Eu venho da época em que os boca-de-sapo ( BDS) eram carros assustadoramente desenvolvidos, e só a simples passagem de um pelo nosso campo da bola improvisado no meio da estrada era o suficiente para ficarmos a olhar para ele até desaparecer no horizonte." Cagrandapinta! Quando fôr grande, vou ter um!"
Entretanto fiz-me grande, e os BDS por qualquer motivo tornaram-se ainda mais escassos. Sempre que em determinados meios , eu proferia a palavra "BDS", imediatamente os engasgos de imperial e arrastar violento de cadeiras de esplanada surgiam, e os copos eram pousados de rompante nas mesas , demonstrando a gravidade da minha provocação.
" Boca de sapo? És mas é maluco! Aquilo é muitacomplicado!"
Mesmo assim, fui á procura de um. Não me saía da cabeça aquelas breves imagens de uma boleia que um director deu ao meu pai, e eu entrei pela primeira vez num boca de sapo. Aquele carro fazia-me sentir importante, porque eu conseguia finalmente chegar ao tejadilho sem ser em bico dos pés. Aquele espelho retrovisor em baixo, no tablier, fazia -o ganhar também pontos na categoria de " puto-friendly". O velocímetro tipo "bussula" é que me enervava, porque não conseguia ver " a quanto" é que o carro dava...
Anos mais tarde, sentei-me pela primeira vez aos comandos de um BDS, graças ao Saul ( Se não conhecem o Saul, perguntem ao calhas a alguém da Margem sul...é o tal que entrou com uma 125 dentro de um restaurante em Cacilhas...Mas dávamos grandes passeios de Kayaque no Tejo)que precisou de rebocar uma Dyane toda pôdre ( passo a redundância) e me veio pedir uma corda. Resultado: enquanto eu faltava ás aulas, ele dizia-me que "isso das equações é fácil", e arrancava o pára-choques á Dyane mesmo no meio de um movimentado cruzamento com um esticão. Era só caldeirada, com o Saúl! Dias depois, tinha um papel no vidro a pedir desculpas por ter caído um gato do quinto andar em cima do BDS!
Foi a última vez que guiei um BDS. A partir daí, raro era o evento onde aparecesse um BDS, e quando aparecia um num anúncio das revistas de clássicos, era a pedir a nossa casa em troca.
Hoje, felizmente,parece que existem alguns por aí, em boas mãos, e a fazer uns encontrozitos porreiros aqui e ali. Quis o destino que eu viesse para Inglaterra, onde os BDS são ainda mais raros que simpatizantes da Luftwaffe.
Quando o BDS apareceu, em 1959, estava avançado vinte anos para a época. Reparem que este carro surgiu quando os nossos amigos ingleses estavam ocupados com o Ford Anglia, e os motores de válvulas laterais ainda saíam montados nos carros novinhos dos stands. Em 1979, este carro ainda era um sério automóvel que granjeava respeito. Aquela suspensão elaborada, e aquele volante de um braço, e aqueles faróis que viravam diziam-nos permanentemente estarmos no domínio da ficção científica. Aquele andamento suspirante e de suave bambolear, embaláva-nos os sentidos , e por momentos lá fora, o presente era o futuro.O boca de sapo foi dos primeiros carros de série a incorporar injecção electrónica, num dos seus últimos modelos .
Nunca mais vi um boca-de sapo. Considero-os respeitáveis tentativas de empurrar o progresso violentamente, próprios de quem tem uma sede de descoberta e se fascina com a tecnologia. Uma atitude do género" Bolas, nós conseguimos fazer melhor! ".
Depois , a Citroen caiu numa fase negra, com modelos terminados em " X", que a levou para o fim da tabela em fiabilidade e qualidade. Lentamente, parece que está a recuperar, mas os estragos causados por modelos feitos de garrafas de água de plástico e colados com cuspo, vão demorar a cicatrizar.
Entretanto fiz-me grande, e os BDS por qualquer motivo tornaram-se ainda mais escassos. Sempre que em determinados meios , eu proferia a palavra "BDS", imediatamente os engasgos de imperial e arrastar violento de cadeiras de esplanada surgiam, e os copos eram pousados de rompante nas mesas , demonstrando a gravidade da minha provocação.
" Boca de sapo? És mas é maluco! Aquilo é muitacomplicado!"
Mesmo assim, fui á procura de um. Não me saía da cabeça aquelas breves imagens de uma boleia que um director deu ao meu pai, e eu entrei pela primeira vez num boca de sapo. Aquele carro fazia-me sentir importante, porque eu conseguia finalmente chegar ao tejadilho sem ser em bico dos pés. Aquele espelho retrovisor em baixo, no tablier, fazia -o ganhar também pontos na categoria de " puto-friendly". O velocímetro tipo "bussula" é que me enervava, porque não conseguia ver " a quanto" é que o carro dava...
Anos mais tarde, sentei-me pela primeira vez aos comandos de um BDS, graças ao Saul ( Se não conhecem o Saul, perguntem ao calhas a alguém da Margem sul...é o tal que entrou com uma 125 dentro de um restaurante em Cacilhas...Mas dávamos grandes passeios de Kayaque no Tejo)que precisou de rebocar uma Dyane toda pôdre ( passo a redundância) e me veio pedir uma corda. Resultado: enquanto eu faltava ás aulas, ele dizia-me que "isso das equações é fácil", e arrancava o pára-choques á Dyane mesmo no meio de um movimentado cruzamento com um esticão. Era só caldeirada, com o Saúl! Dias depois, tinha um papel no vidro a pedir desculpas por ter caído um gato do quinto andar em cima do BDS!
Foi a última vez que guiei um BDS. A partir daí, raro era o evento onde aparecesse um BDS, e quando aparecia um num anúncio das revistas de clássicos, era a pedir a nossa casa em troca.
Hoje, felizmente,parece que existem alguns por aí, em boas mãos, e a fazer uns encontrozitos porreiros aqui e ali. Quis o destino que eu viesse para Inglaterra, onde os BDS são ainda mais raros que simpatizantes da Luftwaffe.
Quando o BDS apareceu, em 1959, estava avançado vinte anos para a época. Reparem que este carro surgiu quando os nossos amigos ingleses estavam ocupados com o Ford Anglia, e os motores de válvulas laterais ainda saíam montados nos carros novinhos dos stands. Em 1979, este carro ainda era um sério automóvel que granjeava respeito. Aquela suspensão elaborada, e aquele volante de um braço, e aqueles faróis que viravam diziam-nos permanentemente estarmos no domínio da ficção científica. Aquele andamento suspirante e de suave bambolear, embaláva-nos os sentidos , e por momentos lá fora, o presente era o futuro.O boca de sapo foi dos primeiros carros de série a incorporar injecção electrónica, num dos seus últimos modelos .
Nunca mais vi um boca-de sapo. Considero-os respeitáveis tentativas de empurrar o progresso violentamente, próprios de quem tem uma sede de descoberta e se fascina com a tecnologia. Uma atitude do género" Bolas, nós conseguimos fazer melhor! ".
Depois , a Citroen caiu numa fase negra, com modelos terminados em " X", que a levou para o fim da tabela em fiabilidade e qualidade. Lentamente, parece que está a recuperar, mas os estragos causados por modelos feitos de garrafas de água de plástico e colados com cuspo, vão demorar a cicatrizar.
1 comment:
Sobre este artigo passo a sitar:
"Considero-os respeitáveis tentativas de empurrar o progresso violentamente, próprios de quem tem uma sede de descoberta e se fascina com a tecnologia. Uma atitude do género" Bolas, nós conseguimos fazer melhor! ".
Bolas! nem sei o que dizer....tá tudo dito.
Sou simpatizante da marca a já muitos anos e como o espaço na garagem não é muito tenho com orgulho um 2CV. Mas sei de um "BS" que está parado a muitos anos, que talvez ponha-me a fazer obras para aumentar a garagem.
Mais uma vez, parabéns pelo artigo!
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