Wednesday, 18 June 2008

Veste as calças...ESTÁS PRESO!



(Re-)veja o tema de abertura da popular série em
http://www.youtube.com/watch?v=UmUOee7fRRQ



Todos nós que nos anos oitenta acompanhámos os episódios de "Sweeney", desejámos ter um dia um Ford Granada. Mas de repente, assistimos a uma quantidade deles a irem "para o lixo".Não pode ser. Eis a história do carro utilizado pela brigada de crimes violentos e de assalto á mão armada...



Por Mike Silva

A série policial Sweeney, produzida pela Thames Television em 1978, retratava o dia-a-dia de uma brigada especializada em assaltos á mão armada e crime violento. Designada pelo calão de rua "Sweeney", pela semelhança do nome da brigada "Flying Squad", com "Sweeney Todd", uma figura da literatura inglesa do sec.XIX, que era um barbeiro serial killer.
Uma das linhas mais conhecidas da série, era quando os agentes Regan e Carter entravam de rompante em casa da malandragem e os surpreendiam na cama. " Veste as calças! Estás preso!"- ordenava Regan ao mesmo tempo que atirava as ditas para cima do meliante.




O Ford Granada, sempre foi considerado um monstro imóvel apodrecido por muitos de nós. Eu incluído. Para que raio quereria eu um Ford Granada , com aquele motor que parece que vai chupar os guarda-lamas de tanta fome. Todos os Ford Granada que se atravessavam no meu caminho, ou estavam a servir de estufa para gatos e ervas daninhas, ou estavam em cima do reboque da Câmara.
Entretanto, vim para Inglaterra onde o culto do Ford Granada atinge dimensões inimagináveis. E justifica-se.
O Ford Granada veio substituir o Zephir e o Zodiac, tendo sido começado a fabricar em Dezembro de 1971. Este modelo foi fabricado simultâneamente em Cologne na Alemanha, e em Dagenham, Wessex,Inglaterra. Dispunha de um motor 2.5 e de de um 3.0 V6. Desde 1973 que estes carros puderam contar com direcção assistida.
Estes carros, topo de gama da Ford , ofereciam performances espantosas para a época, e podiamos hipotéticamente percorrer a extensa auto-estrada até Aveiras de cima, sempre que os buracos permitissem, entre 150 e 180 Km/h.
Em 1974, a Ford tornou este modelo no primeiro Ford a ser "vestido" pelo "costureiro" Ghia de Turim, que fez a versão Ghia Coupe. Estecarro não teve muito sucesso porém, mas hoje é um clássico bastante cotado e procurado.

O Granada era uma versão mais requintada do Cônsul, e possuia mesmo vidros escurecidos e tecto de abrir. Os mostradores englobavam um completo leque de escolha, incluindo conta-rotações e relógio. Em 1975,surgiu um mais "económico" 2 litros, e a Ford deixou cair a designação de Cônsul,pasando a utilizar somente a de Granada, que por 1976 em plena crise petrolífera conseguia o feito de vender cerca de 850.000 exemplares .
Mais tarde, as seguintes versões do Granada incorporaram pela primeira vez o motor Diesel na marca, com um 2100 cc, e injecçao de combustível. De anopara ano a Ford aumentava os extras e a comodidade disponível, para colocar este carro entre os alvos apetecíveis das empresas e gestores. Com uma excelente relação preço qualidade, o Ford Granada oferecia mordomias que só carros muito mais dispendiosos ousavam oferecer.
Guiando um Ford Granada em Inglaterra
Devo demonstrar mais uma vez a minha profunda convicção de que um clássico ingles sai beneficiado por possuir um volante á direita. Contribui para a sua excusividade e exotismo, e para uma experiência muito mais rica e reveladora.
As vezes, fico pasmado por ouvir relatos de pessoas que adquirem clássicos ingleses e modificam-nos para terem volante do lado esquerdo! Já agora, porque não convertem os carochas para terem radiador de água, e os Boca-de -Sapo para manterem os faróis sempre a direito? Modificar um carro inglês por causa do volante, é o mesmo que pedir á Mariza que cante em Russo, se se deslocar em digressão a Vladivostok.
A direcção assistida coloca este carro imediatamente no clube dos carros práticos do dia-a-dia. O ponteiro a marcar um quarto de depósito, mostra que mantê-lo atestado é um exercício de pouca duração e deveras dispendioso. O interior avermelhado-acastanhado, coloca-nos de volta nos anos setenta, e demonstra uma certa "vassalagem " á opção de cores dos carros americanos.
Lindsay Copestake, o proprietário desta estimada carrinha que aqui apresentamos, é um aficionado da marca e membro do clube Granada de Inglaterra. Possui este carro há seis anos, tendo apenas efectuado pequenos restauros e manutenção em geral. Utiliza o carro para se deslocar regularmente a encontros por toda a Grã-Bretanha.
Arrancando como se estivesse a ser rebocado por uma locomotiva da CP, o Ford evolui sem esforço . Como se estivesse a ser largado de um penhasco. As consideráveis dimensões deste espaçoso familiar, e o modo como aborda as curvas como se estivesse sobre carris, faz-nos pensar se este carro não seria um bom companheiro de viagem. Pena o consumo, que se cifra nuns pouco saudáveis 12 Litros aos cem em cidade, não consiga combater com os excelentes Diesel que já há por aí por meia dúzia de tostões. Eu se pudesse escolher, optaria por este sofá sobre rodas como "Cruiser".
Uma vibração pouco simpática por baixo do caro, ecoa por todo o habitáculo, a baixa rotação.Mais uma desculpa para lhe "pisar o rabo".O Cortina MK III também tinha este problema. Algo a ver com a equilibragem do veio de transmissão. Mas nada que nos separe do feeling de estar aos comandos de um genuíno ícone dos anos setenta.De repente, a música de abertura da popular série que também passou em Portugal, soa nos meu pensamento, e sinto uma Smith and Weston debaixo do meu sovaco. Por momentos, parece que o elaborado tablier incorpora um rádio VHF ligado á Central da "Flying Squad". Por momentos somos os agentes " Mike and Copestake".

Com preocupações actuais de dificuldade de importação de automóveis clássicos do estrangeiro, se calhar era boa idéia olhar para estes tanques de guerra indestrutiveis com outros olhos.Quer dizer, pelo menos, aos poucos que ainda por aí deverão andar, desprezados.
A sua excelente e robusta mecânica á prova de bomba, se bem que poderá fazer juntar uns pontos nas bombas de combustível, não deixa ficar ninguém indiferente ao arrojo e á pujança deste veleiro do asfalto, capaz de frequentar encontros de clássicos em todo o país e estrangeiro, com a mesma facilidade que levamos um Citroen AX para dentro do parque do Colombo.
Estes carros tem sido desprezados pelos "especialistas",por isso eis uma hipótese para os "leigos " que não percebem nada disto terem um carro que um dia representou o que de melhor a Ford conseguia fazer. A disponibilidade de sobressalentes e especialistas em Inglaterra, clubes e publicações especializadas, aliadas a uma durabilidade de "antigamente", devem fazer de um Granada um companheiro de boa convivência por muitos e bons anos.
Já agora, em 2008, vai surgir a versão cinematográfica de "Sweeney". Esperemos que tenha o mesmo tema magnificamente escrito e interpretado por esse mago do Jazz, Harry South.

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