, é ainda para outros fonte de prazer cinético e um estímulo neuro-motor aos sentidos. Não me perguntem cilindradas e potencias deste ou daquele carro, que eu provavelmente não saberei. Perguntem-me antes o que sinto quando os guio e conserto, ou quando os devolvo à estrada passadas décadas de lá terem saído.E sobre a sua História muitas vezes de sangue,suor e lágrimas.Mesmo num Fiat Panda velho podemos ficar com um sorriso de orelha a orelha. Seja porque nos desenrascou de uma situação dificil, seja porque fomos para o campo da bola sacar uns piões... E isso não pode ser mau.

2 comments:

Anonymous said...

Belíssimo texto!

Os meus parabéns...

PS - Penso da mesma maneira, mas em relação às motos, a minha grande paixão!

Diogo MM said...

Não há duvida que o amigo Mike sabe da poda. O seu discurso não é vulgar por estes lados. Aposto que a alcateia de mentes pequeninas lhe dá bastante trabalho...

Continue. Carros não são só porcas e parafusos.Como o meu amigo costuma dizer...